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Reguladores de seguros alertam que forçar pagamentos pandêmicos cria instabilidade financeira

11, Mai. 2020

Reguladores de seguros alertam que forçar pagamentos pandêmicos cria instabilidade financeira

Grã-Bretanha, França e Estados Unidos analisam qual o papel que o Estado poderia desempenhar na cobertura da pandemia, embora isso só se aplique no futuro

Fonte: Reuters / Sonho Seguro

Forçar pagamentos retroativos para cobrir as perdas de interrupção dos negócios resultantes da pandemia de coronavírus pode colocar em risco a estabilidade financeira das seguradoras, disseram os reguladores globais de seguros, segundo informa a Reuters.

Disputas sobre cobertura para empresas que lutam para se manter à tona durante os bloqueios por coronavírus surgiram em países como Grã-Bretanha e Estados Unidos, onde oito estados adotaram leis que exigiriam que as seguradoras pagassem reclamações, principalmente para pequenas empresas, apesar de exclusões.

Nos casos em que os riscos de pandemia são cobertos por uma apólice, as seguradoras devem pagar tais reclamações de maneira rápida e eficiente, disse a International Association of Insurance Supervisors (Associação Internacional de Supervisores de Seguros / IAIS), advertindo contra iniciativas que buscam exigir que as seguradoras cubram retroativamente as perdas relacionadas ao Covid-19.

Tais iniciativas podem finalmente ameaçar a proteção dos segurados e a estabilidade financeira, agravando ainda mais os impactos financeiros e econômicos do Covid-19, disse a IAIS, que agrupa reguladores dos Estados Unidos, Europa e Ásia.

Um órgão global da indústria financeira, o Institute of International Finance (Instituto de Finanças Internacionais / IIF), também alertou que mudanças retroativas nas políticas podem levar a redução da disponibilidade de seguros, a saída de seguradoras de determinados mercados e a aumentos gerais no preço do seguro.

A Federation of European Risk Management Associations (Federação das Associações Europeias de Gerenciamento de Riscos) lançou uma força-tarefa para criar cobertura para interrupção de negócios devido para riscos catastróficos como a pandemia de coronavírus, dizendo que qualquer cobertura exigiria ajuda do governo.

Em seu comunicado, a IAIS disse que a pandemia destacava os limites para os tipos de cobertura que podem ser razoavelmente oferecidos pelo setor de seguros. A IAIS, portanto, incentiva os esforços em busca de possíveis soluções para proteger empresas e indivíduos contra esses tipos de risco, e está pronta para ajudar a facilitar essas discussões em nível internacional.

Disputas entre seguradoras e empresas na Grã-Bretanha sobre se as apólices oferecem cobertura válida para interrupção da pandemia de coronavírus levaram a Financial Conduct Authority Autoridade de Conduta Financeira / FCA) a pedir esclarecimentos aos tribunais.

Grã-Bretanha, França e Estados Unidos analisam qual o papel que o Estado poderia desempenhar na cobertura da pandemia, embora isso só se aplique no futuro.

UBS eleva em 50% estimativa de perdas do mercado segurador mundial

Incerteza quanto a obrigatoriedade de pagamentos de lucros cessantes pela pandemia, o que não está coberto na apólice empresarial, assusta a todos.

Fonte: Artemis / Sonho Seguro

Os analistas do banco de investimentos UBS elevaram em 50% a estimativa para a eventual perda da indústria de seguros e resseguros pela pandemia do Covid-19, para US$ 60 bilhões. O valor ainda está abaixo do limite máximo de outras estimativas, como dos analistas especializados em mercado de capitais e resseguros da Dowling & Partners. Segundo eles, a perda para a indústria em seguros gerais (ou Property and casuality / P&C) por reclamações relacionadas à pandemia podem variar de US$ 40 bilhões a US$ 80 bilhões.

Inicialmente, o UBS havia projetado perda para toda a indústria entre US$ 22 e US$ 42 bilhões. Agora, no entanto, os analistas entendem que as reclamações por interrupção de negócios serão mais um dos problemas para serem enfrentados fora dos Estados Unidos, o que os levou a aumentar as estimativas de perdas de US$ 5 bilhões a US$ 15 bilhões para US$ 7 bilhões e US$ 22 bilhões. Além disso, os analistas prognosticaram entre US$ 8 bilhões e US$ 16 bilhões em perdas de seguros de crédito, em grande parte recaindo nas empresas de resseguros.

O UBS havia se centrado na perda por lucro cessante fora dos EUA como fator chave para o aumento de sua estimativa. Isso porque há um entendimento de que existem regiões na Europa e em outros países onde a cobertura não está bem redigida e as exclusões são consideradas insuficientes, o que poderia gerar mais reclamações às seguradoras e, em última instância, ao capital de resseguro.

Os valores parecem razoáveis pelos seguradores. Para que o custo da indústria aumente muito mais do que esse número terá que acontecer algum tipo de esforço legal nos Estados Unidos para forçar o pagamento de interrupção de negócios em apólices de riscos de incêndio, que não prevê este tipo de cobertura. Se isso acontecer, o número da perda da indústria chegaria à marca de US$ 100 bilhões, sugerem algumas fontes. Mas isso continua sendo uma possibilidade extrema no momento.

O lado bom da crise

Por Antonio Penteado Mendonça, no Estadão

Diz o ditado que toda moeda tem dois lados. A regra se aplica à vida, mas na vida as possibilidades são maiores, é possível se ter vários lados, todos bons e verdadeiros. Mesmo sendo diferentes, estão todos certos, porque isso depende de quem vê, de onde está e como interpreta.

É assim que, em meio à tragédia, o coronavírus trouxe com a pandemia alguns pontos positivos. O primeiro é a redução da poluição. Não apenas no Brasil, em cidades como São Paulo, mas no mundo inteiro, em praticamente todas as cidades onde a qualidade do ar dependia das emissões dos veículos circulando por elas. Com o isolamento social adotado por quase todos os países, diminuiu a circulação de veículos. Com isso diminuiu a emissão de gases poluentes e, consequentemente, houve uma mudança significativa na qualidade do ar que respiramos.

Esta redução tem efeito extremamente positivo na saúde das pessoas. Com ar mais puro melhora a condição de oxigenação e diminui a quantidade de veneno ingerida pelos pulmões ao longo do dia. O resultado é que, se as novas taxas se mantiverem, deve acontecer uma redução importante nos totais de doenças respiratórias, alergias, doenças cardiovasculares, câncer de diferentes tipos e outras decorrentes do aumento da poluição.

Em outras palavras, estaremos assistindo ao aumento da expectativa de vida dos moradores das grandes cidades e melhorando os índices nacionais, até porque, atualmente, há muito mais moradores nas regiões urbanas do que nas regiões rurais. Isto leva a outro dado bom: pessoas com melhores condições de vida tendem a ser mais saudáveis e, portanto, com menores necessidades de assistência médico-hospitalar, o que leva à diminuição dos custos crescentes e insuportáveis da saúde pública.

O ar mais limpo tem outro aspecto economicamente importante. Com menos elementos agressivos na atmosfera haverá uma redução do desgaste de imóveis, máquinas, bens e equipamentos de todas as ordens. A pintura durará mais, os motores terão vida útil maior, diminuirá a corrosão dos mais diversos materiais, etc.

De outro lado, o isolamento social, ainda que no Brasil em patamares abaixo dos indicados pelos especialistas em saúde, que reduziu a quantidade de veículos trafegando por ruas e estradas, reduziu também, de maneira lógica, o número de acidentes de trânsito. Consequentemente, houve uma redução no número de vítimas fatais, de inválidos e de pessoas necessitando internação hospitalar ou tratamento nos prontos-socorros. Aí, as vantagens são de duas ordens, uma de curto prazo, representada pela possibilidade da destinação de um maior número de leitos para o combate ao coronavírus, e uma de longo prazo, pela redução de óbitos e invalidezes de todos os graus que desestruturam as famílias e têm alto custo para a Previdência Social.

Se até aqui as notícias são muito boas, elas ficam melhores ainda quando os paulistanos verificam que está acontecendo a redução do número de crimes contra o patrimônio. De acordo com a polícia, que, diga-se, tem estado presente na cidade, há uma nítida diminuição de roubos e furtos de imóveis e veículos. E como as ruas estão mais vazias, há também a redução de roubos e furtos de celulares e do ataque contra pessoas.

Finalmente, mas não menos importante, a diminuição da poluição está criando cenários de sonhos nos fins de tarde. A cor do céu de outono sempre foi a mais bela das quatro estações. Sua profundidade e maior transparência, mesmo com a forte poluição que estreitava os horizontes, fazia a diferença. Agora, com o ar limpo, os pores do sol se transformam em verdadeiras obras primas, como se o Criador quisesse mostrar que os maiores pintores, os mestres das cores e das formas, não passam de alunos de maternal perto das maravilhas que a natureza expõe diariamente nos céus de São Paulo.

Pena que estas notícias boas não consigam contrabalançar o tamanho da tragédia representada pela pandemia do coronavírus. Os milhares de mortes e a recessão cobrarão seu preço da sociedade e das seguradoras ainda por um bom tempo.

Contratação de seguro para milho salta no País

O Estadão destaca que os preços remuneradores do milho e a incerteza econômica em meio à pandemia do novo coronavírus impulsionam a contratação de seguro agrícola para a segunda safra do cereal, cultivada após a colheita de verão. Capitalizado, o produtor investiu na lavoura, sem perder o foco nos riscos que a cultura suscetível aos meses de frio pode sofrer. Saímos de uma safra com a saca de 60 kg de milho negociada a R$ 32 e entramos neste ciclo com a saca a R$ 44. Isso foi decisivo, avalia Everton Todescatto, gerente comercial de Agronegócios da Sancor Seguros.

A empresa estima incremento de 10% nas vendas da modalidade que prevê reembolso por quebras na produtividade. Já foram contratados R$ 38 milhões em apólices com cobertura de 150 mil hectares. Na Tokio Marine, o montante referente ao milho safrinha chega a R$ 80 milhões, R$ 60 milhões a mais que no ano passado. Já a Mapfre Seguros estima crescimento de 10% a 15% na contratação. No caso da BrasilSeg, empresa da BB Seguros, o crescimento de 75% a 80% no seguro rural foi puxado pelo cereal de inverno, com 11.962 apólices e 1,8 milhão de hectares cobertos.

Joaquim Neto, superintendente de Produtos Agro da Tokio Marine, considera que perdas causadas pelo clima na safrinha de 2019 e na safra de verão deste ano contribuíram para aumentar o interesse do agricultor. Isso acaba sendo uma lembrança da importância de mitigar riscos e impedir perdas. A percepção de risco do produtor também foi aguçada pela menor janela de plantio para o cereal, que o torna mais vulnerável às intempéries, diz Catia Rucco Rivelles, superintendente de Seguros Agrícolas da Mapfre. Após a pandemia, ele quer proteger mais sua principal fonte de renda.

O produtor também está mais preocupado em maximizar a rentabilidade de suas lavouras, observa Paulo Hora, superintendente de Seguros Rurais da BrasilSeg. No primeiro ano de oferta para a safrinha, o seguro faturamento da empresa, que restitui perdas por quebras climáticas ou queda de preços, já alcançou 2.570 apólices vendidas, com cobertura de 360 mil hectares. A oscilação do preço das commodities e o câmbio volátil influenciam na procura do agricultor por este tipo de seguro, comenta Hora.

Diante de relatos recorrentes sobre a maior procura de agricultores pela recuperação judicial, Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), pede apoio à contratação de seguros. Para ele, faltam políticas de estímulo, o que reduziria a necessidade de recuperação. Enquanto produtores financiados por bancos oficiais adquirem cobertura, diz, o mesmo não ocorre quando o crédito vem de tradings ou agroquímicas. Ele propõe que nas operações de barter (troca de insumos por produto entregue na colheita) seja incluso valor extra que cubra o seguro.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, concorda com a importância de o produtor fazer seguro, mas diz que a tarefa não cabe às tradings. Seguro é questão de mercado com seguradoras, produtores, e eventualmente com o governo, de ter um programa com subsídio mais amplo. Nós (tradings) nunca colocaremos seguro como condição (para dar crédito), diz. A onda de produtores em recuperação pode se refletir em juros mais altos cobrados pelas empresas, alerta. Com a Selic caindo, isso deveria reduzir o custo do crédito. Mas, se na carteira há produtores em recuperação, dilui esse risco para todo o resto.

Suhai atende nicho de veículo que grande seguradora despreza

Especializada em seguro para veículos acima de dez anos, a Suhai tem carteira com 300 mil clientes e oferece seguros compactos, só para roubo e furto, o que permite preço inferior ao de companhias que só oferecem cobertura total que inclui, por exemplo, perda parcial, explica Robson Tricarico, executivo da empresa, em entrevista ao Estadão. Essa estratégia tem atraído entregadores e motoristas de serviços de aplicativos que tiveram demanda ampliada com a epidemia da covid-19.

A principal empresa da nossa holding é líder em segurança pessoal. Em virtude dessa expertise decidiu abrir uma seguradora voltada ao segmento de veículos com propósito de inverter índices como o de que 98% das motos circulam pelo País sem proteção, assim como 70% dos carros e 85% dos caminhões. Oferecemos um seguro compacto, com cobertura que inclui só furto e roubo. Outras coberturas são opcionais.

Qual a vantagem desse seguro?

Quando se tira, por exemplo, cobertura de perda parcial (para consertos) há redução do valor e camadas da sociedade conseguem proteger seus veículos por valor acessível. Além disso o alto índice de recuperação também reduz os preços.

Como faz a seguradora tradicional?

No fundo são empresas de estatística que medem o risco pelo perfil do cliente. Quanto maior o risco, maior o valor do seguro. Também temos estatísticas para compor o preço, mas como recuperamos mais do que outras companhias, nossa perda é menor e isso é repassado ao preço. Assim, conseguimos atrair clientes com perfis considerados de alto risco que muitas seguradoras não aceitam ou cobram preços abusivos.

A Suhai é única a atuar nesse nicho?

Todas as seguradoras têm produto que cobre só furto e roubo, mas normalmente focam naqueles com cobertura total e atuam também com seguro de casas, vida, etc. Nós focamos em um único tipo de seguro e aceitamos qualquer veículo para qualquer perfil de utilização.

Como faz para obter alto índice de recuperação?

Temos um centro de inteligência estratégico com mapeamento de dados da sinistralidade que facilita a recuperação.

Houve queda de vendas por causa do coronavírus?

No início sim, mas temos conseguido êxito nas vendas para pessoas que trabalham na rua, como entregadores e motoristas de aplicativos que tiveram o trabalho aumentado e estão mais expostos a riscos.

Interior de SP já teme sobrecarga hospitalar

O Estadão relata que, com mais de 12 internações e 4 mortes por hora no Estado, a interiorização acelerada de casos da covid-19 em São Paulo colocou em alerta autoridades e profissionais de saúde, que não descartam colapso geral da rede de atendimento hospitalar, com a possibilidade de um pico da doença e a aproximação do inverno. Das 645 cidades paulistas, 412 já têm pelo menos um caso confirmado, e há um ou mais óbitos em 177 municípios.

Entre os dias 3 de abril e 1.º de maio, o Estado registrou crescimento de 2.532% nos contaminados no interior, enquanto na região metropolitana o avanço foi de 625%. Ao menos 90 cidades paulistas com até 10 mil habitantes tinham casos positivos de coronavírus até sábado. Dessas, 26 têm menos do que 5 mil habitantes. Em 11 pequenas cidades já houve ao menos uma morte pela covid-19. Nenhuma dispõe de leitos de UTI. De acordo com o pesquisador Raul Borges Guimarães, especialista em geografia da saúde da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a covid-19 pode intensificar o fluxo das pequenas cidades para os centros maiores, causando excesso de demanda.

O Estado é o epicentro de casos de contaminação pelo coronavírus no Brasil, com 3.709 mortes (101 relatadas no último balanço diário) e 45.444 infectados. Levantamento que integra o Plano de Contingenciamento do Estado de São Paulo, feito há duas semanas, sobre hospitais e quantidade de leitos (clínicos e de UTI), existentes e previstos para ampliação para receber os pacientes com covid-19, mostra que havia 5.676 vagas de UTI (adultos e pediatria) para as 645 cidades paulistas. Desse total, 3.144 eram na capital e nas cidades da Grande São Paulo e 2.532 leitos nas cidades do interior e do litoral.

Hoje, são mais de 9,8 mil pacientes internados em SP, sendo 3.909 em UTI e 5.938 em enfermaria. A taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para atendimento da covid-19 é de 67,9% no Estado de São Paulo e 83,3% na Grande São Paulo.

Com 52% da população do Estado, o interior e o litoral paulista tiveram até aqui um cenário distinto do vivido na região metropolitana, onde estavam concentrados até a semana passada 85% dos casos de covid-19. Possível reflexo das medidas de isolamento social iniciadas em março. Mas esse cenário, de aparente tranquilidade, tem mudado e rápido. A taxa de concentração de novos casos da covid-19 no Estado em cidades fora da Grande São Paulo subiu de 15% para 32% na semana passada.

No dia 17 de março, fim da primeira semana da pandemia, São Paulo tinha 164 casos no Estado e 1 morte, com casos concentrados na Grande São Paulo. Dia 30 de abril, esse número já era de 28.698 casos e 2.735 mortes, com registros espalhados para todas as regiões. Se antes os relatos eram de 7 cidades com registro do primeiro caso a cada três dias, agora são 38 municípios registrando a chegada da doença a cada três dias.

O Secretário de Desenvolvimento Regional do Estado, Marco Vinholi, alertou sobre os riscos dessa interiorização da doença. Se a curva de crescimento for mantida, até o fim de maio todas as 645 cidades paulistas terão registros. Não existe nenhuma região protegida. Nesse momento, a onda epidêmica está se distribuindo, afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã.

Sobrecarga.

A taxa de ocupação de leitos de UTI para a covid-19 no interior e no litoral também tem crescido mais rápido. Na sexta-feira, havia 3.474 internados com coronavírus nas unidades de terapia intensiva do Estado, taxa de ocupação de 70,5%. Um dia antes, a taxa estadual de ocupação desses leitos era de 66,9%. Já a taxa de ocupação dos leitos UTI na capital e cidades do entorno manteve-se em 89,6% nos dois dias.

Segundo o presidente do Conselho dos Secretários Municipais da Saúde de São Paulo, Geraldo Reple, que integra o Centro de Contingência do Coronavírus do Estado, na semana passada foi atingida outra marca negativa no Estado: em um único dia foram internadas 1 mil pessoas com a covid-19, enquanto 600 tiveram alta. Se essa proporção continuar ou até crescer, que é o que parece que vai acontecer, nós estaremos em uma fase extremamente complicada, afirmou. Todas as cidades têm plano de contingenciamento, mas muitas não estão preparadas. Muitos municípios não têm leito de UTI. Provavelmente, muitos não têm nem leito de estabilização.

Frio.

O inverno e a chegada do frio, como ocorreu semana passada, é outro agravante que preocupa profissionais de saúde no Estado. Nesse período, historicamente a quantidade de doentes com problemas respiratórios aumenta na rede hospitalar e a capacidade de atendimento nos hospitais beira o limite, como destaca o médico pneumologista e intensivista Luiz Cláudio Martins, que é professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Esse aumento é certo, vai ocorrer. E com a covid-19 é óbvio que vai sobrecarregar ainda mais a rede. Martins conta que no HC da Unicamp os registros de crianças com a covid-19 internadas ainda são baixos, mas nas enfermarias de pediatria há lotação de casos de doenças respiratórias, em decorrência do frio. É muito preocupante.

Isolamento.

O crescimento de novos casos da covid-19 tem sido mais acelerado nos últimos dias no interior e no litoral do que na Grande São Paulo. A taxa de isolamento social no Estado foi de 47% nos últimos dias, bem abaixo do esperado 70%. Isso levou o governador João Dória (PSDB) a prorrogar a quarentena até o fim do mês, apesar da pressão de diversas cidades por flexibilização.

Para o especialista em geografia da saúde e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Raul Guimarães, o avanço acelerado da doença no interior e no litoral está diretamente relacionado ao relaxamento da quarentena. O risco de faltar capacidade de atendimento hospitalar para os casos mais graves é grande. O médico pneumologista e professor da Unicamp, Luiz Cláudio Martins, concorda e afirma que a flexibilização da quarentena neste momento seria algo temerário, que precisa ser tratado com muito cuidado. Não podemos menosprezar uma doença que, em um dia, matou mais de 700 pessoas. O distanciamento é vital neste momento.

Uma guerra pelos leitos privados
O Dia informa que o Ministério Público Federal enviou uma recomendação para que o Ministério da Saúde apresente informações sobre a taxa de ocupação de leitos e quantidade de respiradores na rede privada. Isso porque, com base nesses dados, o ministério deverá regulamentar a requisição de leitos particulares pelos gestores públicos, com a definição de critérios para avaliar a necessidade dos pedidos, bem como as regras de custeio e de acesso às vagas.
Segundo Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), que representa parte dos hospitais particulares do Rio, como o Barra DOr e o Hospital São Vicente de Paulo, a taxa de ocupação na rede particular chegou a 90% na semana passada, dados da última atualização.
Segundo o MPF, a requisição de bens e serviços da saúde privada, em uma situação de pandemia como a atual, está prevista na Constituição e nas Leis 8.080/90 e 13.979/20, além de ter sido recomendada pelo Conselho Nacional de Saúde.
O MPF lembra que, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o Ministério da Saúde, 75,75% dos brasileiros não têm acesso a plano de saúde, enquanto metade dos leitos de UTIs do país pertencem a estabelecimentos particulares (cerca de 15 mil). A ANS afirmou que ainda aguarda informações das operadoras de planos de saúde.
A recomendação é que, no prazo de 5 dias, o Ministério da Saúde altere a portaria nº 758 para que o registro de internações de casos suspeitos e confirmados de covid-19 passe a ser obrigatório nos estabelecimentos públicos e privados, independentemente da ligação com o SUS.
Segundo o painel do Ministério da Saúde, o número de leitos de UTI para adultos que não são do SUS, no Estado do Rio, é de 2.761 vagas, número obtido até o dia 6 deste mês.
Em reportagem da revista Exame, o Conselho Nacional de Justiça recomenda que UTIs privadas sejam usadas contra a covid-19 para desafogar os sistemas públicos de Saúde. O CNJ aconselha que seja criado um gabinete específico de crise, formado por órgãos de controle da Administração Pública, para que a regulação dos leitos fique centralizada nos estados, e não apenas nos municípios.
Brasil passa de 10 mil mortes e cientistas pedem bloqueio total
O Brasil ultrapassou ontem a marca de 10 mil mortos, relata o Estadão. De acordo com boletim do Ministério da Saúde, o País tem 10.627 vítimas. E 155.939 casos confirmados. Em 24 horas, o registro de óbitos oficial foi de 730. Para os especialistas, ao lado da chegada ao limite dos leitos no sistema de saúde e da falha no oferecimento de testes, trata-se da nação que menos testa entre os oito países com mais casos, é o indicativo para ampliar as restrições, sobretudo usando lockdown (bloqueio total), como ocorre, por exemplo, em São Luís, no Maranhão.
O País já está entre as nações com maior número de mortes pela doença, ficando atrás de Estados Unidos (77.344), ainda epicentro mundial, Reino Unido (31.662), Itália (30.201), Espanha (26.299) e França (26.233), esses últimos países europeus castigados pelo vírus. Isso considerando os dados compilados pela Universidade John Hopkins. O Brasil já havia ultrapassado a China, marco zero da covid-19, dia 28 de abril.
Já em número de casos confirmados, ainda de acordo com John Hopkins, o Brasil está na oitava posição, atrás de EUA (1.286.833), Espanha (222.857), Itália (217.185), Reino Unido (212.629), Rússia (198.675), França (176.202) e Alemanha (170.643). O dado oficial apontava ontem 155.939 infecções, ante 145.238 na véspera.
Ao longo da semana, o Brasil veio batendo recordes de registros de mortes em 24 horas. Na sexta-feira, foram 751. Diante desse cenário, especialistas afirmam que o lockdown é uma medida necessária para evitar uma explosão ainda maior de casos em capitais e regiões metropolitanas.

Vários Estados têm a demanda dos serviços de saúde no limite e tudo indica que teremos um forte aumento de casos e de óbitos nas próximas semanas. Este cenário indica a necessidade de que as autoridades indiquem o lockdown, medida que deve ser associada a ações de apoio a populações socialmente vulneráveis, diz o epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Luciana Costa, diretora adjunta do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai além sobre a possibilidade de eficácia do bloqueio total. O lockdown é a única solução neste momento que pode ter alguma eficácia para controlar a curva epidêmica, que está indo para o descontrole. As medidas de isolamento social não tiveram adesão da população como deveriam. Isso foi consequência de informações truncadas e mensagens opostas enviadas por prefeitos e governadores e o presidente da República, diz.
A epidemia pode se expandir rapidamente diante de mais aglomerações e atividades. Se não for feito nada que interrompa as novas transmissões, o Brasil pode se tornar o novo epicentro da pandemia, juntamente com os Estados Unidos, defende a especialista do Laboratório de Genética e Imunologia das Infecções Virais.
A medida de quarentena compulsória, em que ficar em casa é uma obrigação e não uma recomendação, já foi adotada pelo governo do Pará na capital, Belém, e em outras grandes cidades do Estado desde terça. No Nordeste, Maranhão e Ceará decretaram medidas similares.
Lição de casa. O momento atual se tornou preocupante na opinião dos pesquisadores porque o Brasil não fez a lição de casa. O virologista Flávio Guimarães da Fonseca, que atua no Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas), afirma que o Brasil desperdiçou a oportunidade de observar a evolução da pandemia em outros países, como Itália, Espanha e Reino Unido, que começaram a sofrer antes os efeitos da pandemia. A realidade de outros países, até os ocidentais, poderia ser utilizada como modelo para preparar a população. Isso não foi feito de uma forma uniforme em todo o Brasil, diz o pesquisador do Departamento de
Microbiologia da UFMG.
No início do mês de março, a Itália, por exemplo, era o país mais afetado da Europa pela covid-19. Lá, a primeira morte foi confirmada no dia 21 de fevereiro. Quase cinco semanas depois, o país já ultrapassava as 10 mil vítimas. A Itália demorou para responder à emergência e registra mais de 30 mil mortes.
Rafaela Rosa-Ribeiro, doutora em biologia celular e estrutural, que trabalha atualmente com um grupo de virologistas no Ospedale San Raffaele em Milão, afirma que está assistindo ao mesmo filme pela segunda vez. O primeiro foi em solo italiano; o segundo, no Brasil. Parece um filme que está se repetindo com um roteiro diferente. A Itália subestimou a doença de certa forma, não por maldade, mas por ignorância. Fomos o primeiro país atingido fora da China. Depois, o país chegou a ser elogiado pelas medidas rápidas. No dia 11 de março já estava tudo fechado, com exceção de farmácias e supermercados. Foram dois meses de Lockdown, diz a cientista brasileira. Tenho família no Brasil e estou preocupada. As pessoas não estão conseguindo entender a gravidade da doença. Na Itália, os cientistas foram ouvidos, diz.
Entendo que o Brasil é um país muito diferente dos países europeus. É mais complicado tomar medidas drásticas, por causa da quantidade de pessoas, condições sanitárias e econômicas. Mas muita gente que pode ficar em casa e empresas que poderiam deixar funcionários em home office não estão pensando na doença.
O infectologista Antonio Bandeira, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências Uniftc, lembra que o Brasil também não se preparou em relação à realização de testes. O especialista afirma que o Brasil fez 340 mil testes enquanto o número nos Estados Unidos é de 2 milhões. Dos oito países com maior quantidade de casos, o Brasil é o que menos testa. De acordo com o número de testes por 1 mil habitantes, apresentados nesta sexta-feira pelo Observatório Covid-BR, os Estados Unidos registram a média de 24,4, a Espanha, de 28,9, a Itália, 38,3, a Alemanha, 32,8. O índice no Brasil é de apenas 1,4.

Os testes moleculares (PCR) precisam ser expandidos. Isso é fundamental. O teste permite captar o número de pacientes, ajudar no planejamento de saúde e reduzir a subnotificação. Com o teste, é possível definir o isolamento domiciliar para que a pessoa infectada não contamine outros pacientes, explica ele.
Por causa da falta de testes, Jean Pierre Schatzmann Peron, pesquisador líder da Plataforma Pasteur/ USP, que desenvolve estudos com foco em anticorpos e imunopatogênese, calcula que o número de contaminados seja de três a cinco vezes maior no País. A gente não consegue testar todo mundo, resume.
Alexandre Cunha, infectologista do Grupo Sabin e vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, afirma que a principal preocupação tem de ser com a velocidade de propagação da doença e não necessariamente com os números absolutos.
Nos países onde se conseguiu manejar a epidemia sem sobrecarga do sistema de saúde, a mortalidade foi a esperada. Nos países com situação hospitalar razoável, mas onde o sistema de saúde entrou em colapso, a mortalidade foi várias vezes maior do que em países onde o sistema suportou, argumenta.

Nossa grande preocupação é a velocidade com que esses casos e a capacidade de absorção do sistema de saúde. No Brasil, a situação tem de ser analisada em cada município. O que é bom para uma região pode não ser boa para outra. Cada município vai atingir o pico em momentos diferentes, diferencia.

Canais de distribuição

Por Antonio Penteado Mendonça, no site do Sindseg SP

Faz pouco tempo, publicaram uma pesquisa analisando o desempenho das startups do setor de seguros. Nos últimos três anos, estas empresas apresentaram o significativo crescimento de 50%. O dado interessante é que 60% delas atuam na área de suporte, ou seja, são parceiras das seguradoras, oferecendo serviços e produtos para o backoffice das companhias, enquanto apenas 30% se dedicam à distribuição de produtos, sejam próprios, sejam das seguradoras tradicionais.

Pouco antes da pandemia do coronavírus explodir no país, a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) criou um sandbox para encubar empresas com potencial de desenvolvimento importante para o setor, garantindo-lhes condições diferenciadas para se consolidarem no mercado, durante um prazo determinado, no qual elas podem atuar com menos capital e reservas diferenciadas.

Além disto, o Governo incluiu na Medida Provisória 905 a revogação da lei dos corretores de seguros, bem como extinguiu a profissão, como desenhada ao longo dos últimos 50 anos da história nacional. A Medida Provisória 905 não deu em nada, então voltou tudo a ser como era antes e o corretor de seguros segue em frente, como o maior canal de distribuição de seguros do país.

Ainda é cedo para determinar qual será o impacto da pandemia do coronavírus no setor de seguros e mais cedo ainda para se ter uma ideia de como se comportará a distribuição dos seguros depois da pandemia.

Todavia, dentro do novo cenário, seja ele qual for, haverá a consolidação de outros canais de distribuição que já vinham ocupando espaço antes da covid19 tomar o Brasil de assalto.

São canais com potencial de distribuição de determinados produtos que, por uma série de razões, não se adequam à venda feita pelo corretor de seguros. Uma parte visa a população de baixa renda. Então são produtos cujo preço unitário não permite a inclusão de uma comissão de corretagem em patamar que viabilize a atuação de um corretor de seguros. O prêmio é muito baixo, assim, a comissão gerada pelo negócio não pagaria sequer a visita ao público alvo.

Estes seguros, ou pelo menos parte deles, encontraram canais mais eficientes nas grandes cadeias de lojas e no comércio varejista em geral, além das agências de bancos, onde os empréstimos populares são feitos e, consequentemente, segurados.

Outros vão encontrando seu caminho através da internet, que, apesar de ainda não ter deslanchado na comercialização de produtos de seguros, aos poucos vai ocupando espaço, numa tendência irreversível, fruto do uso maciço dos telefones celulares cada vez para mais atividades.

Com pandemia ou sem pandemia, o uso crescente dos celulares deve ganhar impulso de peso com a entrada em cena das redes 5G, que prometem mais uma revolução radical na forma de vida das pessoas e no uso das ferramentas colocadas à disposição delas.

Se as pessoas compram, atualmente, cada vez mais produtos e serviços oferecidos pela internet, por que os seguros ficariam de fora? Não faz sentido, ainda mais quando existe toda uma gama de apólices e bilhetes que não necessitam a assessoria de um corretor, tanto que, em vários países, são vendidos há décadas através de máquinas instaladas em pontos estratégicos, como os aeroportos.

Não há porque seguros de acidentes pessoais e seguros viagem não serem adquiridos através da internet. São bilhetes com clausulados muitos simples e de fácil compreensão, que não oferecem maiores dificuldades ao segurado, tanto na contratação, como no uso em caso de sinistro.

Além disso, vários países do mundo têm o corretor e o agente de seguros. Aqui também, não há razão para o Brasil não compartilhar este desenho. E há a venda direta pela seguradora, desenho previsto no Decreto-lei 73/66, que é a lei que regulamenta o setor de seguros privado brasileiro, adotada por um grande número de seguradoras com atuação em diferentes cenários internacionais.

A entrada em cena desses novos canais não significa o fim do corretor de seguros e muito menos que eles serão colocados no corner por um setor cruel, disposto a acabar com eles. Ao contrário, com a competição, serão possíveis a comparação e o realce das vantagens de se ter um corretor de seguros. Com certeza os corretores profissionais saberão tirar vantagem disto e faturarão bem mais do que recebem hoje. 

Produção de carros cai 99,3% em abril, pior número desde 1957

O Estadão informa que a pandemia do coronavírus, que forçou o fechamento de todas as fábricas de veículos do País, levou o setor a registrar em abril seu pior desempenho em produção em 63 anos, quando o dado começou a ser divulgado. Saíram das linhas de montagem apenas 1,8 mil unidades, volume que, em épocas normais, é muito próximo do que a Fiat produz em um dia na fábrica de Betim (MG).

O dado de abril representa queda de 99% em relação ao mesmo mês de 2019 e também ante março passado. Nem em períodos de greve ou de outras crises tivemos uma produção tão baixa, diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes.

No acumulado dos quatro primeiros meses do ano foram produzidos 587,7 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, 39% menos na comparação com igual período de 2019. A exportação também teve o pior resultado das últimas duas décadas, com o embarque de 96,2 mil veículos, queda de 31% ante o primeiro quadrimestre do ano passado.

Mesmo com produção tão baixa, fábricas e revendas ainda têm 128 mil carros em estoques, suficientes para quatro meses de vendas de acordo com a atual média diária de negócios. As fabricantes estão apelando para promoções como pagamento da primeira parcela do financiamento só em janeiro de 2021 ou venda a preços de fábrica.

As vendas de veículos novos somaram 55,7 mil unidades, número 76% inferior ao de um ano atrás. No acumulado, os 613,8 mil veículos vendidos estão 27% abaixo do resultado de 2019. Só no Estado de São Paulo, que normalmente fica com 25% do total das vendas no País, a queda foi de quase 100%, de 58,7 mil unidades em abril do ano passado para 551 neste ano.

O segmento de carros usados reduziu as vendas em 84%, de 946 mil unidades em janeiro para 153 mil no mês passado. Moraes ressalta que, assim como as fábricas, a maioria das concessionárias está fechada. Várias marcas estão reforçando as vendas pela internet e entregando carros na casa do cliente.

Instabilidade política. A alta cambial é outro problema para as montadoras. Na opinião de Moraes, grande parte da desvalorização exagerada não é por problema econômico, mas político. Agentes que deveriam estar trabalhando de forma coordenada para reduzir a crise estão prejudicando ainda mais a situação. Segundo ele, há políticos que ainda não perceberam a gravidade dessa crise.

O executivo faz um apelo aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para que trabalhem em conjunto para que o País tenha um achatamento da curva das contaminações pelo coronavírus e, assim, poder ajudar na retomada econômica. Todo dia tem uma crise de manhã, de tarde e de noite, critica ele.

A instabilidade política pode inclusive prejudicar a manutenção de empregos. A maioria das empresas fez acordos de redução de jornada e salários com manutenção de empregos por cerca de três meses, mas, passado esse período, é difícil falar em garantias, diz Moraes. Vai depender da gestão correta da crise para achatar a curva da recessão. As montadoras empregam hoje 125,3 mil trabalhadores, 4,9 mil a menos que há um ano.

A Anfavea tem negociado com o governo há 40 dias uma linha de financiamento para ajudar as empresas da cadeia automotiva que, segundo a entidade, estão sem liquidez de caixa e com dificuldades financeiras.

O setor propõe dar como garantia de empréstimos os R$ 25 bilhões em crédito de tributos federais e estaduais que deveriam ter sido devolvidos às empresas, mas seguem nos cofres dos governos. Não estamos pedindo nenhum subsídio, afirma Moraes. Ainda não há retorno por parte do Ministério da Economia. Bancos privados que participam das discussões queriam que as matrizes das empresas assumissem as garantias. Montadoras, autopeças e revendas precisam de R$ 40 a R$ 45 bilhões em capital de giro.

Lotação de UTIs a 85% deve levar a bloqueio total, dizem especialistas

O Estadão relata que regiões em que as UTIs já estão com 85% a 90% de sua capacidade preenchidas, como São Paulo e Rio, já deveriam ter decretado lockdown (bloqueio total) e agora correm o risco de ver seus sistemas de saúde entrarem em colapso nos próximos dias. Essa é a opinião de especialistas em saúde ouvidos pelo jornal sobre a demora de governadores em adotar medidas mais drásticas de isolamento social.

Eles afirmam que mesmo Estados que adotarem agora o isolamento radical ainda têm chances de sofrer com a falta de leitos, já que são necessárias pelo menos duas semanas para observar os efeitos da medida.

Segundo Ederlon Rezende, membro do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, quando uma UTI chega a uma lotação de 85%, ela já é considerada cheia pois a rotatividade dos pacientes é menor e o cenário pode mudar a qualquer instante. Esse índice é problemático porque, dependendo do tamanho da UTI, se chegar dois ou três pacientes, ela já lota e você começa a ter problema de falta de vagas, explica ele.

O especialista relata que no Hospital do Servidor Estadual, onde chefia a UTI, o número de leitos de terapia intensiva dobrou por causa da pandemia e, mesmo com a ampliação, já chegou a 75% da capacidade. Se não tivéssemos aumentado, já teríamos colapsado. Só hoje (ontem), tive sete novos pacientes entrando e só duas altas, diz.

Para o sanitarista Walter Cintra Ferreira, professor de administração hospitalar e sistemas de saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), embora seja difícil estabelecer a hora certa para o lockdown, a lotação de 90% dos leitos do sistema público já é um indicativo concreto de que a situação está à beira do colapso. Está claro que ainda não chegamos ao pico. Com o aumento de mortes diárias, precisamos manter o distanciamento social no País e decretar lockdown nos Estados que já têm 90% das UTIs ocupadas porque isso significa que já há fila de doentes e que a situação chega perto da perda de controle, afirma.

Segundo o governo paulista, os hospitais estaduais da região metropolitana já operam com cerca de 90% de suas UTIs ocupadas há pelo menos quatro dias. No Rio, mais de 400 pacientes aguardam vaga de terapia intensiva na rede pública.

Os especialistas dizem que, se o distanciamento social definido até agora tivesse sido bem-sucedido, talvez o lockdown não fosse necessário. Agora, porém, a medida mostra-se inevitável em algumas regiões. Para eles, as divergências nos discursos de lideranças políticas e a demora do governo federal em pagar o auxílio emergencial fizeram com que a adesão da população ao isolamento ficasse abaixo do esperado.

O governo federal errou em duas questões: uma foi a postura do presidente Bolsonaro em minimizar a pandemia. Com isso, as pessoas se sentiram compelidas a não seguir as orientações de isolamento. A segunda é a demora no pagamento de auxílio. Isso já deveria estar solucionado no mês passado, afirma Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Para Ferreira, foram questões políticas que impediram o País de adotar medidas de isolamento mais restritivas. Essa decisão deveria ter sido técnica. O objetivo principal de qualquer governante agora deveria ser salvar vidas. Mas muitos não quiseram arcar com o ônus de problemas econômicos. Mas podem ter outro ônus, que é o de pilhas de mortos, diz.

SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS APRESENTA IMPACTO NA PRODUÇÃO E DEMISSÕES

A pandemia do novo coronavírus provocou queda significativa no setor industrial brasileiro no mês de março, como apontou pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última terça-feira (05). Em comparação com o mês anterior a queda foi de 9,1%. Segundo informou o instituto, dos 26 ramos da indústria 23 apresentaram queda na produção. Dentre eles o mercado de máquinas e equipamentos com uma queda de 9,1%.

De modo geral, o setor produtor de bens de capital apontou uma queda de 15,2%, ou seja, taxa negativa mais elevada que a média nacional, na comparação de fevereiro e março deste ano. De acordo com o instituto, esse número eliminou o ganho de 13,8% no setor acumulado nos dois primeiros meses de 2020.

O IBGE afirmou que este setor marcou a queda mais acentuada desde março de 2018. A redução observada no segmento e também na maior parte da indústria reflete os efeitos do isolamento social em razão da pandemia. Isso afetou o processo de produção em várias unidades produtivas no país. O instituto observou paralisações ou interrupções da produção em diversas unidades.

A pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), Luana Miranda, afirmou que a produção de máquinas e equipamentos deve ser duramente afetada pela crise, tendo em vista que está intimamente relacionada com a capacidade de investimento das empresas. Segundo ela, em um cenário de incerteza exacerbada, o investimento tende a retrair. Ela destacou, no entanto, que um dos setores da indústria mais afetados tende a ser o de bens de consumo duráveis, sobretudo devido à queda na renda e no aumento do desemprego.

De acordo com os dados do IBGE isso tem se confirmado. A confecção de artigos do vestuário e acessórios, com uma queda de 37,8%, e de couro, artigos para viagem e calçados, com redução de 31,5% estão entre um dos mais impactados pela pandemia. O instituto afirmou ainda que a queda nas atividades do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, de 28%, foi o que mais influenciou negativamente o resultado da indústria geral no país. Neste ramo da indústria, o principal impacto ficou com a redução na fabricação de automóveis.

Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entre os meses de março e abril deste ano, o dado mais preocupante é a manutenção dos empregos no setor. A pesquisa revelou que 21,4% das empresas pesquisadas demitiram 16,4% da mão de obra, gerando uma redução de 11 mil postos de trabalho.

Em nota, o presidente da Abimaq, José Velloso, afirmou que praticamente todas as empresas informaram que pretendem promover demissões nos próximos meses. A estimativa é de que o número de demissões possa chegar a 15%, o que significaria, segundo ele, a perda de 50 mil postos de empregos diretos e mais de 150 mil indiretos.

Mais de 70% do universo pesquisado pela Abimaq é constituído por empresas exportadoras e, destas, mais de 50% registraram queda das exportações na ordem de 56,2%. Outra preocupação tem sido com o aumento dos preços de matérias-primas e materiais intermediários utilizados na produção. Somada a isso, tem o aspecto da interrupção da cadeia de suprimentos que, para além da queda de vendas, tem o potencial de inibir a atividade produtiva e o atendimento da carteira de pedidos.

Para as empresas questionadas na pesquisa, uma das medidas que poderia contribuir para a manutenção das atividades produtivas de máquinas e equipamentos seria a postergação do pagamento dos impostos.

Na análise de Luana essa é uma crise difícil de contornar. Isso porque, segundo ela, houve uma redução drástica da demanda nacional e também em todo o mundo. A redução global ainda dificulta a importação de insumos necessários para a produção doméstica. De acordo com ela, as medidas de estímulo fiscal e monetário têm como objetivo amenizar os efeitos negativos da crise, porém, a recessão é inevitável.

Fonte: Portos e Navios

CRISE NA PRODUÇÃO DE CARNE NOS EUA PODE ABRIR ESPAÇO PARA EXPORTAÇÕES DO BRASIL

A crise na produção de carne em meio à pandemia nos Estados Unidos deve fazer com que empresas americanas se voltem ao mercado interno, abrindo mais espaço para as exportações do setor no Brasil.

Diante do fechamento de dezenas de frigoríficos nos EUA desde o início da crise, especialistas afirmam que a carne brasileira pode ser uma opção segura quando os principais concorrentes mundiais enfrentam situações dramáticas na área de alimentos.

De acordo com relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), 115 instalações de processamento de carne e aves relataram casos de Covid-19 espalhados por 19 dos 50 estados americanos até o fim de abril.

Entre os 130 mil trabalhadores desses locais, houve 4.913 diagnósticos confirmados e ao menos 20 mortes.

As maiores companhias de carne do mundo estão entre as que fecharam plantas nos EUA e reduziram a produção vertiginosamente por causa da doença entre os funcionários.

Entre elas, estão Tyson Foods, Smithfield Foods e JBS USA.

Os EUA são líderes mundiais da produção de carne bovina, enquanto o Brasil é o maior exportador, com vendas que atingiram o recorde de US$ 7,5 bilhões no ano passado.

Em termos gerais, a China é a maior produtora, com cerca de 125 milhões de toneladas por ano. O país asiático consome mais carne suína do que toda a produção de carne americana e ainda importa grande quantidade de carne bovina e frango, terreno no qual o Brasil poderia ampliar sua já forte atuação.

Na origem da pandemia, os chineses são os únicos entre as grandes economias globais que devem experimentar um crescimento neste ano, de 1,2%, após terem alcançado cerca de 6% em 2019.

A recuperação deve ser de 9,2% em 2020, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), enquanto a retomada nos EUA será mais lenta, na casa de 4,7%.

Professor de agronegócio global do Insper, Marcos Jank diz que o Brasil não está imune a problemas nos frigoríficos, mas hoje é capaz de suprir a queda de produção mundial e se beneficiar da alta do câmbio nas exportações, além da reabertura da economia chinesa.

O Brasil pode e deve dar o recado ao mundo de que tem produção para exportação segura. Nossos concorrentes estão em situação muito difícil.

Além dos americanos, Jank cita Austrália, Argentina e a própria China como países que tiveram problemas na produção de carne no passado, culminando com a Covid-19 invadindo os frigoríficos em 2020.

Em nota à Folha, a JBS USA reconhece que a produção diminuiu em algumas instalações por causa da pandemia, mas diz que a empresa continua a atender o mercado interno.

O sistema agrícola americano é extremamente resiliente e, enquanto algumas empresas fecharam temporariamente, a indústria da carne vai continuar a atender às necessidades domésticas devido à queda nas exportações e na demanda por serviços de alimentos.

Apesar de estar em rota crescente na curva da pandemia, com mais de 115 mil casos e quase 8 mil mortes, o Brasil adotou rapidamente medidas de prevenção na indústria de carne, como o uso de máscaras e o distanciamento entre trabalhadores, o que não ocorreu nos EUA.

Com mais de 1,2 milhão de diagnósticos e 71 mil vítimas, o país e seus produtores demoraram a agir.

Pelo menos 20 frigoríficos americanos fecharam durante a pandemia, alguns deles somente no fim de abril, e muitos estão operando com baixa capacidade.

Além disso, há muito desperdício de produtos, como frangos e suínos, por exemplo, que precisam ser sacrificados e descartados por falta de mão de obra ou de consumidores.

A JBS fechou quatro plantas nos EUA. A Smithfield Foods, cinco. A Tayson Foods, por sua vez, fechou três de suas seis principais plantas no país e as que permanecem abertas, operam apenas parcialmente.

O presidente do conselho da Tyson Foods, John Tyson, disse em comunicado na semana passada que a cadeia de oferta de alimentos [dos EUA] está se rompendo e que haverá disponibilidade limitada de nossos produtos no mercado enquanto as plantas não reabrirem.

Preocupado com os danos econômicos em sua campanha à reeleição, Donald Trump decidiu intervir.

Em meio ao aumento de preços da carne no mercado e a escalada do desemprego no país, o presidente assinou uma ordem executiva para que os frigoríficos se mantenham abertos.

Baseado no Ato de Defesa da Produção, criado em 1950 para garantir a produção nacional, Trump quer evitar problemas de abastecimento, mas a Tayson afirma que a medida não deve adiantar.

Nesta segunda (4), em conversa com investidores, a cúpula da empresa afirmou que sua produção de carne de porco já havia despencado 50%, diante de projeções de analistas de que as perdas podem ser ainda maiores.

A ordem de Trump dá às empresas cobertura legal e proteção contra ações de responsabilização caso trabalhadores peguem o vírus por terem que se manter em serviço.

Especialistas afirmam que ainda é difícil saber qual será impacto da ordem do governo na produção de carne do país. Um dos termômetros pode ser o preço e a disponibilidade dos produtos nas prateleiras.

Por enquanto, quem tiver menos danos na cadeia produtiva e souber aproveitar os vácuos deixados pelos americanos conseguirá se posicionar como agente capaz de garantir a segurança de alimentos no mundo diante de uma crise sem precedentes, segundo Jank.

Fonte: Folha SP