Gestão de Riscos de Projetos de Geração Eólica
02, Set. 2020
Gestão de Riscos de Projetos de Geração Eólica
Fundamental no processo de análise
e tomada de decisão de investimento, a análise de riscos visa constatar se o
nível de exposição do investidor a riscos do projeto é tolerável e compatível
com o retorno esperado.
Fonte: Brasil Energia
A análise de riscos é etapa
fundamental no processo de análise e tomada de decisão de investimento e de
financiamento de um projeto de geração eólica. Imagine investir em um projeto
e, na fase operacional, defrontar-se com uma produção anual de energia
elétrica, na média, 10% abaixo do P50 estimado.
Relatório publicado pela Fitch
Ratings (2020)[1] apresenta uma análise comparativa da estimativa inicial de
produção anual de energia elétrica P50 certificada com a produção efetiva de 58
projetos operacionais de geração eólica e solar FV localizados em 12 países.
Dentre os projetos eólicos, 89% das medições anuais foram inferiores à
estimativa P50, sendo 53% abaixo em mais de 10%. Este é apenas um de inúmeros
riscos que projetos de geração eólica estão sujeitos.
É, portanto, essencial que o
investidor/credor realize, previamente ao investimento, uma análise de riscos
detalhada, completa, fundamentada e isenta. Neste sentido, o objetivo deste
artigo é propor metodologia para análise de riscos de projeto eólico e
definição da estratégia de mitigação e alocação destes riscos, do ponto de
vista do investidor.
Metodologia para Projetos de
Geração Eólica
No caso de projetos de geração
eólica, propõem-se as seguintes etapas para a metodologia de análise de riscos
e estratégia de gerenciamento:
Etapas da análise e gerenciamento
de riscos de um projeto de geração eólica
Identificação e Segmentação dos
Riscos
Nesta primeira etapa, a
identificação dos possíveis riscos deve ser exaustiva. Devem ser considerados
riscos desde a fase de desenvolvimento do projeto, da construção, da partida da
usina até a fase operacional. Após a identificação, a próxima etapa é a
segmentação em categorias. A segmentação é uma forma de organizar e categorizar
os riscos. Facilita sua identificação, análise e definição da estratégia de
gerenciamento. De forma a contemplar as particularidades de projetos de geração
eólica no Brasil, propõe-se metodologia com 14 categorias de risco, conforme
figura abaixo.
Categorias de riscos de projetos de
geração eólica
Engenharia, Construção, Instalação
e Montagem
São, por exemplo, os riscos de
acidentes durante a instalação e montagem de aerogeradores, sobrecusto no
investimento, atraso do início da operação comercial, erros que afetem o
desempenho futuro da usina (eficiência e disponibilidade) e performance
contratual de terceiros contratados que podem não cumprir preço, prazo ou
qualidade especificada nos contratos.
Operacionais
Consideram-se riscos operacionais
todos aqueles inerentes à manutenção, operação e conservação da usina eólica
que impactem seus custos, desempenho (eficiência e disponibilidade) ou vida
útil.
Responsabilidades
Englobam riscos de danos a
terceiros, usuários, empregados e subcontratados. Os riscos de
responsabilidades são amparados pelo Código Civil brasileiro. Ele estabelece,
no Parágrafo Único do artigo 927[2], que aquele que causar um dano a outrem
será obrigado a repará-lo.
Socioambientais
O risco ambiental existe quando os
impactos e características ambientais da implantação e operação do projeto
possam causar um atraso ou restrição em seu desenvolvimento e operação. Ou
quando demande investimentos e/ou compensações acima do previsto. O risco
social surge quando os impactos sociais do projeto possam causar um atraso ou
restrição em seu desenvolvimento e operação.
Caso Fortuito e Força-maior
Trata-se de eventos que vão além do
controle dos participantes de um projeto e que possam impactar, no curto prazo,
sua operação ou, por período prolongado, sua continuidade. São exemplos:
catástrofes naturais, guerra e, em alguns casos, greves.
Crédito
Este é o risco da usina vender e entregar
a energia elétrica, porém não ser paga, parcial ou integralmente, ou ser paga
em atraso.
Financeiro e Variação Cambial
É a exposição aos efeitos de
possíveis desequilíbrios no fluxo de caixa da usina, decorrentes das projeções
quanto à inflação, taxa de juros e de câmbio (BORGES; FARIA, 2002)[3]. Deve
também ser considerada como um risco financeiro a incompatibilidade de prazos
médios de recebimento e pagamento entre os diversos contratos do projeto.
Mercado
É o risco do projeto, ao longo de
sua vida útil, não gerar a receita esperada a partir de um dado volume de
produção. De forma simplificada, trata-se da equação volume de venda
multiplicado por preço de venda.
Regulatório e Tributário
É o risco de decisões
governamentais regulatórias e tributárias impactarem negativamente o fluxo de
caixa do projeto. Por exemplo, potenciais impactos causados pelas reformas do
setor elétrico (PLS nº 232/2016[4]) e tributária em discussão.
Político e Ato de Administração
Consideram-se riscos políticos, de
modo geral, as decisões políticas que afetem o projeto por meio de
manifestações unilaterais de governantes, políticos, administradores públicos e
legisladores (DABUS, 2017[5]). Exceção feita a decisões políticas regulatórias
e tributárias, enquadradas na categoria de risco Regulatório e Tributário.
Tecnológico
Existe quando a tecnologia adotada,
na escala proposta ao projeto, não tem um desempenho de acordo com as
especificações ou se torna prematuramente obsoleta (FINNERTY, 2013, p. 79,
tradução nossa[6]). Por exemplo, eventual frustração de desempenho de turbinas
de maior potência sem histórico operacional no Brasil.
Financiabilidade
É o risco de insuficiência parcial
ou total de recursos para financiar o projeto. Engloba capital próprio (equity)
e de terceiros (dívida), tanto para implementação do projeto quanto para
eventuais aportes complementares para concluí-lo ou recompor seu fluxo de
caixa. Do lado da dívida, contempla também o risco de atraso na contratação e/ou
desembolso de recursos e a obtenção de financiamento em condições menos
favoráveis do que o esperado.
Recurso Eólico
É o risco do recurso eólico ser
inferior ao estimado ou a produção de energia elétrica a partir de um dado
recurso eólico ser inferior devido a interferências naturais.
Margem de Escoamento
É o risco do projeto sofrer
qualquer restrição de acesso ao sistema de transmissão/distribuição de energia
elétrica ou de, tendo o acesso, sofrer qualquer restrição de despachar energia
elétrica. A restrição de acesso ou de despacho pode ser tanto temporária quanto
definitiva. No caso da restrição de despachar, ela pode ser tanto sobre uma
parcela do volume de energia elétrica produzida, quanto sobre o volume total.
Análise de Riscos
Deve-se avaliar, para cada risco,
possíveis causas, consequências, a severidade do potencial impacto no fluxo de
caixa do projeto e respectiva probabilidade de ocorrência. Ao final, será
possível concluir quais são os riscos mais críticos para os quais se deve dar
maior prioridade na elaboração da estratégia de gestão de riscos do projeto.
Recomenda-se o uso de uma matriz de riscos para facilitar a análise.
Matriz de Riscos, adequada para
projetos de geração eólica. Para exemplificar seu uso, listou-se dois riscos
hipotéticos aplicáveis a projetos do setor. Ambos foram classificados sob as
categorias Engenharia & Construção.
Matriz de Riscos de projeto de
geração eólica
Devem ser listados riscos
identificados específicos ao projeto em análise. Na Categoria a segmentação do
respectivo risco. Nas Causas, devem ser listadas todas as possíveis causas e
atribuída nota referente à probabilidade de ocorrência deste risco, derivado
destas causas. Na sequência, as Consequências, devem ser listadas as prováveis
consequências decorrentes da ocorrência do risco e atribuída nota referente à
severidade do impacto no fluxo de caixa do projeto. Por fim, está a
multiplicação dos parâmetros severidade e probabilidade, que possibilitará o
mapeamento dos riscos mais críticos.
O parâmetro probabilidade
representa a chance esperada de ocorrência de determinado risco. Deve ser dada
nota de 1 a 5, sendo 1 possibilidade remota e 5 provável. O parâmetro
severidade avalia o nível do impacto decorrente da materialização do risco no
fluxo de caixa do projeto. Deve ser dada nota de 1 a 5. Quanto maior o produto
dos parâmetros severidade pela probabilidade, maior atenção deve ser dada a
este risco. Esta informação vale tanto para direcionar quais premissas devem
ser submetidas à análise de sensibilidade (etapa 3), quanto para priorizar
esforços na definição e aplicação da estratégia de alocação e mitigação destes
riscos (etapa 4).
Mapa de gestão de riscos / Análise
de Sensibilidade
Classificados os riscos mais
relevantes, deve-se quantificar objetivamente seus potenciais impactos no fluxo
de caixa do projeto. Para isso, recomenda-se fazer análises de sensibilidade de
premissas, individualmente, no modelo econômico-financeiro. Nem todos os riscos
identificados corresponderão a uma premissa específica do modelo. Nestes casos,
para quantificá-lo, deve-se considerar suas consequências econômicas no fluxo
de caixa do projeto.
Todos os resultados das
sensibilidades devem ser comparados ao cenário base. Recomenda-se avaliar não
somente os impactos no VPL e na TIR do fluxo de caixa livre ao acionista, mas
também na TIR do fluxo de caixa livre ao projeto, no endividamento sobre usos
totais e no volume de capital próprio necessário.
Estas análises municiarão o
investidor/credor na avaliação da robustez da geração de caixa do projeto
quando sujeito a situações adversas. Quanto maior a variação do retorno do
projeto para cada variação unitária de uma premissa, mais representativa é esta
premissa e este risco. Logo, maior deve ser a dedicação em mitigá-lo e compartilhá-lo
com terceiros.
Estratégia de Mitigação e Alocação
dos Riscos
Mapeados os riscos mais relevantes
e quantificados seus impactos potenciais, deve-se elaborar a estratégia de
gerenciamento destes riscos. Quais ações tomar para diminuir a probabilidade de
ocorrência de riscos e atenuar a severidade de suas consequências financeiras
no fluxo de caixa do projeto?
Podem ser tomadas medidas de dois
tipos: mitigadoras das causas dos riscos, visando diminuir a probabilidade de
sua ocorrência; e mitigadoras das consequências, visando atenuar a severidade
das consequências financeiras de sua materialização. A primeira trata de ações
preventivas. A segunda, principalmente, de medidas para
alocação/compartilhamento dos impactos financeiros dos riscos com terceiros.
Para ilustrar a diferença destes
dois conceitos, serão analisadas ações de mitigação aplicáveis ao risco
sobrecusto na construção, considerado na Matriz de Riscos. Neste exemplo, seria
medida de mitigação da causa realizar análise de solo e subsolo no local onde
será construída cada uma das torres, previamente à contratação da construção.
Com isso, seria possível estimar com maior precisão o orçamento para fundações.
Seria medida de mitigação da consequência contratar apólice de seguro de Risco de
Engenharia com cobertura para acidentes decorrentes de fundações e serviços
correlatos. Neste caso, o sobrecusto seria alocado à seguradora até o valor do
limite da cobertura. Portanto, a consequência financeira do risco seria
compartilhada.
São cinco as estratégias possíveis
de alocação das consequências da materialização de um risco: (i) para terceiros
via contratos; (ii) para terceiros via apólices de seguro; (iii) para terceiros
via o uso de derivativos; (iv) para terceiros por meio de instrumentos de
garantias financeiras, como Seguro Garantia e Fiança Bancária; ou (v) assumir
integralmente o risco. A estratégia de alocação para terceiros pode ser
integral ou parcial (compartilhamento).
Na maioria dos casos as medidas de
mitigação, tanto de causas quanto de consequências, trazem custo adicional ao
projeto. Caberá ao investidor avaliar, via análise de sensibilidade no modelo
financeiro, a relação risco retorno de cada medida.
Conclusões
A identificação dos diversos riscos
depende do entendimento de um projeto em específico, inserido em um setor
específico com localização específica (HOFFMAN, 2008)[7]. Para isso, é
necessário entender e considerar as particularidades e riscos de projetos
eólicos aplicados à realidade brasileira.
Da mesma forma, a relevância e
abrangência de cada risco, assim como suas possíveis estratégias de mitigação e
alocação dependerão das características de cada projeto. Para Hoffman (2008),
os riscos de um projeto, cuja estruturação é feita por meio de project finance,
devem ser alocados àqueles participantes mais capacitados a gerenciá-los. O
racional é o de evitar agravação excessiva e desnecessária dos custos do
projeto. Em todos os casos, medidas mitigatórias para as causas dos riscos são
bem vindas. Isso, pois mesmo que um terceiro assuma determinado risco, ele irá
buscar uma remuneração adequada por assumi-lo.
Ao final, o objetivo da análise é
constatar se o nível de exposição pelo investidor/credor a riscos do projeto é
tolerável e compatível com o retorno esperado.
[1] Fitch Ratings. Global
renewables performance review: solar continues to surpass wind. Global
Infrastructure & Project Finance. Special Report. Publicado em 16/01/2020.
[2] BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília. 2002.
[3] BORGES, Luiz F. X.; FARIA,
Viviana C. S. Project Finance: considerações sobre a aplicação em
infraestrutura no Brasil. Revista do BNDES, v. 9, n. 18, p. 241-280, dez. 2002.
[4] BRASIL. Senado Federal. Projeto
de Lei do Senado nº 232/2016. Dispõe sobre o modelo comercial do setor
elétrico, a portabilidade da conta de luz e as concessões de geração de energia
elétrica, altera as Leis nº 9.427/1996, 9.478/1997, 9.648/1998, 10.847/2004,
10.848/2004, 12.783/2013 e a MP n. 2.227/2001.
[5] DABUS, André. Riscos
gerenciáveis e não gerenciáveis em concessões de rodovias. Revista de Direito
Público da Economia, v. 15, n. 57, p. 43-79, jan-mar. 2017.
[6] FINNERTY, John D. Project
financing: asset-based financial engineering. 3. ed. New York: John Wiley,
2013.
[7] HOFFMAN, Scott L. L. The law
and business of international project finance. 3. ed. Ardsley: Cambridge, 2008.
Eduardo Tobias Ruiz é
sócio fundador e Diretor da Watt Capital
André Dabus é Diretor
de Infraestrutura e Construção na Marsh Brasil
FIPE: Certificação em Gestão
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Mundo pós-pandemia:
Coronavírus vai mudar a vida da população mundial
Estudo aborda como a residência, a
saúde, a mobilidade e as viagens podem evoluir em 2021
Fonte: Allianz Partners / Sonho
Seguro
Com o fim da pandemia global,
previsto para dezembro de 2020, surgirá uma nova maneira de viver e o mundo,
com certeza, será muito diferente. Tendo em vista antecipar algumas mudanças
que moldarão essa nova realidade, a Allianz Partners, líder em assistência 24
horas e seguro viagem, produziu, em parceria com o Futurologista Ray Hammon, o
relatório Life after COVID-19. Dividido em quatro categorias, casa, saúde,
mobilidade pessoal e viagens, o conteúdo exclusivo traz os seguintes destaques:
Casa: as residências não serão mais
um lugar para passar apenas noites e fins de semana, elas se tornarão uma
fortaleza digital multifuncional;
Saúde: a tecnologia digital para a
saúde será a norma, incluindo a telemedicina e incentivando a rápida adoção de
tecnologias vestíveis, que são dispositivos inteligentes utilizados como um
acessório (relógios, pulseiras ou até mesmo óculos de realidade virtual);
Mobilidade pessoal: as viagens
rodoviárias voltarão aos níveis normais e as principais cidades do mundo
continuarão reorganizando a infraestrutura para estimular o uso da
micromobilidade;
Viagens: medidas rigorosas de
saneamento serão adotadas em todo o setor de lazer e turismo e as viagens
aéreas de lazer provavelmente voltarão aos níveis pré-COVID-19 somente após
alguns anos.
Que são melhor detalhados abaixo:
1) A casa assume uma dimensão
completamente nova
A Covid-19 acelerou o futuro das
casas e deu a elas um novo papel. Embora o trabalho em casa tenha sido uma
exceção antes da pandemia, ela se tornará cada vez mais normal para os empregos
que a permitem. O lar, portanto, se tornará mais do que apenas um local de
lazer, será um centro de trabalho. Isso incluirá seu uso crescente para
profissões como personal trainer, locutores de rádio e psicoterapeutas. Além
disso, a residência se tornará um centro de aprendizado, pois os universitários
terão cada vez mais probabilidade de passar um semestre ou dois na casa dos
pais. A casa do futuro também será transformada em uma fortaleza digital
com sensores inteligentes, e até mesmo monitoramento integrado de saúde, como
equipamentos e aplicativos de diagnóstico eletrônico, que permitirão a
segurança e a independência dos moradores.
No futuro, será um local em que
poderemos obter atendimento médico e acomodar equipamentos e serviços para
idosos. A longo prazo, algumas famílias poderão escolher criar espaço em casa
para cuidar de um membro da família que necessite de cuidados específicos. Além
disso, será possível realizar conexões de vídeo para permitir que as pessoas
vulneráveis sejam tratadas remotamente pelos profissionais de saúde, no
conforto de sua própria casa.
2) Os cuidados de saúde terão que
responder a novas expectativas
As sociedades reformadas que
emergirão da pandemia de 2020 estarão mais sábias e muito mais preparadas para
lidar com qualquer novo risco à saúde pública. A opinião pública exigirá mais
gastos com saúde por parte dos governos, e os países localizarão cada vez mais
cadeias de suprimentos médicos para garantir acesso rápido a medicamentos e
equipamentos.
Médicos e pacientes continuarão, na
medida do possível, a realizar consultas de rotina remotas e online, pois a
entrega digital de serviços e informações médicas tem o potencial de aliviar as
imensas filas dos sistemas de saúde. Durante a crise da Covid-19, além de
permitir consultoria e apoio aos pacientes, a telemedicina também ajudou a
impedir a propagação do vírus, reduzindo o número de pessoas que visitam
clínicas e hospitais. A tecnologia se tornará habitual com a rápida adoção de
tecnologias vestíveis.
Com a chegada da pandemia e o
subsequente isolamento social, o número de pacientes que relataram problemas de
saúde mental, como tristeza, aumento da ansiedade e depressão, aumentou drasticamente.
Os profissionais de saúde mental também têm feito uso considerável de
aconselhamento remoto, o que permite um melhor acompanhamento médico a longo
prazo para aqueles que mais sofrem.
Prevê-se que as consequências da
saúde mental durem mais que a própria pandemia; é muito provável que os
profissionais continuem a usar as consultas por vídeo em sua combinação de
métodos de tratamento no futuro.
3) Uma mudança em direção no
compartilhamento e mobilidade flexível
Embora o uso de máscaras inteligentes
permita identificar as pessoas doentes, o volume de passageiros nos trens será
reduzido e muitas pessoas vão repensar suas viagens. Durante os lockdowns, as
pessoas descobriram que podiam pedir suas compras ou outros itens de compras
online com facilidade e rapidez. Muitos trabalhavam em casa e agora se
perguntam se faz sentido possuir um carro. É provável que isso acelere a
tendência de aluguel de carros a curto prazo, e não a posse de carros, e
provavelmente aumente o número de pessoas que utilizarão o modelo de
compartilhamento de carros.
Nos últimos meses, milhares de
quilômetros de ciclovias foram construídas em cidades que estão sendo fechadas
ao trânsito. Viajantes de todo o mundo adotaram massivamente a bicicleta à
medida que emergem dos meses de isolamento social. Isso terá um impacto
positivo no uso de novos modos de micromobilidade, como bicicletas, bicicletas
elétricas, patinetes e scooters (compartilhadas e próprias) que podem levar as
pessoas para diversos lugares e ainda evitar o uso de transporte público,
ajudando a reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa e melhorando a
qualidade do ar.
Ao mesmo tempo, as autoridades
precisarão fornecer pontos de carregamento, criar mais ciclovias e regular o
uso para garantir que os motociclistas estejam seguro, respeitem os limites de
velocidade, usem capacete e tenham responsabilidade pelos itens de mobilidade
compartilhada. Com o aumento do uso e por ser um equipamento compartilhado, os
fornecedores precisarão garantir a segurança de todos e fornecer regras de
higiene e dicas de seguranças básicas.
4) A experiência de viagem nunca
mais será a mesma
A Covid-19 tem sido um verdadeiro
ponto de virada para a indústria de viagens: aviões permanecem aterrados,
serviços de trem reduzidos, navios de cruzeiro não puderam atracar por causa de
passageiros infectados e restaurantes e hotéis tiveram que fechar por causa de
medidas sanitárias. O período pós-pandemia abrirá uma nova era de precaução com
menos espontaneidade e mais proteção contra o vírus.
Prevê-se que o transporte aéreo de
curta distância e as viagens aéreas domésticas se recuperem primeiro, mas os
viajantes mudarão de comportamento, incluindo máscaras durante toda a jornada e
os abraços e beijos de despedidas dos familiares serão fora do aeroporto. Em
alguns casos, pontes de embarque, ou ponte telescópica para aviões serão usadas
como um túnel desinfetante. As companhias reduzirão as malas da cabine para
acelerar o embarque e reduzir o risco de contaminação, além de diminuir os
serviços de bordo.
Os mais afetados certamente serão a
indústria de cruzeiros, pois ninguém tem uma visão clara de como eles podem ser
organizados, respeitando o distanciamento social e, acima de tudo, a quarentena
de viajantes doentes para evitar a contaminação.
A hospitalidade será impactada por
medidas aprimoradas de saneamento. É provável que os restaurantes reabram com
menos horas, por menos dias, com muito menos mesas e menus bastante
simplificados. Enquanto isso, os pedidos de entrega e retirada de aplicativos
para smartphones continuarão em alta. Os pacotes all inclusive de hotel
provavelmente serão redesenhados para remover a entrega de comida e bebida em
estilo buffet, e assim garantir que os hóspedes recebam serviço em suas mesas
individuais e distanciadas. As excursões locais deverão ser fornecidas para
festas individuais e, inevitavelmente, serão mais caras.
Finalmente, as viagens de negócios
serão reconsideradas, pois a pandemia mostrou que o gerenciamento global de
projetos pode ser feito por videoconferência, permitindo reduções de custos
financeiros e de emissões de Gases de Efeito Estufa. Provavelmente, apenas
reuniões comerciais, exposições e eventos esportivos internacionais voltarão
aos níveis normais no futuro próximo.
Sirma Boshnakova, CEO da Allianz
Partners, comenta: A crise do Coronavírus tem nos levado a muitas mudanças na
maneira como vivemos nossa vida cotidiana e, com isso, as expectativas e os
comportamentos dos consumidores evoluíram. Encomendamos este relatório para
poder antecipar e desenvolver as soluções mais inovadoras e eficazes para
nossos clientes, oferecendo a eles tranquilidade agora e no futuro. Como líder
em serviços de assistência 24 horas e seguro viagem, estamos prontos para
apoiar as transformações nos negócios mais importantes para o nosso grupo:
residencial, saúde, auto e viagens.
Rússia anuncia que 1º lote
de vacina contra Covid-19 está previsto pra setembro
Fonte: InfoMoney
A vacina ganhou noticiários após
ser a 1ª contra a Covid-19 aprovada e pela crítica da comunidade cientifica
sobre a falta de testes
Nesta segunda-feira (31), Mikhail
Murashko, ministro da Saúde da Rússia, anunciou que o primeiro lote da vacina
desenvolvida pelo país, chamada de Sputnik V, estará pronto no começo do mês de
setembro. Segundo a autoridade russa, uma campanha de vacinação em massa
começará no país em outubro deste ano.
A vacina será primeiramente dada
para trabalhadores da área da saúde e professores, disse Murashko, afirmando
também que a vacinação não será obrigatória.
O Ministério da Saúde russo ainda
afirmou que mais de 20 países já encomendaram doses do medicamento. A
expectativa é que a população civil do país comece a ser vacinada a partir do
dia 1º de janeiro de 2021, segundo um registro no site do ministério da saúde
russo.
Vacina foi aprovada, mas testes
começam agora
Embora já tenha sido aprovada, a
vacina russa deve iniciar sua terceira fase de testes, com 40 mil voluntários,
nesta semana, segundo informações publicadas no Clinical Trials, site do
governo americano que compila estudos clínicos privados e públicos conduzidos
em todo o mundo.
Dos 40 mil voluntários, a
expectativa é que 30 mil participantes recebam a vacina, e os outros 10 mil, um
placebo (substância inativa), para servir de grupo de controle. Murashko declarou
que já foram recrutadas cerca de 2,5 mil pessoas para os testes.
O ministro ainda disse que a
produção da vacina caminha paralelamente ao monitoramento, pós-registro, da
eficácia da imunização.
Quanto à vacinação contra o
coronavírus, neste momento, simultaneamente, o aumento da produção e a
observação pós-registro estão em andamento. Em primeiro lugar, claro, as
vacinas serão fornecidas para profissionais de saúde e professores, e isso
[vacinação] será absolutamente voluntária, declarou.
Vacina ainda levanta dúvidas
A Sputnik V ganhou os noticiários
mundiais não apenas por ter sido a primeira vacina contra a Covid-19, mas
também pelas críticas da comunidade cientifica internacional, que questiona a
falta de estudos que comprovem a eficácia e segurança da vacina.
De acordo com o último relatório da
Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 28 de agosto, 33 vacinas
contra o coronavírus estão em fase de testes e outras 176 estão em
desenvolvimento. Das 26 em testes clínicos, 6 estão na última fase.
Agronegócio ajuda no
superávit recorde da balança comercial
Queda de 25,1% nas importações e de
apenas 5,5% nas exportações em agosto.
Fonte: Monitor Mercantil
A queda nas importações em ritmo
maior que a redução das exportações fez a balança comercial registrar superávit
recorde em agosto. No mês passado, o país exportou US$ 6,609 bilhões a mais do
que importou, o melhor resultado para o mês desde o início da série histórica,
em 1989.
Tanto as exportações como as
importações caíram no mês passado. Em agosto, o país vendeu US$ 17,741 bilhões
para o exterior, com recuo de 5,5% pelo critério da média diária em relação ao
mesmo mês do ano passado. As importações, no entanto, caíram mais, somando US$
11,133 bilhões, redução de 25,1% também pela média diária.
No momento em que o governo divulga
no Orçamento para 2021 uma redução de US$ 80 milhões para o agronegócio, o
superávit obtido em agosto deve-se, fundamentalmente, as exportações da
agropecuária que subiram 32,64%. Entre os produtos que puxaram o crescimento
das exportações agropecuárias, os destaques foram a soja, cujo valor vendido
aumentou US$ 443,3 milhões em relação ao mesmo mês do ano passado, e o algodão
bruto, com alta de US$ 80,9 milhões na mesma comparação.
Com o resultado de agosto, a
balança comercial acumula superávit de US$ 36,594 bilhões nos oito primeiros
meses do ano. Esse é o terceiro melhor resultado da série histórica para o
período, perdendo para janeiro a agosto de 2017 (superávit de US$ 48,1 bilhões)
e de 2018 (superávit de US$ 36,7 bilhões).
No acumulado de 2020, as
exportações somam US$ 138,633 bilhões, retração de 6,6% na comparação com o
mesmo período de 2019 pela média diária. As importações totalizam US$ 102,039
bilhões, recuo de 25,1% pelo mesmo critério.
A maior parte da alta do saldo em
agosto é explicada pela queda da importação da indústria extrativa, que recuou
59,51% em relação ao mesmo mês do ano passado, e da indústria de transformação,
cujas compras do exterior encolheram 23,78%. Do lado das exportações, as vendas
da indústria de transformação caíram 14,2%, e as vendas da indústria extrativa
recuaram 8,6%.
Categorias
Na indústria extrativa, caíram as
exportações de minério de ferro, com retração de US$ 442 milhões em relação a
agosto do ano passado, e de óleos brutos de petróleo, com recuo de US$ 451,6
milhões. Nos dois casos, a queda deve-se à variação negativa dos preços
internacionais na comparação com 2019, porque os volumes embarcados ficaram
estáveis no caso do ferro e aumentaram 21% no caso do petróleo.
Na indústria de transformação, as
maiores quedas foram registradas nas exportações de motores e máquinas não
elétricos (-US$ 187 milhões), celulose (-US$ 157,8 milhões) e óleos
combustíveis de petróleo (-US$ 152,6 milhões). Além da pandemia de covid-19,
que impactou a economia em todo o planeta, a crise na Argentina, principal
destino das exportações industriais brasileiras, contribuiu para o resultado.
Depois de o saldo da balança
comercial ter encerrado 2019 em US$ 48,035 bilhões, o segundo maior resultado
positivo da história, o mercado estima menor superávit em 2020, motivado
principalmente pela pandemia do coronavírus, causador da Covid-19. Segundo o
boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo
Banco Central, os analistas de mercado preveem superávit de US$ 55 bilhões para
este ano. Em julho, o Ministério da Economia atualizou a estimativa de saldo
positivo para US$ 55,4 bilhões.
Produção, vendas internas e
demanda dos produtos químicos de uso industrial sobem em julho
Fonte: Abiquim
Apesar da recente retomada, ainda
não foi possível reverter a trajetória negativa no acumulado do ano
A produção de químicos de uso
industrial teve a segunda alta em dois meses e subiu 15,21% em julho, em
comparação com junho, quando o índice já tinha subido 11,26% na comparação com
o mês anterior. Também em julho, as vendas internas cresceram 22,69% e somado
aos crescimentos alcançados em junho, 19,53% e em maio, 16,02%, o índice de
vendas internas acumulou aumento de 70,1% nos últimos três meses em comparação
com abril, segundo dados do Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da
Abiquim.
Já o consumo aparente nacional
(CAN), que mede o resultado da soma da produção mais importação excetuando-se
as exportações, cresceu 16,9% em julho, na comparação com o mês anterior. No
entanto, chama a atenção a alta do volume importado que subiu 22,6% na mesma
base de comparação. O índice de utilização da capacidade instalada também
apresentou elevação em julho, alcançando 76%, contra 70% em junho e 62% em
maio.
Esta recente recuperação traz
alívio ao setor e sinaliza que o ?fundo do poço? parece realmente ter sido
alcançado em abril e maio e o momento agora é de recuperação das perdas, se não
houver uma segunda onda da pandemia, avalia a diretora de Economia e
Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira.
Mas a diretora da Abiquim ressalta:
apesar da retomada mais recente, no acumulado do ano ainda não foi possível
inverter a trajetória negativa. De janeiro a julho de 2020, sobre igual período
do ano anterior, a produção recuou 5,89%, as vendas internas caíram 8,62% e a
taxa de utilização da capacidade instalada ficou em 70%, mantendo nível baixo
para o padrão de operação da indústria química.
Ainda no resultado acumulado de
2020, em comparação com o mesmo período do ano passado, o volume de produtos
importados teve elevação de 20%, enquanto as exportações recuaram 10,3% e o CAN
teve elevação de 8,2%. Dessa forma, a participação do produto importado sobre a
demanda local foi de 44% no período, quatro pontos porcentuais acima de iguais
meses do ano passado.
Para mudar essa situação é
fundamental que o projeto de lei (PL) 6.407/2013, PL do Gás, seja aprovado no
Congresso Nacional o mais breve possível, dando sinais positivos para os
investidores inserirem o Brasil como atrativo para receber novas plantas e
melhorar a competitividade da indústria nacional, que poderá ter acesso a
matéria-prima e energia a preços similares aos praticados nos Estados Unidos e
Europa. As vendas internas melhoraram, mas o produto importado tem ganhado
espaço no mercado local e nos últimos anos, alguns importantes produtos
químicos deixaram de ser produzidos no País, como metanol, isocianatos, dentre
outros, apenas para ficar naqueles cuja matéria-prima principal é o gás
natural. Como consequência perdemos valor agregado, impostos, empregos de
qualidade, ou seja, o País ficou mais pobre, avalia Fátima.
Saúde precisa de
complementaridade entre público e privado
Queda no número de usuários de
planos pode sobrecarregar o SUS
Fonte: Folha de S.Paulo
A Folha de S.Paulo destaca que a
evasão de beneficiários não só afogou ainda mais o sistema público, que
vivenciou os limites de sua capacidade, como acentuou a queda da receita de
hospitais e seguradoras no setor privado. O cenário, entretanto, trouxe
ensinamentos importantes para o futuro da saúde brasileira no pós-pandemia.
Para especialistas reunidos na
sétima edição do fórum A Saúde do Brasil, realizado pela Folha nos dias 26 e 27
de agosto, a complementaridade entre público e privado é peça-chave na
preparação do sistema para futuras crises e gestão da demanda reprimida que
começa a retornar agora aos hospitais.
A saúde complementar ainda está
muito relacionada com o emprego, apontou Vera Valente, diretora-executiva da
FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), ao explicar que a queda no
número de beneficiários está relacionada à situação econômica no país, que
aniquilou 8,9 milhões de postos de trabalho só no segundo trimestre do ano,
segundo o IBGE.
Desde março, dados da Agência
Nacional de Saúde mostram que 311 mil pessoas deixaram planos coletivos
empresariais de assistência médica. De 31,7 milhões de beneficiários na
categoria, o número caiu para 31,4 milhões.
A FenaSaúde reúne as maiores
empresas do setor. Para abrir mais possibilidades, Valente vê a necessidade de
discutir maior flexibilização e criação de modelos para atrair usuários. Vai
ter sempre uma parcela da população que vai depender somente do SUS, mas, se
você consegue trazer uma parte [para o privado], você desafoga o sistema
público, completou.
Médico infectologista e
ex-coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo,
David Uip diz ser absolutamente necessário que a saúde pública e privada
trabalhem em conjunto, não apenas em momentos de crise.
Se o Brasil sustentou essa
epidemia, deveu-se à integração do SUS, extremamente competente, e da medicina
de convênios, disse. Em São Paulo, por exemplo, não sucumbimos, diferentemente
de outras metrópoles como Nova York, porque temos um sistema que funciona bem.
Com uma experiência de mais de 40
anos trabalhando no sistema público, Uip conhece de perto as limitações do
sistema, como repasses insuficientes por parte do governo federal e o excesso
de burocracia. Posso dar um exemplo de eficiência que estamos vivendo agora na
pandemia. O índice de mortalidade intrahospitalar, especialmente na UTI, está
variando de 8% a 80%, diz Uip.
A diferença, explica o médico, está
entre um hospital ser bem estruturado, protocolado e ter profissionais
treinados adequadamente e o outro, não. Quando você tem essa eficiência, você
tem todos os caminhos encurtados porque tem como agir da melhor forma e também
cai o custo, completa.
Na mesma linha, Gonzalo Vecina,
professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, acredita que o momento de
fortalecer o SUS para fazer frente aos desafios do futuro é agora. Vecina
criticou algumas posturas do atual governo, como a falta de um ministro à
frente da pasta em um momento de pandemia, e a proposta do programa Renda
Brasil, de Paulo Guedes (Economia), que inclui a extinção do programa Farmácia
Popular.
Criado em 2004, o Farmácia Popular
distribui medicamentos básicos com valores reduzidos em até 90% ou gratuitos,
bancados pelo governo. O programa vem passando por cortes orçamentários e
diminuição no número de clientes atendidos.
Eu me preocupo com o que está por
vir, quando o auxílio emergencial deixar de ser pago. As pessoas não terão
emprego, e haverá uma crise econômica e social na qual o SUS será ainda mais
afetado, afirmou Fernando Torelly, superintendente corporativo do HCor, o
Hospital do Coração, que atende o sistema público.
Especializado em tratar problemas
cardíacos, o hospital entrou na linha de frente no combate à pandemia e hoje
está com 90% de ocupação, diz Torelly.
PLANO DE SAÚDE DEVE OFERECER
ATENDIMENTO PRIMÁRIO A CLIENTES
Foi unânime, entre os convidados do
seminário, a ideia de que é preciso reestruturar a assistência médica,
prestando mais atenção à saúde primária. É preciso sair do que Vera Valente
chama de cultura hospitalocêntrica, que enche pronto-socorros sem necessidade e
aumenta os custos do sistema como um todo. Nem tudo precisa ser resolvido no
hospital, afirma a diretora-executiva da FenaSaúde.
Torelly conta que, em abril, a
redução no atendimento do pronto-socorro no Hcor foi de 62% quando comparado
com o mesmo mês em 2019, mas as pessoas já estão perdendo o medo de ir aos
hospitais. Agora, o volume está 22% abaixo em relação ao ano anterior.
Está ocorrendo uma retomada, só que
é um perfil diferente, de pacientes mais graves que realmente precisam e acho
que a tendência vai permanecer, avaliou.
O professor Vecina, que foi
presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) entre 1999 e
2003, defende que a mudança não pode resultar apenas da iniciativa do paciente.
O sistema só se equilibrará se operadores passarem a oferecer porta de entrada
da atenção primária, que hoje é o consultório privado e que nem sempre tem
cobertura.
Após críticas do presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a ANS anunciou o adiamento de reajustes de
planos de saúde por um período de 120 dias, a contar a partir de setembro. A
suspensão dos reajustes de contratos de planos de saúde vale para todos os
tipos de plano: individuais e familiar e coletivos (por adesão e empresariais).
A medida será válida para reajustes
anuais e por mudança de faixa etária dos planos de assistência médica e
odontológicos. A decisão da ANS não retroage, ou seja, quem já teve o aumento
antes não se beneficia da mudança.
Maia afirmou que, se a ANS não
revisasse a medida, a Câmara votaria um projeto de lei do Senado que proíbe
reajustes dos convênios. A reação veio após a ANS liberar reajuste de 25,3% de
um plano de saúde por adesão, o que Maia descreveu como um desrespeito com a
sociedade.
Vera Valente diz que a mídia deu
muita repercussão para um caso isolado, de uma carteira antiga com
sinistralidade alta. Ela sublinha que tais medidas devem ser pensadas com
cautela. Na saúde suplementar algumas decisões miram o individual, o imediato,
mas acabam prejudicando o coletivo.
Suspensão de reajustes e ampliação
de cobertura comprometem a relação contratual e a rede de sustentabilidade do
sistema, o que pode levar à expulsão de usuários e ao comprometimento
financeiro do hospital, disse.
No dia 29 de julho, a ANS também
incluiu testes sorológicos que detectam a presença do vírus pesquisa de
anticorpos IgA, IgG ou IgM (com Diretriz de Utilização)na lista de coberturas
obrigatórias dos planos de saúde. A cobertura já está valendo.
A conversa foi mediada pela
jornalista Mariana Versolato, editora de Ciência, Saúde, Ambiente e Equilíbrio.
O fórum teve patrocínio da FenaSaúde, da Rede DOr e da seguradora SulAmérica.