Reguladores de seguros alertam que forçar pagamentos pandêmicos cria instabilidade financeira
11, Mai. 2020
Reguladores de seguros alertam que forçar
pagamentos pandêmicos cria instabilidade financeira
Grã-Bretanha,
França e Estados Unidos analisam qual o papel que o Estado poderia desempenhar
na cobertura da pandemia, embora isso só se aplique no futuro
Fonte:
Reuters / Sonho Seguro
Forçar
pagamentos retroativos para cobrir as perdas de interrupção dos negócios
resultantes da pandemia de coronavírus pode colocar em risco a estabilidade
financeira das seguradoras, disseram os reguladores globais de seguros, segundo
informa a Reuters.
Disputas
sobre cobertura para empresas que lutam para se manter à tona durante os
bloqueios por coronavírus surgiram em países como Grã-Bretanha e Estados
Unidos, onde oito estados adotaram leis que exigiriam que as seguradoras
pagassem reclamações, principalmente para pequenas empresas, apesar de
exclusões.
Nos
casos em que os riscos de pandemia são cobertos por uma apólice, as seguradoras
devem pagar tais reclamações de maneira rápida e eficiente, disse a
International Association of Insurance Supervisors (Associação Internacional de
Supervisores de Seguros / IAIS), advertindo contra iniciativas que buscam
exigir que as seguradoras cubram retroativamente as perdas relacionadas ao
Covid-19.
Tais
iniciativas podem finalmente ameaçar a proteção dos segurados e a estabilidade
financeira, agravando ainda mais os impactos financeiros e econômicos do
Covid-19, disse a IAIS, que agrupa reguladores dos Estados Unidos, Europa e
Ásia.
Um
órgão global da indústria financeira, o Institute of International Finance
(Instituto de Finanças Internacionais / IIF), também alertou que mudanças
retroativas nas políticas podem levar a redução da disponibilidade de seguros,
a saída de seguradoras de determinados mercados e a aumentos gerais no preço do
seguro.
A
Federation of European Risk Management Associations (Federação das Associações
Europeias de Gerenciamento de Riscos) lançou uma força-tarefa para criar
cobertura para interrupção de negócios devido para riscos catastróficos como a
pandemia de coronavírus, dizendo que qualquer cobertura exigiria ajuda do
governo.
Em seu
comunicado, a IAIS disse que a pandemia destacava os limites para os tipos de
cobertura que podem ser razoavelmente oferecidos pelo setor de seguros. A IAIS,
portanto, incentiva os esforços em busca de possíveis soluções para proteger
empresas e indivíduos contra esses tipos de risco, e está pronta para ajudar a
facilitar essas discussões em nível internacional.
Disputas
entre seguradoras e empresas na Grã-Bretanha sobre se as apólices oferecem
cobertura válida para interrupção da pandemia de coronavírus levaram a
Financial Conduct Authority Autoridade de Conduta Financeira / FCA) a pedir
esclarecimentos aos tribunais.
Grã-Bretanha,
França e Estados Unidos analisam qual o papel que o Estado poderia desempenhar
na cobertura da pandemia, embora isso só se aplique no futuro.
UBS eleva em 50% estimativa de perdas do
mercado segurador mundial
Incerteza
quanto a obrigatoriedade de pagamentos de lucros cessantes pela pandemia, o que
não está coberto na apólice empresarial, assusta a todos.
Fonte:
Artemis / Sonho Seguro
Os
analistas do banco de investimentos UBS elevaram em 50% a estimativa para a
eventual perda da indústria de seguros e resseguros pela pandemia do Covid-19,
para US$ 60 bilhões. O valor ainda está abaixo do limite máximo de outras
estimativas, como dos analistas especializados em mercado de capitais e
resseguros da Dowling & Partners. Segundo eles, a perda para a indústria em
seguros gerais (ou Property and casuality / P&C) por reclamações
relacionadas à pandemia podem variar de US$ 40 bilhões a US$ 80 bilhões.
Inicialmente,
o UBS havia projetado perda para toda a indústria entre US$ 22 e US$ 42
bilhões. Agora, no entanto, os analistas entendem que as reclamações por
interrupção de negócios serão mais um dos problemas para serem enfrentados fora
dos Estados Unidos, o que os levou a aumentar as estimativas de perdas de US$ 5
bilhões a US$ 15 bilhões para US$ 7 bilhões e US$ 22 bilhões. Além disso, os
analistas prognosticaram entre US$ 8 bilhões e US$ 16 bilhões em perdas de
seguros de crédito, em grande parte recaindo nas empresas de resseguros.
O UBS
havia se centrado na perda por lucro cessante fora dos EUA como fator chave
para o aumento de sua estimativa. Isso porque há um entendimento de que existem
regiões na Europa e em outros países onde a cobertura não está bem redigida e
as exclusões são consideradas insuficientes, o que poderia gerar mais
reclamações às seguradoras e, em última instância, ao capital de resseguro.
Os
valores parecem razoáveis pelos seguradores. Para que o custo da indústria
aumente muito mais do que esse número terá que acontecer algum tipo de esforço
legal nos Estados Unidos para forçar o pagamento de interrupção de negócios em
apólices de riscos de incêndio, que não prevê este tipo de cobertura. Se isso
acontecer, o número da perda da indústria chegaria à marca de US$ 100 bilhões,
sugerem algumas fontes. Mas isso continua sendo uma possibilidade extrema no
momento.
O lado bom da crise
Por Antonio Penteado Mendonça, no Estadão
Diz o ditado que toda moeda tem dois
lados. A regra se aplica à vida, mas na vida as possibilidades são maiores, é
possível se ter vários lados, todos bons e verdadeiros. Mesmo sendo diferentes,
estão todos certos, porque isso depende de quem vê, de onde está e como
interpreta.
É assim que, em meio à tragédia, o
coronavírus trouxe com a pandemia alguns pontos positivos. O primeiro é a
redução da poluição. Não apenas no Brasil, em cidades como São Paulo, mas no
mundo inteiro, em praticamente todas as cidades onde a qualidade do ar dependia
das emissões dos veículos circulando por elas. Com o isolamento social adotado
por quase todos os países, diminuiu a circulação de veículos. Com isso diminuiu
a emissão de gases poluentes e, consequentemente, houve uma mudança
significativa na qualidade do ar que respiramos.
Esta redução tem efeito extremamente
positivo na saúde das pessoas. Com ar mais puro melhora a condição de
oxigenação e diminui a quantidade de veneno ingerida pelos pulmões ao longo do
dia. O resultado é que, se as novas taxas se mantiverem, deve acontecer uma
redução importante nos totais de doenças respiratórias, alergias, doenças
cardiovasculares, câncer de diferentes tipos e outras decorrentes do aumento da
poluição.
Em outras palavras, estaremos
assistindo ao aumento da expectativa de vida dos moradores das grandes cidades
e melhorando os índices nacionais, até porque, atualmente, há muito mais
moradores nas regiões urbanas do que nas regiões rurais. Isto leva a outro dado
bom: pessoas com melhores condições de vida tendem a ser mais saudáveis e,
portanto, com menores necessidades de assistência médico-hospitalar, o que leva
à diminuição dos custos crescentes e insuportáveis da saúde pública.
O ar mais limpo tem outro aspecto
economicamente importante. Com menos elementos agressivos na atmosfera haverá
uma redução do desgaste de imóveis, máquinas, bens e equipamentos de todas as
ordens. A pintura durará mais, os motores terão vida útil maior, diminuirá a
corrosão dos mais diversos materiais, etc.
De outro lado, o isolamento social, ainda
que no Brasil em patamares abaixo dos indicados pelos especialistas em saúde,
que reduziu a quantidade de veículos trafegando por ruas e estradas, reduziu
também, de maneira lógica, o número de acidentes de trânsito. Consequentemente,
houve uma redução no número de vítimas fatais, de inválidos e de pessoas
necessitando internação hospitalar ou tratamento nos prontos-socorros. Aí, as
vantagens são de duas ordens, uma de curto prazo, representada pela
possibilidade da destinação de um maior número de leitos para o combate ao
coronavírus, e uma de longo prazo, pela redução de óbitos e invalidezes de
todos os graus que desestruturam as famílias e têm alto custo para a
Previdência Social.
Se até aqui as notícias são muito
boas, elas ficam melhores ainda quando os paulistanos verificam que está
acontecendo a redução do número de crimes contra o patrimônio. De acordo com a
polícia, que, diga-se, tem estado presente na cidade, há uma nítida diminuição
de roubos e furtos de imóveis e veículos. E como as ruas estão mais vazias, há
também a redução de roubos e furtos de celulares e do ataque contra pessoas.
Finalmente, mas não menos importante,
a diminuição da poluição está criando cenários de sonhos nos fins de tarde. A
cor do céu de outono sempre foi a mais bela das quatro estações. Sua
profundidade e maior transparência, mesmo com a forte poluição que estreitava
os horizontes, fazia a diferença. Agora, com o ar limpo, os pores do sol se
transformam em verdadeiras obras primas, como se o Criador quisesse mostrar que
os maiores pintores, os mestres das cores e das formas, não passam de alunos de
maternal perto das maravilhas que a natureza expõe diariamente nos céus de São
Paulo.
Pena que estas notícias boas não
consigam contrabalançar o tamanho da tragédia representada pela pandemia do
coronavírus. Os milhares de mortes e a recessão cobrarão seu preço da sociedade
e das seguradoras ainda por um bom tempo.
Contratação de seguro para milho salta no País
O Estadão destaca que os preços remuneradores do
milho e a incerteza econômica em meio à pandemia do novo coronavírus
impulsionam a contratação de seguro agrícola para a segunda safra do cereal,
cultivada após a colheita de verão. Capitalizado, o produtor investiu na
lavoura, sem perder o foco nos riscos que a cultura suscetível aos meses de frio
pode sofrer. Saímos de uma safra com a saca de 60 kg de milho negociada a R$ 32
e entramos neste ciclo com a saca a R$ 44. Isso foi decisivo, avalia Everton
Todescatto, gerente comercial de Agronegócios da Sancor Seguros.
A empresa estima incremento de 10%
nas vendas da modalidade que prevê reembolso por quebras na produtividade. Já
foram contratados R$ 38 milhões em apólices com cobertura de 150 mil hectares.
Na Tokio Marine, o montante referente ao milho safrinha chega a R$ 80 milhões,
R$ 60 milhões a mais que no ano passado. Já a Mapfre Seguros estima crescimento
de 10% a 15% na contratação. No caso da BrasilSeg, empresa da BB Seguros, o
crescimento de 75% a 80% no seguro rural foi puxado pelo cereal de inverno, com
11.962 apólices e 1,8 milhão de hectares cobertos.
Joaquim Neto, superintendente de
Produtos Agro da Tokio Marine, considera que perdas causadas pelo clima na
safrinha de 2019 e na safra de verão deste ano contribuíram para aumentar o
interesse do agricultor. Isso acaba sendo uma lembrança da importância de mitigar
riscos e impedir perdas. A percepção de risco do produtor também foi aguçada
pela menor janela de plantio para o cereal, que o torna mais vulnerável às
intempéries, diz Catia Rucco Rivelles, superintendente de Seguros Agrícolas da
Mapfre. Após a pandemia, ele quer proteger mais sua principal fonte de renda.
O produtor também está mais
preocupado em maximizar a rentabilidade de suas lavouras, observa Paulo Hora,
superintendente de Seguros Rurais da BrasilSeg. No primeiro ano de oferta para
a safrinha, o seguro faturamento da empresa, que restitui perdas por quebras
climáticas ou queda de preços, já alcançou 2.570 apólices vendidas, com
cobertura de 360 mil hectares. A oscilação do preço das commodities e o câmbio
volátil influenciam na procura do agricultor por este tipo de seguro, comenta
Hora.
Diante de relatos recorrentes sobre a
maior procura de agricultores pela recuperação judicial, Bartolomeu Braz
Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja
Brasil), pede apoio à contratação de seguros. Para ele, faltam políticas de
estímulo, o que reduziria a necessidade de recuperação. Enquanto produtores
financiados por bancos oficiais adquirem cobertura, diz, o mesmo não ocorre
quando o crédito vem de tradings ou agroquímicas. Ele propõe que nas operações
de barter (troca de insumos por produto entregue na colheita) seja incluso
valor extra que cubra o seguro.
O presidente da Associação Brasileira
das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, concorda com a
importância de o produtor fazer seguro, mas diz que a tarefa não cabe às
tradings. Seguro é questão de mercado com seguradoras, produtores, e
eventualmente com o governo, de ter um programa com subsídio mais amplo. Nós
(tradings) nunca colocaremos seguro como condição (para dar crédito), diz. A
onda de produtores em recuperação pode se refletir em juros mais altos cobrados
pelas empresas, alerta. Com a Selic caindo, isso deveria reduzir o custo do
crédito. Mas, se na carteira há produtores em recuperação, dilui esse risco
para todo o resto.
Suhai atende
nicho de veículo que grande seguradora despreza
Especializada em seguro para veículos
acima de dez anos, a Suhai tem carteira com 300 mil clientes e oferece seguros
compactos, só para roubo e furto, o que permite preço inferior ao de companhias
que só oferecem cobertura total que inclui, por exemplo, perda parcial, explica
Robson Tricarico, executivo da empresa, em entrevista ao Estadão. Essa estratégia tem atraído
entregadores e motoristas de serviços de aplicativos que tiveram demanda
ampliada com a epidemia da covid-19.
A principal empresa da nossa holding
é líder em segurança pessoal. Em virtude dessa expertise decidiu abrir uma
seguradora voltada ao segmento de veículos com propósito de inverter índices
como o de que 98% das motos circulam pelo País sem proteção, assim como 70% dos
carros e 85% dos caminhões. Oferecemos um seguro compacto, com cobertura que
inclui só furto e roubo. Outras coberturas são opcionais.
Qual a vantagem desse
seguro?
Quando se tira, por exemplo,
cobertura de perda parcial (para consertos) há redução do valor e camadas da
sociedade conseguem proteger seus veículos por valor acessível. Além disso o
alto índice de recuperação também reduz os preços.
Como faz a seguradora
tradicional?
No fundo são empresas de estatística
que medem o risco pelo perfil do cliente. Quanto maior o risco, maior o valor
do seguro. Também temos estatísticas para compor o preço, mas como recuperamos
mais do que outras companhias, nossa perda é menor e isso é repassado ao preço.
Assim, conseguimos atrair clientes com perfis considerados de alto risco que
muitas seguradoras não aceitam ou cobram preços abusivos.
A Suhai é única a atuar
nesse nicho?
Todas as seguradoras têm produto que
cobre só furto e roubo, mas normalmente focam naqueles com cobertura total e
atuam também com seguro de casas, vida, etc. Nós focamos em um único tipo de
seguro e aceitamos qualquer veículo para qualquer perfil de utilização.
Como faz para obter alto
índice de recuperação?
Temos um centro de inteligência
estratégico com mapeamento de dados da sinistralidade que facilita a
recuperação.
Houve queda de vendas por
causa do coronavírus?
No início sim, mas temos conseguido
êxito nas vendas para pessoas que trabalham na rua, como entregadores e
motoristas de aplicativos que tiveram o trabalho aumentado e estão mais
expostos a riscos.
Interior de SP
já teme sobrecarga hospitalar
O Estadão relata que, com mais de 12 internações
e 4 mortes por hora no Estado, a interiorização acelerada de casos da covid-19
em São Paulo colocou em alerta autoridades e profissionais de saúde, que não
descartam colapso geral da rede de atendimento hospitalar, com a possibilidade
de um pico da doença e a aproximação do inverno. Das 645 cidades paulistas, 412
já têm pelo menos um caso confirmado, e há um ou mais óbitos em 177 municípios.
Entre os dias 3 de abril e 1.º de
maio, o Estado registrou crescimento de 2.532% nos contaminados no interior,
enquanto na região metropolitana o avanço foi de 625%. Ao menos 90 cidades
paulistas com até 10 mil habitantes tinham casos positivos de coronavírus até
sábado. Dessas, 26 têm menos do que 5 mil habitantes. Em 11 pequenas cidades já
houve ao menos uma morte pela covid-19. Nenhuma dispõe de leitos de UTI. De
acordo com o pesquisador Raul Borges Guimarães, especialista em geografia da
saúde da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a covid-19 pode intensificar o
fluxo das pequenas cidades para os centros maiores, causando excesso de
demanda.
O Estado é o epicentro de casos de
contaminação pelo coronavírus no Brasil, com 3.709 mortes (101 relatadas no
último balanço diário) e 45.444 infectados. Levantamento que integra o Plano de
Contingenciamento do Estado de São Paulo, feito há duas semanas, sobre
hospitais e quantidade de leitos (clínicos e de UTI), existentes e previstos
para ampliação para receber os pacientes com covid-19, mostra que havia 5.676
vagas de UTI (adultos e pediatria) para as 645 cidades paulistas. Desse total,
3.144 eram na capital e nas cidades da Grande São Paulo e 2.532 leitos nas
cidades do interior e do litoral.
Hoje, são mais de 9,8 mil pacientes
internados em SP, sendo 3.909 em UTI e 5.938 em enfermaria. A taxa de ocupação
dos leitos de UTI reservados para atendimento da covid-19 é de 67,9% no Estado
de São Paulo e 83,3% na Grande São Paulo.
Com 52% da população do Estado, o
interior e o litoral paulista tiveram até aqui um cenário distinto do vivido na
região metropolitana, onde estavam concentrados até a semana passada 85% dos
casos de covid-19. Possível reflexo das medidas de isolamento social iniciadas
em março. Mas esse cenário, de aparente tranquilidade, tem mudado e rápido. A
taxa de concentração de novos casos da covid-19 no Estado em cidades fora da
Grande São Paulo subiu de 15% para 32% na semana passada.
No dia 17 de março, fim da primeira
semana da pandemia, São Paulo tinha 164 casos no Estado e 1 morte, com casos
concentrados na Grande São Paulo. Dia 30 de abril, esse número já era de 28.698
casos e 2.735 mortes, com registros espalhados para todas as regiões. Se antes
os relatos eram de 7 cidades com registro do primeiro caso a cada três dias,
agora são 38 municípios registrando a chegada da doença a cada três dias.
O Secretário de Desenvolvimento
Regional do Estado, Marco Vinholi, alertou sobre os riscos dessa interiorização
da doença. Se a curva de crescimento for mantida, até o fim de maio todas as
645 cidades paulistas terão registros. Não existe nenhuma região protegida.
Nesse momento, a onda epidêmica está se distribuindo, afirmou Dimas Covas,
diretor do Instituto Butantã.
Sobrecarga.
A taxa de ocupação de leitos de UTI
para a covid-19 no interior e no litoral também tem crescido mais rápido. Na
sexta-feira, havia 3.474 internados com coronavírus nas unidades de terapia
intensiva do Estado, taxa de ocupação de 70,5%. Um dia antes, a taxa estadual
de ocupação desses leitos era de 66,9%. Já a taxa de ocupação dos leitos UTI na
capital e cidades do entorno manteve-se em 89,6% nos dois dias.
Segundo o presidente do Conselho dos
Secretários Municipais da Saúde de São Paulo, Geraldo Reple, que integra o
Centro de Contingência do Coronavírus do Estado, na semana passada foi atingida
outra marca negativa no Estado: em um único dia foram internadas 1 mil pessoas
com a covid-19, enquanto 600 tiveram alta. Se essa proporção continuar ou até
crescer, que é o que parece que vai acontecer, nós estaremos em uma fase extremamente
complicada, afirmou. Todas as cidades têm plano de contingenciamento, mas
muitas não estão preparadas. Muitos municípios não têm leito de UTI.
Provavelmente, muitos não têm nem leito de estabilização.
Frio.
O inverno e a chegada do frio, como
ocorreu semana passada, é outro agravante que preocupa profissionais de saúde
no Estado. Nesse período, historicamente a quantidade de doentes com problemas
respiratórios aumenta na rede hospitalar e a capacidade de atendimento nos
hospitais beira o limite, como destaca o médico pneumologista e intensivista
Luiz Cláudio Martins, que é professor da Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp.
Esse aumento é certo, vai ocorrer. E
com a covid-19 é óbvio que vai sobrecarregar ainda mais a rede. Martins conta
que no HC da Unicamp os registros de crianças com a covid-19 internadas ainda
são baixos, mas nas enfermarias de pediatria há lotação de casos de doenças
respiratórias, em decorrência do frio. É muito preocupante.
Isolamento.
O crescimento de novos casos da
covid-19 tem sido mais acelerado nos últimos dias no interior e no litoral do
que na Grande São Paulo. A taxa de isolamento social no Estado foi de 47% nos
últimos dias, bem abaixo do esperado 70%. Isso levou o governador João Dória
(PSDB) a prorrogar a quarentena até o fim do mês, apesar da pressão de diversas
cidades por flexibilização.
Para
o especialista em geografia da saúde e professor da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Raul Guimarães, o avanço acelerado da doença no interior e no
litoral está diretamente relacionado ao relaxamento da quarentena. O risco de
faltar capacidade de atendimento hospitalar para os casos mais graves é grande.
O médico pneumologista e professor da Unicamp, Luiz Cláudio Martins, concorda e
afirma que a flexibilização da quarentena neste momento seria algo temerário,
que precisa ser tratado com muito cuidado. Não podemos menosprezar uma doença
que, em um dia, matou mais de 700 pessoas. O distanciamento é vital neste
momento.
Uma guerra pelos leitos privados
O Dia informa que o Ministério Público Federal
enviou uma recomendação para que o Ministério da Saúde apresente informações
sobre a taxa de ocupação de leitos e quantidade de respiradores na rede
privada. Isso porque, com base nesses dados, o ministério deverá regulamentar a
requisição de leitos particulares pelos gestores públicos, com a definição de
critérios para avaliar a necessidade dos pedidos, bem como as regras de custeio
e de acesso às vagas.
Segundo Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), que representa parte
dos hospitais particulares do Rio, como o Barra DOr e o Hospital São Vicente de
Paulo, a taxa de ocupação na rede particular chegou a 90% na semana passada,
dados da última atualização.
Segundo o MPF, a requisição de bens e serviços da saúde privada, em uma
situação de pandemia como a atual, está prevista na Constituição e nas Leis
8.080/90 e 13.979/20, além de ter sido recomendada pelo Conselho Nacional de
Saúde.
O MPF lembra que, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o
Ministério da Saúde, 75,75% dos brasileiros não têm acesso a plano de saúde,
enquanto metade dos leitos de UTIs do país pertencem a estabelecimentos
particulares (cerca de 15 mil). A ANS afirmou que ainda aguarda informações das
operadoras de planos de saúde.
A recomendação é que, no prazo de 5 dias, o Ministério da Saúde altere a
portaria nº 758 para que o registro de internações de casos suspeitos e
confirmados de covid-19 passe a ser obrigatório nos estabelecimentos públicos e
privados, independentemente da ligação com o SUS.
Segundo o painel do Ministério da Saúde, o número de leitos de UTI para adultos
que não são do SUS, no Estado do Rio, é de 2.761 vagas, número obtido até o dia
6 deste mês.
Em reportagem da revista Exame, o Conselho Nacional de Justiça recomenda que
UTIs privadas sejam usadas contra a covid-19 para desafogar os sistemas
públicos de Saúde. O CNJ aconselha que seja criado um gabinete específico de
crise, formado por órgãos de controle da Administração Pública, para que a
regulação dos leitos fique centralizada nos estados, e não apenas nos
municípios.
Brasil passa de 10 mil
mortes e cientistas pedem bloqueio total
O Brasil ultrapassou ontem a marca de 10 mil mortos, relata o Estadão. De acordo com boletim do Ministério
da Saúde, o País tem 10.627 vítimas. E 155.939 casos confirmados. Em 24 horas,
o registro de óbitos oficial foi de 730. Para os especialistas, ao lado da
chegada ao limite dos leitos no sistema de saúde e da falha no oferecimento de
testes, trata-se da nação que menos testa entre os oito países com mais casos,
é o indicativo para ampliar as restrições, sobretudo usando lockdown (bloqueio
total), como ocorre, por exemplo, em São Luís, no Maranhão.
O País já está entre as nações com maior número de mortes pela doença, ficando
atrás de Estados Unidos (77.344), ainda epicentro mundial, Reino Unido
(31.662), Itália (30.201), Espanha (26.299) e França (26.233), esses últimos
países europeus castigados pelo vírus. Isso considerando os dados compilados
pela Universidade John Hopkins. O Brasil já havia ultrapassado a China, marco
zero da covid-19, dia 28 de abril.
Já em número de casos confirmados, ainda de acordo com John Hopkins, o Brasil
está na oitava posição, atrás de EUA (1.286.833), Espanha (222.857), Itália
(217.185), Reino Unido (212.629), Rússia (198.675), França (176.202) e Alemanha
(170.643). O dado oficial apontava ontem 155.939 infecções, ante 145.238 na
véspera.
Ao longo da semana, o Brasil veio batendo recordes de registros de mortes em 24
horas. Na sexta-feira, foram 751. Diante desse cenário, especialistas afirmam
que o lockdown é uma medida necessária para evitar uma explosão ainda maior de casos
em capitais e regiões metropolitanas.
Vários
Estados têm a demanda dos serviços de saúde no limite e tudo indica que teremos
um forte aumento de casos e de óbitos nas próximas semanas. Este cenário indica
a necessidade de que as autoridades indiquem o lockdown, medida que deve ser
associada a ações de apoio a populações socialmente vulneráveis, diz o
epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública
da USP.
Luciana Costa, diretora adjunta do Instituto de Microbiologia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai além sobre a possibilidade de eficácia do
bloqueio total. O lockdown é a única solução neste momento que pode ter alguma
eficácia para controlar a curva epidêmica, que está indo para o descontrole. As
medidas de isolamento social não tiveram adesão da população como deveriam.
Isso foi consequência de informações truncadas e mensagens opostas enviadas por
prefeitos e governadores e o presidente da República, diz.
A epidemia pode se expandir rapidamente diante de mais aglomerações e
atividades. Se não for feito nada que interrompa as novas transmissões, o
Brasil pode se tornar o novo epicentro da pandemia, juntamente com os Estados
Unidos, defende a especialista do Laboratório de Genética e Imunologia das
Infecções Virais.
A medida de quarentena compulsória, em que ficar em casa é uma obrigação e não
uma recomendação, já foi adotada pelo governo do Pará na capital, Belém, e em
outras grandes cidades do Estado desde terça. No Nordeste, Maranhão e Ceará decretaram
medidas similares.
Lição de casa. O momento atual se tornou preocupante na opinião dos
pesquisadores porque o Brasil não fez a lição de casa. O virologista Flávio
Guimarães da Fonseca, que atua no Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas),
afirma que o Brasil desperdiçou a oportunidade de observar a evolução da
pandemia em outros países, como Itália, Espanha e Reino Unido, que começaram a
sofrer antes os efeitos da pandemia. A realidade de outros países, até os
ocidentais, poderia ser utilizada como modelo para preparar a população. Isso
não foi feito de uma forma uniforme em todo o Brasil, diz o pesquisador do
Departamento de
Microbiologia da UFMG.
No início do mês de março, a Itália, por exemplo, era o país mais afetado da
Europa pela covid-19. Lá, a primeira morte foi confirmada no dia 21 de
fevereiro. Quase cinco semanas depois, o país já ultrapassava as 10 mil
vítimas. A Itália demorou para responder à emergência e registra mais de 30 mil
mortes.
Rafaela Rosa-Ribeiro, doutora em biologia celular e estrutural, que trabalha
atualmente com um grupo de virologistas no Ospedale San Raffaele em Milão,
afirma que está assistindo ao mesmo filme pela segunda vez. O primeiro foi em
solo italiano; o segundo, no Brasil. Parece um filme que está se repetindo com
um roteiro diferente. A Itália subestimou a doença de certa forma, não por
maldade, mas por ignorância. Fomos o primeiro país atingido fora da China.
Depois, o país chegou a ser elogiado pelas medidas rápidas. No dia 11 de março
já estava tudo fechado, com exceção de farmácias e supermercados. Foram dois
meses de Lockdown, diz a cientista brasileira. Tenho família no Brasil e estou
preocupada. As pessoas não estão conseguindo entender a gravidade da doença. Na
Itália, os cientistas foram ouvidos, diz.
Entendo que o Brasil é um país muito diferente dos países europeus. É mais
complicado tomar medidas drásticas, por causa da quantidade de pessoas,
condições sanitárias e econômicas. Mas muita gente que pode ficar em casa e
empresas que poderiam deixar funcionários em home office não estão pensando na
doença.
O infectologista Antonio Bandeira, diretor da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI) e professor da Faculdade de Tecnologia e Ciências Uniftc,
lembra que o Brasil também não se preparou em relação à realização de testes. O
especialista afirma que o Brasil fez 340 mil testes enquanto o número nos
Estados Unidos é de 2 milhões. Dos oito países com maior quantidade de casos, o
Brasil é o que menos testa. De acordo com o número de testes por 1 mil
habitantes, apresentados nesta sexta-feira pelo Observatório Covid-BR, os
Estados Unidos registram a média de 24,4, a Espanha, de 28,9, a Itália, 38,3, a
Alemanha, 32,8. O índice no Brasil é de apenas 1,4.
Os
testes moleculares (PCR) precisam ser expandidos. Isso é fundamental. O teste
permite captar o número de pacientes, ajudar no planejamento de saúde e reduzir
a subnotificação. Com o teste, é possível definir o isolamento domiciliar para
que a pessoa infectada não contamine outros pacientes, explica ele.
Por causa da falta de testes, Jean Pierre Schatzmann Peron, pesquisador líder
da Plataforma Pasteur/ USP, que desenvolve estudos com foco em anticorpos e
imunopatogênese, calcula que o número de contaminados seja de três a cinco
vezes maior no País. A gente não consegue testar todo mundo, resume.
Alexandre Cunha, infectologista do Grupo Sabin e vice-presidente da Sociedade
de Infectologia do Distrito Federal, afirma que a principal preocupação tem de
ser com a velocidade de propagação da doença e não necessariamente com os
números absolutos.
Nos países onde se conseguiu manejar a epidemia sem sobrecarga do sistema de
saúde, a mortalidade foi a esperada. Nos países com situação hospitalar
razoável, mas onde o sistema de saúde entrou em colapso, a mortalidade foi
várias vezes maior do que em países onde o sistema suportou, argumenta.
Nossa
grande preocupação é a velocidade com que esses casos e a capacidade de
absorção do sistema de saúde. No Brasil, a situação tem de ser analisada em cada
município. O que é bom para uma região pode não ser boa para outra. Cada
município vai atingir o pico em momentos diferentes, diferencia.
Canais de distribuição
Por Antonio Penteado Mendonça, no
site do Sindseg SP
Faz pouco tempo, publicaram uma
pesquisa analisando o desempenho das startups do setor de seguros. Nos últimos
três anos, estas empresas apresentaram o significativo crescimento de 50%. O
dado interessante é que 60% delas atuam na área de suporte, ou seja, são
parceiras das seguradoras, oferecendo serviços e produtos para o backoffice das
companhias, enquanto apenas 30% se dedicam à distribuição de produtos, sejam
próprios, sejam das seguradoras tradicionais.
Pouco antes da pandemia do
coronavírus explodir no país, a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados)
criou um sandbox para encubar empresas com potencial de desenvolvimento
importante para o setor, garantindo-lhes condições diferenciadas para se
consolidarem no mercado, durante um prazo determinado, no qual elas podem atuar
com menos capital e reservas diferenciadas.
Além disto, o Governo incluiu na
Medida Provisória 905 a revogação da lei dos corretores de seguros, bem como
extinguiu a profissão, como desenhada ao longo dos últimos 50 anos da história
nacional. A Medida Provisória 905 não deu em nada, então voltou tudo a ser como
era antes e o corretor de seguros segue em frente, como o maior canal de
distribuição de seguros do país.
Ainda é cedo para determinar qual
será o impacto da pandemia do coronavírus no setor de seguros e mais cedo ainda
para se ter uma ideia de como se comportará a distribuição dos seguros depois
da pandemia.
Todavia, dentro do novo cenário, seja
ele qual for, haverá a consolidação de outros canais de distribuição que já
vinham ocupando espaço antes da covid19 tomar o Brasil de assalto.
São canais com potencial de
distribuição de determinados produtos que, por uma série de razões, não se adequam
à venda feita pelo corretor de seguros. Uma parte visa a população de baixa
renda. Então são produtos cujo preço unitário não permite a inclusão de uma
comissão de corretagem em patamar que viabilize a atuação de um corretor de
seguros. O prêmio é muito baixo, assim, a comissão gerada pelo negócio não
pagaria sequer a visita ao público alvo.
Estes seguros, ou pelo menos parte
deles, encontraram canais mais eficientes nas grandes cadeias de lojas e no
comércio varejista em geral, além das agências de bancos, onde os empréstimos
populares são feitos e, consequentemente, segurados.
Outros vão encontrando seu caminho
através da internet, que, apesar de ainda não ter deslanchado na
comercialização de produtos de seguros, aos poucos vai ocupando espaço, numa tendência
irreversível, fruto do uso maciço dos telefones celulares cada vez para mais
atividades.
Com pandemia ou sem pandemia, o uso
crescente dos celulares deve ganhar impulso de peso com a entrada em cena das
redes 5G, que prometem mais uma revolução radical na forma de vida das pessoas
e no uso das ferramentas colocadas à disposição delas.
Se as pessoas compram, atualmente,
cada vez mais produtos e serviços oferecidos pela internet, por que os seguros
ficariam de fora? Não faz sentido, ainda mais quando existe toda uma gama de
apólices e bilhetes que não necessitam a assessoria de um corretor, tanto que,
em vários países, são vendidos há décadas através de máquinas instaladas em
pontos estratégicos, como os aeroportos.
Não há porque seguros de acidentes
pessoais e seguros viagem não serem adquiridos através da internet. São
bilhetes com clausulados muitos simples e de fácil compreensão, que não
oferecem maiores dificuldades ao segurado, tanto na contratação, como no uso em
caso de sinistro.
Além disso, vários países do mundo
têm o corretor e o agente de seguros. Aqui também, não há razão para o Brasil
não compartilhar este desenho. E há a venda direta pela seguradora, desenho
previsto no Decreto-lei 73/66, que é a lei que regulamenta o setor de seguros privado
brasileiro, adotada por um grande número de seguradoras com atuação em
diferentes cenários internacionais.
A entrada em cena desses novos canais
não significa o fim do corretor de seguros e muito menos que eles serão
colocados no corner por um setor cruel, disposto a acabar com eles. Ao
contrário, com a competição, serão possíveis a comparação e o realce das
vantagens de se ter um corretor de seguros. Com certeza os corretores
profissionais saberão tirar vantagem disto e faturarão bem mais do que recebem
hoje.
Produção de
carros cai 99,3% em abril, pior número desde 1957
O Estadão informa que a pandemia do coronavírus,
que forçou o fechamento de todas as fábricas de veículos do País, levou o setor
a registrar em abril seu pior desempenho em produção em 63 anos, quando o dado
começou a ser divulgado. Saíram das linhas de montagem apenas 1,8 mil unidades,
volume que, em épocas normais, é muito próximo do que a Fiat produz em um dia
na fábrica de Betim (MG).
O dado de abril representa queda de
99% em relação ao mesmo mês de 2019 e também ante março passado. Nem em
períodos de greve ou de outras crises tivemos uma produção tão baixa, diz o
presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea), Luiz Carlos Moraes.
No acumulado dos quatro primeiros
meses do ano foram produzidos 587,7 mil automóveis, comerciais leves, caminhões
e ônibus, 39% menos na comparação com igual período de 2019. A exportação
também teve o pior resultado das últimas duas décadas, com o embarque de 96,2
mil veículos, queda de 31% ante o primeiro quadrimestre do ano passado.
Mesmo com produção tão baixa, fábricas
e revendas ainda têm 128 mil carros em estoques, suficientes para quatro meses
de vendas de acordo com a atual média diária de negócios. As fabricantes estão
apelando para promoções como pagamento da primeira parcela do financiamento só
em janeiro de 2021 ou venda a preços de fábrica.
As vendas de veículos novos somaram
55,7 mil unidades, número 76% inferior ao de um ano atrás. No acumulado, os
613,8 mil veículos vendidos estão 27% abaixo do resultado de 2019. Só no Estado
de São Paulo, que normalmente fica com 25% do total das vendas no País, a queda
foi de quase 100%, de 58,7 mil unidades em abril do ano passado para 551 neste
ano.
O segmento de carros usados reduziu
as vendas em 84%, de 946 mil unidades em janeiro para 153 mil no mês passado.
Moraes ressalta que, assim como as fábricas, a maioria das concessionárias está
fechada. Várias marcas estão reforçando as vendas pela internet e entregando
carros na casa do cliente.
Instabilidade política. A alta
cambial é outro problema para as montadoras. Na opinião de Moraes, grande parte
da desvalorização exagerada não é por problema econômico, mas político. Agentes
que deveriam estar trabalhando de forma coordenada para reduzir a crise estão
prejudicando ainda mais a situação. Segundo ele, há políticos que ainda não
perceberam a gravidade dessa crise.
O executivo faz um apelo aos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário para que trabalhem em conjunto para que o
País tenha um achatamento da curva das contaminações pelo coronavírus e, assim,
poder ajudar na retomada econômica. Todo dia tem uma crise de manhã, de tarde e
de noite, critica ele.
A instabilidade política pode
inclusive prejudicar a manutenção de empregos. A maioria das empresas fez
acordos de redução de jornada e salários com manutenção de empregos por cerca
de três meses, mas, passado esse período, é difícil falar em garantias, diz
Moraes. Vai depender da gestão correta da crise para achatar a curva da
recessão. As montadoras empregam hoje 125,3 mil trabalhadores, 4,9 mil a menos
que há um ano.
A Anfavea tem negociado com o governo
há 40 dias uma linha de financiamento para ajudar as empresas da cadeia
automotiva que, segundo a entidade, estão sem liquidez de caixa e com
dificuldades financeiras.
O setor propõe dar como garantia de
empréstimos os R$ 25 bilhões em crédito de tributos federais e estaduais que
deveriam ter sido devolvidos às empresas, mas seguem nos cofres dos governos. Não
estamos pedindo nenhum subsídio, afirma Moraes. Ainda não há retorno por parte
do Ministério da Economia. Bancos privados que participam das discussões
queriam que as matrizes das empresas assumissem as garantias. Montadoras,
autopeças e revendas precisam de R$ 40 a R$ 45 bilhões em capital de giro.
Lotação de UTIs
a 85% deve levar a bloqueio total, dizem especialistas
O Estadão relata que regiões em que as UTIs já
estão com 85% a 90% de sua capacidade preenchidas, como São Paulo e Rio, já
deveriam ter decretado lockdown (bloqueio total) e agora correm o risco de ver
seus sistemas de saúde entrarem em colapso nos próximos dias. Essa é a opinião
de especialistas em saúde ouvidos pelo jornal sobre a demora de governadores em
adotar medidas mais drásticas de isolamento social.
Eles afirmam que mesmo Estados que
adotarem agora o isolamento radical ainda têm chances de sofrer com a falta de
leitos, já que são necessárias pelo menos duas semanas para observar os efeitos
da medida.
Segundo Ederlon Rezende, membro do
conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e
coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo,
quando uma UTI chega a uma lotação de 85%, ela já é considerada cheia pois a
rotatividade dos pacientes é menor e o cenário pode mudar a qualquer instante. Esse
índice é problemático porque, dependendo do tamanho da UTI, se chegar dois ou
três pacientes, ela já lota e você começa a ter problema de falta de vagas,
explica ele.
O especialista relata que no Hospital
do Servidor Estadual, onde chefia a UTI, o número de leitos de terapia
intensiva dobrou por causa da pandemia e, mesmo com a ampliação, já chegou a
75% da capacidade. Se não tivéssemos aumentado, já teríamos colapsado. Só hoje
(ontem), tive sete novos pacientes entrando e só duas altas, diz.
Para o sanitarista Walter Cintra
Ferreira, professor de administração hospitalar e sistemas de saúde da Fundação
Getulio Vargas (FGV), embora seja difícil estabelecer a hora certa para o
lockdown, a lotação de 90% dos leitos do sistema público já é um indicativo
concreto de que a situação está à beira do colapso. Está claro que ainda não chegamos
ao pico. Com o aumento de mortes diárias, precisamos manter o distanciamento
social no País e decretar lockdown nos Estados que já têm 90% das UTIs ocupadas
porque isso significa que já há fila de doentes e que a situação chega perto da
perda de controle, afirma.
Segundo o governo paulista, os
hospitais estaduais da região metropolitana já operam com cerca de 90% de suas
UTIs ocupadas há pelo menos quatro dias. No Rio, mais de 400 pacientes aguardam
vaga de terapia intensiva na rede pública.
Os especialistas dizem que, se o
distanciamento social definido até agora tivesse sido bem-sucedido, talvez o
lockdown não fosse necessário. Agora, porém, a medida mostra-se inevitável em
algumas regiões. Para eles, as divergências nos discursos de lideranças políticas
e a demora do governo federal em pagar o auxílio emergencial fizeram com que a
adesão da população ao isolamento ficasse abaixo do esperado.
O governo federal errou em duas
questões: uma foi a postura do presidente Bolsonaro em minimizar a pandemia.
Com isso, as pessoas se sentiram compelidas a não seguir as orientações de
isolamento. A segunda é a demora no pagamento de auxílio. Isso já deveria estar
solucionado no mês passado, afirma Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Para Ferreira, foram questões políticas que impediram o País de adotar medidas de isolamento mais restritivas. Essa decisão deveria ter sido técnica. O objetivo principal de qualquer governante agora deveria ser salvar vidas. Mas muitos não quiseram arcar com o ônus de problemas econômicos. Mas podem ter outro ônus, que é o de pilhas de mortos, diz.
SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS APRESENTA IMPACTO NA
PRODUÇÃO E DEMISSÕES
A pandemia do novo coronavírus provocou queda
significativa no setor industrial brasileiro no mês de março, como apontou
pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
na última terça-feira (05). Em comparação com o mês anterior a queda foi de
9,1%. Segundo informou o instituto, dos 26 ramos da indústria 23 apresentaram
queda na produção. Dentre eles o mercado de máquinas e equipamentos com uma
queda de 9,1%.
De modo geral, o setor produtor de bens de capital
apontou uma queda de 15,2%, ou seja, taxa negativa mais elevada que a média
nacional, na comparação de fevereiro e março deste ano. De acordo com o
instituto, esse número eliminou o ganho de 13,8% no setor acumulado nos dois
primeiros meses de 2020.
O IBGE afirmou que este setor marcou a queda mais
acentuada desde março de 2018. A redução observada no segmento e também na
maior parte da indústria reflete os efeitos do isolamento social em razão da
pandemia. Isso afetou o processo de produção em várias unidades produtivas no
país. O instituto observou paralisações ou interrupções da produção em diversas
unidades.
A pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), Luana Miranda,
afirmou que a produção de máquinas e equipamentos deve ser duramente afetada
pela crise, tendo em vista que está intimamente relacionada com a capacidade de
investimento das empresas. Segundo ela, em um cenário de incerteza exacerbada,
o investimento tende a retrair. Ela destacou, no entanto, que um dos setores da
indústria mais afetados tende a ser o de bens de consumo duráveis, sobretudo
devido à queda na renda e no aumento do desemprego.
De acordo com os dados do IBGE isso tem se confirmado. A
confecção de artigos do vestuário e acessórios, com uma queda de 37,8%, e de
couro, artigos para viagem e calçados, com redução de 31,5% estão entre um dos
mais impactados pela pandemia. O instituto afirmou ainda que a queda nas
atividades do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, de 28%,
foi o que mais influenciou negativamente o resultado da indústria geral no
país. Neste ramo da indústria, o principal impacto ficou com a redução na
fabricação de automóveis.
Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entre os meses de março e abril
deste ano, o dado mais preocupante é a manutenção dos empregos no setor. A
pesquisa revelou que 21,4% das empresas pesquisadas demitiram 16,4% da mão de
obra, gerando uma redução de 11 mil postos de trabalho.
Em nota, o presidente da Abimaq, José Velloso, afirmou
que praticamente todas as empresas informaram que pretendem promover demissões
nos próximos meses. A estimativa é de que o número de demissões possa chegar a
15%, o que significaria, segundo ele, a perda de 50 mil postos de empregos
diretos e mais de 150 mil indiretos.
Mais de 70% do universo pesquisado pela Abimaq é
constituído por empresas exportadoras e, destas, mais de 50% registraram queda
das exportações na ordem de 56,2%. Outra preocupação tem sido com o aumento dos
preços de matérias-primas e materiais intermediários utilizados na produção.
Somada a isso, tem o aspecto da interrupção da cadeia de suprimentos que, para
além da queda de vendas, tem o potencial de inibir a atividade produtiva e o
atendimento da carteira de pedidos.
Para as empresas questionadas na pesquisa, uma das
medidas que poderia contribuir para a manutenção das atividades produtivas de
máquinas e equipamentos seria a postergação do pagamento dos impostos.
Na análise de Luana essa é uma crise difícil de
contornar. Isso porque, segundo ela, houve uma redução drástica da demanda
nacional e também em todo o mundo. A redução global ainda dificulta a
importação de insumos necessários para a produção doméstica. De acordo com ela,
as medidas de estímulo fiscal e monetário têm como objetivo amenizar os efeitos
negativos da crise, porém, a recessão é inevitável.
Fonte: Portos e Navios
CRISE NA PRODUÇÃO DE CARNE NOS EUA PODE ABRIR ESPAÇO PARA
EXPORTAÇÕES DO BRASIL
A crise na produção de carne em meio à pandemia nos
Estados Unidos deve fazer com que empresas americanas se voltem ao mercado
interno, abrindo mais espaço para as exportações do setor no Brasil.
Diante do fechamento de dezenas de frigoríficos nos EUA
desde o início da crise, especialistas afirmam que a carne brasileira pode ser
uma opção segura quando os principais concorrentes mundiais enfrentam situações
dramáticas na área de alimentos.
De acordo com relatório do Centro de Controle e Prevenção
de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), 115 instalações de processamento
de carne e aves relataram casos de Covid-19 espalhados por 19 dos 50 estados
americanos até o fim de abril.
Entre os 130 mil trabalhadores desses locais, houve 4.913
diagnósticos confirmados e ao menos 20 mortes.
As maiores companhias de carne do mundo estão entre as
que fecharam plantas nos EUA e reduziram a produção vertiginosamente por causa
da doença entre os funcionários.
Entre elas, estão Tyson Foods, Smithfield Foods e JBS
USA.
Os EUA são líderes mundiais da produção de carne bovina,
enquanto o Brasil é o maior exportador, com vendas que atingiram o recorde de
US$ 7,5 bilhões no ano passado.
Em termos gerais, a China é a maior produtora, com cerca
de 125 milhões de toneladas por ano. O país asiático consome mais carne suína
do que toda a produção de carne americana e ainda importa grande quantidade de
carne bovina e frango, terreno no qual o Brasil poderia ampliar sua já forte
atuação.
Na origem da pandemia, os chineses são os únicos entre as
grandes economias globais que devem experimentar um crescimento neste ano, de
1,2%, após terem alcançado cerca de 6% em 2019.
A recuperação deve ser de 9,2% em 2020, segundo o FMI
(Fundo Monetário Internacional), enquanto a retomada nos EUA será mais lenta,
na casa de 4,7%.
Professor de agronegócio global do Insper, Marcos Jank
diz que o Brasil não está imune a problemas nos frigoríficos, mas hoje é capaz
de suprir a queda de produção mundial e se beneficiar da alta do câmbio nas
exportações, além da reabertura da economia chinesa.
O Brasil pode e deve dar o recado ao mundo de que tem
produção para exportação segura. Nossos concorrentes estão em situação muito
difícil.
Além dos americanos, Jank cita Austrália, Argentina e a
própria China como países que tiveram problemas na produção de carne no
passado, culminando com a Covid-19 invadindo os frigoríficos em 2020.
Em nota à Folha, a JBS USA reconhece que a produção
diminuiu em algumas instalações por causa da pandemia, mas diz que a empresa
continua a atender o mercado interno.
O sistema agrícola americano é extremamente resiliente e,
enquanto algumas empresas fecharam temporariamente, a indústria da carne vai
continuar a atender às necessidades domésticas devido à queda nas exportações e
na demanda por serviços de alimentos.
Apesar de estar em rota crescente na curva da pandemia,
com mais de 115 mil casos e quase 8 mil mortes, o Brasil adotou rapidamente
medidas de prevenção na indústria de carne, como o uso de máscaras e o
distanciamento entre trabalhadores, o que não ocorreu nos EUA.
Com mais de 1,2 milhão de diagnósticos e 71 mil vítimas,
o país e seus produtores demoraram a agir.
Pelo menos 20 frigoríficos americanos fecharam durante a
pandemia, alguns deles somente no fim de abril, e muitos estão operando com
baixa capacidade.
Além disso, há muito desperdício de produtos, como
frangos e suínos, por exemplo, que precisam ser sacrificados e descartados por
falta de mão de obra ou de consumidores.
A JBS fechou quatro plantas nos EUA. A Smithfield Foods,
cinco. A Tayson Foods, por sua vez, fechou três de suas seis principais plantas
no país e as que permanecem abertas, operam apenas parcialmente.
O presidente do conselho da Tyson Foods, John Tyson,
disse em comunicado na semana passada que a cadeia de oferta de alimentos [dos
EUA] está se rompendo e que haverá disponibilidade limitada de nossos produtos
no mercado enquanto as plantas não reabrirem.
Preocupado com os danos econômicos em sua campanha à
reeleição, Donald Trump decidiu intervir.
Em meio ao aumento de preços da carne no mercado e a
escalada do desemprego no país, o presidente assinou uma ordem executiva para
que os frigoríficos se mantenham abertos.
Baseado no Ato de Defesa da Produção, criado em 1950 para
garantir a produção nacional, Trump quer evitar problemas de abastecimento, mas
a Tayson afirma que a medida não deve adiantar.
Nesta segunda (4), em conversa com investidores, a cúpula
da empresa afirmou que sua produção de carne de porco já havia despencado 50%,
diante de projeções de analistas de que as perdas podem ser ainda maiores.
A ordem de Trump dá às empresas cobertura legal e
proteção contra ações de responsabilização caso trabalhadores peguem o vírus
por terem que se manter em serviço.
Especialistas afirmam que ainda é difícil saber qual será
impacto da ordem do governo na produção de carne do país. Um dos termômetros
pode ser o preço e a disponibilidade dos produtos nas prateleiras.
Por enquanto, quem tiver menos danos na cadeia produtiva
e souber aproveitar os vácuos deixados pelos americanos conseguirá se
posicionar como agente capaz de garantir a segurança de alimentos no mundo
diante de uma crise sem precedentes, segundo Jank.
Fonte: Folha SP