Desafios para a introdução de ônibus elétricos no Brasil
22, Fev. 2023
No âmbito financeiro, um dos principais desafios para a
implementação da eletromobilidade no transporte coletivo é o alto custo de
capital dos veículos e das infraestruturas necessárias
ARTIGO- GABRIEL PABST, VINICIUS JOSE BRAZ DA COSTA, PAULO MAURICIO SENRA E MARCELO MAESTRINI, DO GESEL/UFRJ-Equipe do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ
Fonte: Canal Energia
1. Introdução
Apesar da agenda da eletrificação dos transportes públicos
ter avançado em diversos países com diferentes realidades sociais e econômicas,
esta transição continua a representar um desafio no caso brasileiro. Portanto,
a análise das dificuldades associadas a este processo será o foco do presente
artigo, que busca categorizá-las e indicar caminhos para a sua solução, quando
possível.
No entanto, ainda que os desafios identificados sejam
complexos em sua formação, deve-se atentar para os benefícios associados à sua
superação. De acordo com os inventários nacionais de gases de efeito estufa, o
subsetor de transportes é o mais representativo em emissões do setor energia.
Assim, a superação dos obstáculos associados à transição energética desse
subsetor pode representar ganhos ambientais e sociais significativos à
sociedade brasileira.
2. Contextualização
Ainda que diversas iniciativas tenham sido tomadas pelos
municípios brasileiros no intuito de implementar ônibus elétricos em seu
território, essas experiências têm encontrado barreiras que limitam a sua
capacidade de ação. Em primeiro lugar, cita-se o estágio de desenvolvimento das
tecnologias envolvidas na execução desses projetos, predominantemente
financiadas e executadas por empresas internacionais, o que enseja em operações
elaboradas de câmbio, negociação de condições e logística de entrega.
Além dos aspectos tecnológicos ligados a P&D e logística
comercial, destaca-se que os custos de aquisição dos ônibus eletrificados são
mais elevados do que os de modelos convencionais. Este fator representa uma
barreira significativa para a adoção dos ônibus elétricos no curto prazo, ainda
que seus custos possam se reduzir no futuro.
3. Barreiras para Transição
Com a finalidade de compreender os fatores dificultadores das
experiências de eletrificação dos ônibus, o Ministério do Desenvolvimento
Nacional publicou recentemente o Guia de Eletromobilidade , que contém
orientações para a estruturação de projetos de transporte coletivo por ônibus.
No documento, os desafios para a eletrificação do transporte coletivo por
ônibus em três eixos são caracterizados como tecnológicos, financeiros e
institucionais, analisados a seguir.
3.1. Desafios Tecnológicos
De acordo com o Guia de Eletromobilidade, os desafios
tecnológicos estão vinculados principalmente à falta de informações para
subsidiar decisões e às limitações relacionadas aos veículos e às
infraestruturas de recarga, dentre os quais se destacam:
a. O desconhecimento das vantagens e desvantagens da
tecnologia e das informações necessárias para adotar modelos de operação
adequados aos ônibus elétricos;
b. As limitações de autonomia e desempenho dos veículos;
c. O restrito mercado de ônibus elétricos;
d. A escassez de informações sobre as características
operacionais e os requisitos de manutenção dos ônibus elétricos;
e. As limitações das estações de recarga e a falta de acesso
a terrenos para instalação dessas infraestruturas;
f. A instabilidade da rede de energia; e
g. A falta de padrões e regulações para a infraestrutura de
recarga.
Neste sentido, observa-se que os obstáculos verificados estão ligados à baixa quantidade de informações disponíveis para a tomada de decisões, em um cenário de incerteza caracterizado pelo risco financeiro associado aos investimentos em frotas de ônibus elétricos. Torna-se necessário, portanto, o desenvolvimento de uma agenda articulada de P&D voltada para a identificação das melhores rotas tecnológicas a serem adotadas, bem como a geração e capacitação de mão de obra especializada para a condução desta transição energética.
3.2. Desafios Financeiros
No âmbito financeiro, um dos principais desafios para a
implementação da eletromobilidade no transporte coletivo é o alto custo de
capital dos veículos e das infraestruturas necessárias. Neste sentido, a
principal barreira consiste em modificar o formato de avaliação dos custos nos
contratos, que geralmente utilizam análises de custo inicial que escondem as
economias geradas ao longo do projeto.
Deste modo, a realização de análises do Custo Total de
Propriedade (em sua sigla em inglês TCO – Total Cost of Ownership), que estima
os custos do ciclo de vida das tecnologias, pode viabilizar os projetos de
eletromobilidade, uma vez que o TCO dos ônibus elétricos é frequentemente
inferior ao observado nos modelos convencionais.
As questões relacionadas ao modelo de financiamento
consistem, portanto, em um desafio a ser superado. Devido aos altos custos
iniciais, há poucas instituições financeiras dispostas a realizar o
investimento necessário. Além disso, estudos recentes divulgados pela Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe apontam uma capacidade de
endividamento limitada dos municípios e das empresas operadoras de ônibus
associada às escassas linhas de financiamento atrativas para os modelos
elétricos, o que restringe a implementação da eletromobilidade no transporte
coletivo em larga escala.
3.3. Desafios Institucionais
Sob a ótica institucional, os órgãos públicos de transporte
enfrentam dificuldades para realizar as mudanças necessárias na estrutura de
compras, bem como nos modelos de remuneração e cálculo tarifário vigentes. A
maioria dos modelos não possibilita absorver os altos custos de aquisição dos
ônibus elétricos e os riscos inerentes à nova tecnologia. Assim, novos modelos
devem ser adotados, de forma a estimular a utilização de veículos sustentáveis.
Por fim, os desafios institucionais incluem a ausência de
políticas públicas facilitadoras e de planos específicos para orientar a adoção
de ônibus elétricos. De maneira geral, as cidades não apresentam legislações ou
planos estratégicos com metas e incentivos claros para estimular essa
transição. Deste modo, muitas iniciativas acabam sendo pontuais e isoladas.
Além disso, constata-se que a falta de autonomia e a fragilidade das estruturas
institucionais também podem configurar uma barreira para a eletromobilidade,
uma vez que grandes projetos necessitam de respaldo jurídico, técnico e
político para a sua execução.
4. Conclusão
Em síntese, as principais barreiras encontradas na
literatura ou em relatórios oficiais dos órgãos gestores responsáveis pela
eletromobilidade no transporte coletivo por ônibus apontam um alto volume de
recursos necessário para a implantação da política, dificuldades de obtenção de
financiamento para seu custeio e empecilhos nos modelos vigentes de contratação
pública que não favorecem a aquisição dos ônibus urbanos eletrificados.
No entanto, existem experiências exitosas aplicadas a
pequenas frações de frotas municipais, cujos ônibus utilizam a matriz elétrica
e fornecem dados de operação aos órgãos gestores que podem ser utilizados para
projetar a sua expansão a outras áreas da cidade. Adicionalmente, projetos
eminentemente voltados à pesquisa e desenvolvimento também se encontram em
etapa de elaboração e visam abater os custos de produção e manutenção dos
veículos elétricos.
A partir dos resultados identificados, avalia-se que
diversos fatores complicadores para a utilização em larga escala dos ônibus
elétricos no Brasil podem ser atenuados por políticas públicas de médio e longo
prazo. Em primeiro lugar, encontra-se o estágio inicial de desenvolvimento da
tecnologia, cuja redução de custos pode impactar na adesão de municípios
brasileiros com dotações orçamentárias mais restritivas. Em segundo lugar,
aponta-se a capacidade de aprendizado e adaptação da burocracia responsável
pela gestão do setor, cujo desenvolvimento de suas regulações e métodos seria
capaz de aprimorar o arcabouço de contratação sensível aos benefícios trazidos
pelos ônibus elétricos. Finalmente, estima-se que a opinião pública em relação
a um cenário de agravamento dos efeitos das mudanças climáticas exerça uma
pressão social sobre os agentes públicos, de modo a direcionar a formulação de políticas
progressivamente capazes de promover a transição energética dos ônibus urbanos.
Gabriel Pabst é Pesquisador associado do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL) e doutorando do PPE/COPPE/UFRJ. Vinicius Jose Braz da Costa é Pesquisador júnior do GESEL. Paulo Mauricio Senra é Pesquisador pleno do GESEL e doutor pelo PPE/COPPE/UFRJ. Marcelo Maestrini é Pesquisador pleno do GESEL e doutorando do PPGE/UFF.
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