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Pagar ou não o seguro de lucros cessantes em decorrência da pandemia?

20, Out. 2020

Pagar ou não o seguro de lucros cessantes em decorrência da pandemia?

Eis a questão que tem dominado discussões entre segurados e advogados no mundo todo e também no Brasil

Pagar ou não pagar indenização de lucros cessantes por conta da pandemia? Eis a questão que tem tirado o sono de segurados e advogados. Desde que o FCA (Financial Conduct Authority), órgão regulador do setor de seguros no Reino Unido, iniciou em junho deste ano demanda perante as Cortes do Reino Unido visando obter determinação judicial sobre certas questões relacionadas ao seguro de lucros cessantes no contexto da pandemia Covid-19 (o “FCA Test Case”), as discussões sobre as tendências do que vai influenciar os pagamentos no Brasil não cessam.

Ricardo Lewandowski e Pablo Hanna, advogados da Clyde & Co, é importante deixar claro que o objeto da discussão no FCA Test Case está limitado a determinadas coberturas adicionais que foram especificamente contratadas pelos segurados e não dependem da ocorrência de dano material (property damage). São as chamadas non-damage covers.[1]

Ou seja, a cobertura básica de lucros cessantes, que tem como requisito a ocorrência de dano material, não é objeto do FCA Test Case. Não só a manifestação inicial do FCA,[2] como também a decisão judicial divulgada no dia 15.09.2020,[3] expressamente registram esse importante aspecto.

Nesse sentido, a opção do FCA de não incluir a cobertura básica de lucros cessantes no objeto do FCA Test Case demonstra um reconhecimento do órgão regulador, ao menos implícito, de que será muito difícil defender que o requisito de dano material (property damage) estaria caracterizado nas hipóteses em que a interrupção de negócios do segurado foi causada pela pandemia Covid-19.

No Brasil, tanto a cobertura básica, como também as coberturas adicionais, usualmente exigem a caracterização de dano material. E a existência de coberturas ‘non-damage’ tratadas no FCA Test Case é rara nas apólices brasileiras. É preciso, portanto, ter muita cautela ao mencionar a decisão no FCA Test Case como um precedente para a realidade brasileira, valendo ressalvar ainda que o FCA e a maioria das seguradoras envolvidas manifestaram a intenção de recorrer diretamente à Suprema Corte.

O comunicado oficial do FCA emitido em 01.05.2020, antes do início do FCA Test Case, parece corroborar o entendimento de que não poderia ser acionada a cobertura securitária que exige que o lucro cessante seja decorrente de dano material: As stated in our Dear CEO letter of 15 April, our view is that most SME insurance policies are focused on property damage (and only have basic cover for BI as a consequence of property damage) so, at least in the majority of cases, insurers are unlikely to be obliged to pay out in relation to the coronavirus pandemic.[4]

O objeto do FCA Test Case é, portanto, especificamente delimitado para determinadas coberturas adicionais que não exigem dano material (non-damage covers) e é nesse contexto que a decisão proferida em 15.09.2020 deve ser avaliada pelo mercado segurador brasileiro, sempre levando em conta também as especificidades locais e o clausulado das coberturas contratadas nas apólices aqui comercializadas.

Já Pedro Ivo Mello, sócio Raphael Miranda Advogados, discorda. No Brasil é totalmente diferente. De fato esse é o tema tratado na ação da FCA, mas o conceito de dano material no direito daquele país é distinto do conceito de dano material do direito brasileiro. Logo, a conclusão deles parte de uma premissa equivocada, na minha opinião.

Mello argumenta que o conceito de property damage não pode ser traduzido, de forma literal, para o português e para o direito brasileiro. No Reino Unido prevalece o entendimento (há posições contrárias, destaco) de que o property damage seria uma dano físico a um bem do segurado, i.e., dano que atinja as propriedades físicas/corpóreas de um determinado ativo do segurado.

Algumas coberturas adicionais para perturbação ou interrupção no giro de negócios dos Segurados (leia-se, lucros cessantes), como as coberturas de doenças transmissíveis e impedimento de acesso por ordens se autoridades tornam desnecessária a ocorrência de danos físicos aos bens dos segurados para que haja acionamento da Apólice. Danos materiais, segundo o Codigo Civil, doutrina e jurisprudência pacíficas são compostos de danos emergentes e lucros cessantes. Logo, dano material não é igual a dano físico, refuta.

Mais do que isso, defende Mello, o conceito jurídico de dano compreende a impossibilidade de uso do bem de propriedade do segurado. Logo, o impedimento de acesso a um bem sobre o qual recai o interesse segurado é considerado dano material, segundo a lei brasileira.

Segundo Mello, as coberturas examinadas no test case do FCA, notadamente a de impedimento de acesso por ordem de autoridades, têm sim comercialização relevante no Brasil, especialmente em grandes riscos, em apólices de Riscos Noemados e Operacionais. E, usualmente, essa cobertura prevê expressamente que não são necessários danos físicos à propriedade dos segurados para que os lucros cessantes sejam devidos.

Portanto, o precedente serve como importante parâmetro interpretativo no Brasil.

Enfim, este debate ainda vai longe.

Citações

[1] Foram examinados vinte e um clausulados emitidos por oito seguradoras (Arch, Argenta, Ecclesiastic, Hiscox, MS Amlin, QBE, Royal & Sun e Zurich). As coberturas que não exigem dano material (non-damage covers) e foram analisadas no FCA Test Case foram separadas em 3 categorias: Disease Clauses, Prevention of Access Clauses e Hybrid Clauses (esta última categoria inclui certos componentes das outras duas).

[2] tion losses arising from the COVID-19 pandemic (‘COVID-19 business interruption claims’) are covered by certain insurance extensions or other coverage clauses that do not require damage to the insured’s property. […] The FCA, in consultation with the Defendants, other insurers, policyholders, brokers and other stakeholders has conducted a comprehensive review of the policy wordings for business interruption insurance that exist in the market. It has focussed not on policies that require physical or property damage but rather on those that have ‘non-damage’ covers or extensions. It has identified certain policies in relation to which it claims declaratory relief. (FCA Amended Particulars of Claims, 26/06/2020, p. 1 e 154)

[3] The Court is asked to construe a number of wordings which contain non-damage ‘extensions’ to the ‘standard’ Business Interruption (‘BI’) cover provided by the relevant insurers. That ‘standard’ cover is contingent on the occurrence of physical or material damage to the insured premises. There is no dispute before the Court about whether there is cover under such ‘standard’ BI cover.  

[4] A carta Dear CEO de 15.04.2020 emitida pelo FCA afirma o seguinte: Based on our conversations with the industry to date, our estimate is that most policies have basic cover, do not cover pandemics and therefore would have no obligation to pay out in relation to the Covid-19 pandemic. While this may be disappointing for the policyholder we see no reasonable grounds to intervene in such circumstances.

Fonte: Sonho Seguro

O impacto da Covid-19 na globalização perdurará?

Conforme os líderes enfrentam dificuldades para dirigir suas organizações em meio à pandemia de Covid-19, decisões que variam de onde vender a como gerenciar cadeias de suprimentos dependem de expectativas sobre o futuro da globalização. A pandemia provocou uma nova onda de obituários da globalização, mas os dados e previsões mais recentes sugerem que os líderes devem se planejar para um cenário, bem como influenciá-lo, no qual as pressões exercidas pela globalização e antiglobalização continuem sendo características duradouras do ambiente de negócios.

A crise e a resposta necessária em termos de saúde pública estão causando o maior e mais rápido declínio nos fluxos internacionais da história moderna. As previsões atuais, embora inevitavelmente difíceis nesse estágio, demonstram um declínio de 13 a 32% no comércio de mercadorias, uma redução de 30 a 40% no investimento direto estrangeiro e uma queda de 44 a 80% no número de passageiros aéreos internacionais em 2020. Esses números implicam uma grande reversão dos ganhos recentes da globalização, mas não sinalizam que a integração do mercado internacional entrará em colapso.

O volume das exportações mundiais de mercadorias em 2020 pode cair para um nível observado pela última vez em meados do fim da década de 2000, de acordo com a última previsão da OMC. Isso representaria uma queda extremamente dolorosa, especialmente no contexto da economia mundial de hoje, que é maior e mais complexa. Mas mesmo as previsões comerciais mais pessimistas não implicam um isolamento em um mundo de mercados nacionais desconectados. A maior parte da aceleração da integração comercial desde o fim da Segunda Guerra Mundial deve permanecer intacta.

Se é improvável que os fluxos comerciais em queda revertam a globalização, o que dizer do declínio ainda mais acentuado previsto no investimento direto estrangeiro (IDE)? Assim como outros fluxos de capital, o IDE tende a ser volátil. Portanto, um declínio de dois dígitos não é tão alarmante como se acredita. Os fluxos de IDE, por exemplo, caíram 38% durante a crise financeira global. E uma redução nos fluxos de IDE não necessariamente significa uma recessão da globalização corporativa. A atividade comercial estrangeira de empresas multinacionais nem sempre acompanha de perto as tendências do IDE.

Por outro lado, o colapso das viagens internacionais se destaca em meio a uma tendência de crescimento muito mais constante, e seus danos são incontestáveis. O turismo contribui mais para a produção global do que a fabricação automotiva, e as viagens de negócio facilitam o comércio internacional e o investimento. No fim de abril de 2020, todos os países impuseram restrições às viagens internacionais e 45% dos países fecharam parcial ou completamente suas fronteiras a visitantes estrangeiros. As companhias aéreas estavam voando com 90% menos assentos em voos internacionais, em comparação com 62% nos voos domésticos. Esse colapso sem precedentes, no entanto, ocorre após um aumento no número de viagens internacionais. Mesmo se o número de passageiros de companhias aéreas internacionais fosse reduzido em dois terços, ainda haveria mais pessoas voando para o exterior do que em 2003.

Quais são as perspectivas da globalização pós-coronavírus?

As previsões atuais dizem que os fluxos internacionais devem voltar a crescer à medida que a pandemia fique sob controle. Portanto, 2020 provavelmente será um ponto baixo para muitas métricas de globalização. Mas qual será a intensidade da queda? Quando podemos esperar pela recuperação dos fluxos globais? E como os padrões de fluxo do futuro se diferenciarão dos do passado? Nenhuma dessas perguntas pode ser respondida com precisão ainda, mas os líderes podem encontrar pistas sobre o futuro e as implicações reais para suas empresas, concentrando-se em cinco principais fatores da trajetória da globalização:

1. Comece com padrões de crescimento global, onde a principal lição diz que os fluxos internacionais tendem a mudar drasticamente com os ciclos macroeconômicos. Nos bons tempos, eles geralmente crescem mais rapidamente do que o PIB, e nos maus momentos também diminuem de maneira mais rápida, à medida que pessoas e empresas se acomodam dentro de suas fronteiras.

Atualmente, só é possível recuperar o crescimento robusto quando a pandemia estiver claramente controlada. Lembre-se, porém, de que a globalização também pode contribuir muito para o crescimento e a saúde. Países com pontuações mais altas no Índice de Conectividade Global da DHL tendem a apresentar um crescimento econômico mais rápido. Existem evidências de que países mais conectados, mesmo depois de controlar estatisticamente os níveis de desenvolvimento econômico, são menos vulneráveis a surtos de doenças infecciosas, em parte devido a sistemas de saúde mais sólidos.

Isso significa que os líderes empresariais globais podem fazer mais do que apenas observar tendências sobre doenças e dados econômicos; eles podem ajudar a transformar o saldo de loops de feedback negativo para positivo, contribuindo para a saúde, o crescimento e a cooperação internacional. Empresas de todos os setores já entraram em ação para fabricar suprimentos médicos urgentemente necessários. As grandes empresas também podem amenizar o impacto econômico da pandemia, por exemplo, seguindo a liderança da Unilever, que pagou seus fornecedores em menos tempo e estendeu seu suporte a funcionários, contratados e clientes. E elas podem apoiar mercados abertos, como a 3M fez quando resistiu a um bloco proposto para exportações de suas máscaras dos Estados Unidos para o Canadá e a América Latina.

2. As políticas da cadeia de suprimentos voltaram a ser a pauta principal, e abordagens em constante mudança podem remodelar os fluxos de comércio e IDE. O principal debate relacionado à globalização aqui é a demissão versus a sustentação. As empresas e os países buscarão mais segurança na diversificação internacional ou tentarão promover a autossuficiência doméstica? A lógica econômica quase sempre favorece a primeira abordagem, juntamente com estoques nacionais de itens realmente essenciais, mas a política, por vezes, força a segunda abordagem.

Uma pesquisa realizada pelo professor Pankaj Ghemawat, da NYU Stern, destaca diversas características de setores politicamente sensíveis, como a produção de itens necessários à saúde ou segurança nacional, vendas ao governo em vez de compradores privados, e o tamanho da força de trabalho doméstica de um setor.

Se a demissão se tornar a norma e a sustentação à exceção, podemos esperar apenas uma modesta lentidão em longo prazo no crescimento do comércio global, combinado a uma maior diversificação dos parceiros comerciais dos países.

3. Os atritos e a fragilidade das superpotências já haviam desestabilizado o ambiente comercial internacional antes da Covid-19, e a pandemia acrescenta novas camadas de complexidade. Isso levou a uma grande expansão do poder estatal e ainda configurou o controle da pandemia como mais uma arena para a competição ideológica. Nesse ambiente, o local de origem das empresas e o fato de os governos de seus países terem bons relacionamentos ou não, terão importância ainda maior do que antes no que diz respeito a decisões sobre onde aumentar o capital, quais mercados priorizar e quais bases de suprimento promover.

Muitos previram que a Covid-19 aceleraria o rompimento da economia global em linhas regionais, com blocos concorrentes centrados na China, nos Estados Unidos e, talvez, na Europa. Mas o fato de a Europa, a região mais conectada do mundo, ter enfrentado dificuldades para formular uma resposta unificada à pandemia é apenas uma das razões pelas quais não devemos tirar conclusões precipitadas sobre o ressurgimento de regiões. A maioria dos fluxos internacionais já ocorre regionalmente e o comércio a curta distância não cresceu mais rapidamente do que o comércio a longa distância nos últimos anos. Estejam preparados para a possibilidade de um mundo mais regionalizado, mas não contem com isso.

4. As mudanças tecnológicas da atualidade, como a adoção de comércio eletrônico, videoconferência e robôs, foram todas turbinadas pela Covid-19. Antes da pandemia, muitos focavam em como as novas tecnologias poderiam reduzir os fluxos globais, por exemplo, com fabricantes substituindo robôs no cenário doméstico por mão de obra barata no exterior. Mas muitas mudanças induzidas pela pandemia também podem fortalecer a globalização se não forem restringidas por políticas protecionistas. O comércio eletrônico transfronteiriço expande as oportunidades de exportação, especialmente para empresas menores. A experiência forçada com o trabalho remoto, quando bem-sucedida, pode estimular mais serviços no exterior. E, às vezes, até a impressão 3D pode intensificar mais, e não menos, o comércio.

Os líderes empresariais podem pensar sobre a Covid-19, a tecnologia e a globalização de forma produtiva, adotando uma abordagem estruturada para considerar as implicações internas e externas. Internamente, pense em como as funções individuais podem aproveitar oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias, enquanto gerencia as mudanças organizacionais com sensibilidade ao estresse elevado que os funcionários e as equipes estão enfrentando. Externamente, pense em como as tendências tecnológicas podem mudar a posição de uma empresa em relação a seus concorrentes, clientes, fornecedores e outros agentes. Para a maioria das empresas, as tendências tecnológicas devem levar a mais globalização em algumas áreas e menos em outras, em vez de uma mudança uniforme em uma direção específica.

5. A opinião pública sobre a globalização pode ter outra virada negativa devido à Covid-19, reduzindo o expressivo apoio ao comércio e à imigração relatado em votações recentes. Mais viagens internacionais aceleram a propagação de doenças infecciosas e o estresse econômico pode aumentar os apelos ao protecionismo comercial. Embora estratégias robustas de saúde pública não exijam barreiras contínuas à globalização, os políticos nacionalistas, para fortalecer a oposição à globalização, apontarão para a pandemia e para falhas na coordenação internacional de uma resposta.

Clientes e funcionários esperam cada vez mais que os líderes corporativos se posicionem sobre questões sociais, tornando a opinião pública sobre a globalização um possível problema de gestão. A mistura de movimentos antiglobalização e anticapitalista complica ainda mais o papel das empresas no debate público sobre a globalização. E líderes de empresas multinacionais enfrentam o grande desafio do envolvimento do público e do governo nas divisões nacionais. Concentrar-se nos fatos, tornar-se mais sensível à desigualdade e enfatizar contribuições econômicas reais podem ajudar a apoiar um debate mais saudável sobre globalização.

Por fim, a Covid-19 parece “forçar – mas não causar – uma crise” na globalização. Os fluxos internacionais estão despencando, mas a globalização — e a oposição a ela — continuarão a apresentar oportunidades e desafios comerciais. Uma atenção cautelosa dirigida aos elementos que impulsionam o futuro da globalização pode ajudar as empresas a enfrentar a situação e, até mesmo, lucrar com a turbulência dela. Um mundo volátil de economias nacionais parcialmente conectadas expande as possibilidades de estratégia global, mesmo que complique a gestão de empresas multinacionais. Agora é a hora de as empresas globais mostrarem seu valor, aproveitando o melhor das capacidades mundiais para pôr fim à pandemia e promover uma recuperação.

Autor: Steven A. Altman é pesquisador sênior da NYU Stern School of Business, diretor executivo do Centro de Globalização da Educação e Administração da NYU Stern e professor assistente adjunto do Departamento de Administração e Organizações da NYU Stern.

Fonte: HBR Brasil (Harvard Business Review- Brasil)

Cinco chaves que as empresas precisarão virar no novo normal

Com a evolução da flexibilização em várias cidades do Brasil, as empresas mais do que nunca estão precisando se adaptar

Fonte: Revista Cobertura

Com a evolução da flexibilização em várias cidades do Brasil, as empresas mais do que nunca estão precisando se adaptar. São colaboradores que estavam em home office e agora retornam, orientação sobre cuidados para aqueles que precisam trabalhar em linhas de produção ou fábricas, para os que pertencem a grupos de risco, para os que continuarão trabalhando remotamente, monitoramento dos que apresentam sintomas suspeitos e que precisam de supervisão médica etc.

Esse novo cenário exigirá das empresas um forte poder de adaptação. Não apenas frente a seus clientes e fornecedores, mas, também, no tocante aos colaboradores. Listei abaixo 5 chaves que precisam ser viradas pelos gestores das companhias para que consigam emergir de forma sustentável nessa realidade ímpar que o mundo enfrenta.

Produtividade: a busca pela maior produtividade deve levar em conta o colaborador de forma individual, pois pudemos perceber que alguns produziram até melhor no home-office e outros que não renderam tanto quanto era esperado. O principal neste item é entender que a maneira como medimos e cobramos produtividade mudou e deve considerar o efeito que o distanciamento causa em cada um. Além das questões socioambientais que permeiam a vida de cada colaborador.

Conhecer o colaborador: não adianta mais saber apenas onde o seu colaborar mora, por exemplo. É preciso saber como ele mora, como é a relação dele com os familiares, se há alguém doente na família, como está a questão financeira da família, qual o nível de estresse a que ele é submetido. Isso porque, durante o período de isolamento social, muitas pessoas sucumbiram à pressão da vida em família, do próprio afastamento, da insegurança, do medo de adoecer… Com isso, aumentou e muito o índice de colaboradores com doenças mentais e emocionais. Nunca se falou tanto em depressão, ansiedade, obesidade… Portanto, é hora de as empresas mapearem sua população interna, estarem mais próximas de seus colaboradores e oferecer um serviço de apoio de saúde que inclua suporte emocional, mental e financeiro.

Parceiros: Aqui há dois pontos importantes que quero dividir com vocês. Negociar com seus fornecedores é lei, já é de praxe. Porém, você precisa se preparar para enfrentar, sobretudo na área de saúde, com a seguradora ou operadora dos planos de saúde de seus colaboradores uma demanda que ficou reprimida – tanto por aqueles que deixaram de fazer suas consultas e exames de rotina quanto por aqueles que já têm uma doença crônica e tiveram seus casos agravados por não se cuidarem durante o isolamento social. Ou seja, haverá um aumento no sinistro, mas você pode minimizar o impacto com algumas ações (próximo item) e com a famosa negociação. Gestores inteligentes encontrarão saídas inteligentes, eu acredito nisso. E essas medidas inteligentes com certeza não passarão pelo corte no benefício. Hoje em dia há muito a ser feito nesse universo

E aqui chegamos ao segundo ponto que eu mencionei acima: existem consultorias que podem ajudar as empresas a redesenharem seu benefício saúde de forma a enfrentar essa fase difícil, e sem prejuízo para o colaborador. Nos últimos meses presenciei um aumento no volume de requisição por parte das empresas, sobretudo nos serviços que otimizam a gestão sobre o presenteísmo, estruturação de protocolos para os RHs,  comunicação, serviços de telelaboral e telemedicina. Buscar auxílio de um novo parceiro ou ampliar a atuação dos existentes é uma forma de ganha-ganha nesse novo normal.

Investimento em ações de qualidade de vida: mais do que nunca a máxima de que prevenir é o melhor remédio está valendo. As empresas devem se antecipar, antes mesmo de receber os colaboradores de volta, precisam se preparar para recebe-los. E não estou falando apenas do álcool em gel, das máscaras e do novo layout das mesas. Estou me referindo a desenvolver ações que lembrem a esse colaborador como e por que ele deve cuidar da sua saúde, inserir programas de alimentação saudável, incentivar a prática de atividades, combater o fumo (muitas pessoas voltaram a fumar devido ao estresse), aumentar a ingestão de água, entre outros. Isso não é uma despesa, é realmente um investimento. Colaboradores mais saudáveis formam empresas mais saudáveis também.

Segurança: por fim, quero falar dessa que talvez seja a principal chave nesse momento. Os colaboradores estão inseguros quanto ao seu futuro nas corporações. É hora de tranquilizar seu time, ser transparente e rápido caso haja necessidade de alterações, não permitir que os boatos se instalem. Mostre ao seu colaborador que ele é fundamental e que você conta com ele nessa retomada.

Espero ter ajudado você, gestor, a virar pelo menos uma dessas chaves!

Autor: Leandro Almeida é fundador e diretor sócio da DynamicCare Benefícios

Previdência privada aposta em incentivos na retomada

Após queda na pandemia, saldo do ano já é positivo

Fonte: Valor Econômico

Entre ações promocionais e de educação financeira, as empresas que oferecem previdência privada aberta vêm trabalhando para o segmento voltar a crescer no Brasil, após perder força durante a pandemia, conta o Valor Econômico.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que nos meses de março, abril e maio, no auge da crise, os fundos de previdência tiveram mais resgates do que aplicações, resultando num saldo líquido negativo acumulado de R$ 7,2 bilhões. Os meses seguintes já mostraram recuperação, com destaque para julho, com captação líquida de R$ 12,8 bilhões. No ano até setembro, o saldo está positivo em R$ 22,6 bilhões, apesar de mostrar queda de 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

Na Icatu Seguros, a estratégia foi reduzir o valor mínimo das contribuições para R$ 100 até o mês de agosto. No cenário de pandemia, queríamos incentivar que as pessoas continuassem poupando, conta o diretor de previdência, Henrique Diniz. Vimos uma entrada de recursos de clientes novos na previdência da Icatu mesmo durante a crise. As pessoas estão começando a ir para fundos mais diversificados e diferentes. Antes, contribuíam muito na renda fixa, e a maior parte das contribuições está indo para multimercados e fundos de ações, afirma Diniz.

Em 2019, a Icatu teve captação líquida de R$ 10,4 bilhões. Para comparação, neste ano, a captação líquida atinge R$ 1,7 bilhão até julho. Em termos de resgates, o ano passado inteiro alcançou R$ 1,5 bilhão, mas nos sete primeiros meses de 2020 as retiradas alcançaram R$ 1,3 bilhão, um aumento de 65,6% na comparação com o mesmo período de 2019. A captação em 2020 diminuiu, mas está sendo retomada, ressalta o executivo.

Houve uma insegurança com o que estava acontecendo, as pessoas diminuíram as contribuições. Uma crise dessa magnitude tem impacto, mas na previdência foi baixo, diz. A recuperação das contribuições vem do fato de que os clientes já têm uma experiência prévia com crises anteriores e também porque a bolsa teve uma recuperação rápida, na visão da diretora de marketing e comercial da Brasilprev, Ângela de Assis. Vimos um forte retorno dos negócios em julho e agosto também. Tínhamos expectativa de retomar os negócios nos patamares de janeiro e fevereiro no último trimestre do ano e isso aconteceu um trimestre antes.

Apesar da recuperação, os clientes da Brasilprev voltaram com um perfil mais conservador. Entre janeiro e fevereiro, 23% das novas alocações iam para fundos multimercados e no auge da crise, entre abril e maio, recuou para 5%. Agora, esse patamar subiu para 11%. A Brasilprev usa o Banco do Brasil como rede de distribuição e tem uma participação mais elevada de clientes com perfil conservador comparado ao resto do mercado, disse a executiva. Dos R$ 300 bilhões que a empresa tem sob gestão, apenas 12% estão alocados em multimercados. Os outros 88% ainda estão em fundos de renda fixa. O grande desafio é mostrar que mesmo sendo um perfil conservador, com a taxa de juros a 2%, estamos falando de um novo conservador. O investidor vai ter de ter algum percentual de diversificação, afirma Ângela.

A empresa vem fazendo uma série de ações com clientes e, segundo a executiva, já é possível ver resultados, com conscientização maior do clientes para a necessidade de diversificação. É sempre melhor para o investidor correr risco na categoria que tem menos imposto de renda, porque o resultado líquido é maior, afirmou o especialista em previdência e finanças pessoais Daniel Fuks, referindo-se ao benefício fiscal da previdência. Ele lembra ainda que os fundos conservadores da categoria ainda têm taxas elevadas, acrescentou. Em algumas instituições ainda são cobradas taxas de 1% com carregamento.

Mesmo com 13 milhões de desempregados, falta mão de obra para vagas da digitalização

Enquanto a taxa de desocupação do país está em 13,7%, o índice entre a população qualificada é menor que 6%

Fonte: Agência Estado

Apesar de o Brasil somar 13 milhões de desempregados, a falta de mão de obra qualificada para preencher vagas abertas pela digitalização já acende um sinal de alerta entre empresas e especialistas.

Uma pesquisa feita pela consultoria de recursos humanos Robert Half mostra que, enquanto a taxa de desocupação do país está em 13,7%, o índice entre a população qualificada, acima de 25 anos e com ensino superior completo, é menor que 6%, ou seja, estaria dentro da faixa do pleno emprego (entre 3% e 6%).

O sociólogo Glauco Arbix, professor da Universidade de São Paulo, afirma que hoje o país está sendo beneficiado pelo atraso. Apesar do avanço durante a pandemia, o índice de digitalização e automação do país é muito baixo. Ou seja, se o país estivesse num processo mais acelerado, possivelmente haveria um apagão de mão de obra qualificada.

Qualquer empresa que tenta acelerar a digitalização e automação no país esbarra na dificuldade de mão de obra qualificada, diz Arbix. O diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), José Muritiba, confirma a dificuldade. Há um gap entre o que as empresas precisam e a oferta no mercado.

Com novos investimentos, o mercado de tecnologia está em franca expansão e exige cada vez mais mão de obra. Quase todas as startups, diz Muritiba, estão com vagas abertas. Muitas optam por contratar um profissional menos maduro para a vaga e moldá-lo conforme a necessidade, por meio de cursos e atividades específicas.

Formação

Nessa busca por profissionais específicos e vendo a baixa oferta no mercado, a Cubos Tecnologia decidiu criar a Cubos Academy para formar programadores e designers de sites e aplicativos. Sempre tivemos dificuldade para contratar alguém para nossas vagas. Então decidimos treiná-los e vimos que éramos bons nisso, diz José Messias Júnior, presidente da empresa.

Hoje, diz ele, os alunos que chegam para fazer os cursos são de várias áreas, como artística ou de suporte. São pessoas que querem mudar de ramo seja por causa da remuneração ou porque entendem que suas ocupações estão aos poucos perdendo espaço no mercado.

Iode Reis, de 32 anos, foi um deles. Está fazendo o curso de programador. Ele trabalha com infraestrutura de redes e suporte, conhecido também como help desk. Segundo ele, boa parte do que era físico está sendo transferido para o sistema de nuvens e isso tem reduzido o volume de trabalhos. O número de chamadas que antes era de 30 a 40 por dia caiu para 7. E a quantidade de trabalhadores de 30 para 7.

Adão Gentil Teixeira não conseguiu seguir o mesmo caminho e foi uma das vítimas da falta de treinamento. Ele estudou desenho e projetos mecânicos no Senai e passou a trabalhar com um software, que tinha uma versão diferente a cada ano. Meu salário não acompanhava a tecnologia. Fui ficando obsoleto e desatualizado, diz o trabalhador de 50 anos, que não tem conseguido se encaixar nas exigências das empresas.

Para especialistas, a transformação que vivemos hoje pode ser comparada à transição da força de trabalho da agricultura para a indústria no início do século 20. Daqui para frente, o que vamos ver é uma readequação do trabalho, com as atividades repetitivas sendo substituídas por recursos digitais, diz o sócio diretor da consultoria Roland Berger, Marcus Ayres.

EUA: déficit recorde de cerca de US$ 3,1 tri não é culpa só da Covid

Trump prometeu fim da dívida em 8 anos: já pulou de US$ 14,4 tri para US$ 21 tri.

Fonte: Monitor Mercantil

Reflexo do golpe que a pandemia do coronavírus desferiu na economia. O déficit orçamentário dos EUA ultrapassou US$ 3,1 trilhões em 2020, o pior resultado do país, contra cerca de US$ 1 trilhão no ano passado, que já representava um nível elevado. Até então, o mais alto déficit tinha ocorrido em 2009, quando chegou a US$ 1,4 trilhão, ou seja, menos da metade da contagem de 2020.

Deve-se ressaltar que déficit inédito reflete o ano fiscal de 2020, que inclui vários meses antes da pandemia Covid-19. Tanto a quantia de gastos federais este ano quanto o déficit geral são valores recordes na história norte-americana, disseram altos funcionários do Departamento do Tesouro a repórteres por telefone na sexta-feira.

Os novos dados da Casa Branca, relativos ao ano fiscal encerrado em 30 de setembro, mostram como um grande aumento nos gastos, para enfrentar as consequências econômicas, alimentou um aumento histórico da dívida. O governo gastou US$ 6,552 trilhões, acima dos US$ 4,447 trilhões de um ano atrás, de acordo com os dados divulgados em conjunto com o Departamento do Tesouro. A arrecadação somou US$ 3.420 trilhões em receitas , uma ligeira redução em relação a 2019.

Para agravar, ainda mais, a situação, os totais da dívida aumentaram acentuadamente durante a administração de Donald Trump, mesmo antes da pandemia. Em campanha eleitoral em 2016 prometeu eliminar completamente a dívida em oito anos. Quando assumiu o cargo a dívida estava em torno de US $14,4 trilhões e agora em US$ 21 trilhões.

O déficit, que é a lacuna entre os gastos do governo e a receita tributária, mostra o aumento dramático nos gastos que o governo dos EUA aprovou para conter as consequências da pandemia no início deste ano. A maior parte do aumento do déficit em relação ao ano passado é resultado de gastos mais altos como resultado de alívio cobiçoso, disse Marc Goldwein, especialista em orçamento do Comitê para um Orçamento Federal Responsável, que defende a redução do déficit, apurou o jornal Washington Post.

Mais ajuda

Os novos números aparecem no momento em que a Casa Branca e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi (D-Calif.), estão travando negociações sobre outra rodada de alívio econômico, que poderia incluir outros cerca de US$ 2 trilhões em ajuda. Gastos como esse podem aumentar ainda mais o déficit orçamentário do governo. Especialistas econômicos de todo o espectro político, incluindo o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome H. Powell , disseram que a assistência é necessária para evitar que a recuperação econômica diminua e impedir que milhões de caindo na pobreza. As empresas aceleraram o ritmo de demissões nas últimas semanas, principalmente em empresas relacionadas a viagens.

Acontece que vários legisladores republicanos se irritaram com a onda de gastos federais em resposta à pandemia, e o déficit crescente pode alimentar sua relutância em autorizar alívio adicional. Os conservadores alarmados com o déficit também podem pressionar fortemente por sua redução caso o candidato democrata à presidência, Joe Biden, ganhe a eleição, preparando o cenário para um renascimento das ferozes batalhas orçamentárias que caracterizaram grande parte do governo Obama.

O governo dos EUA tradicionalmente administra algum tipo de déficit orçamentário financiado por impostos e emissão dívidas, sendo estas últimas beneficiadas por taxas de juros baixas, o que torna relativamente barato emitir dívidas.

Em março e abril, o Congresso aprovou cerca de US$ 3 trilhões em programas de gastos em resposta à pandemia. Isso incluiu centenas de bilhões de dólares em ajuda para desempregados e pequenas empresas, bem como cheques de estímulo de US$ 1.200 para milhões de norte-americanos. A economia entrou em forte recessão no início deste ano, quando muitas empresas fecharam e enviaram trabalhadores para casa por causa do surto do vírus.

O desequilíbrio de gastos do governo disparou em abril e junho, à medida que os esforços governamentais de ajuda ao coronavírus foram implementados e a economia entrou em colapso. Isso porque a diferença entre os gastos federais e a receita tributária arrecadada cresceu a níveis sem precedentes. O déficit mensal saltou para US $ 738 bilhões apenas em abril , o que foi um recorde até que o déficit mensal de junho chegou a US $ 864 bilhões . O déficit de junho foi maior do que todo o déficit de 12 meses em 2018.

Os gastos dispararam entre as agências governamentais este ano. O Departamento de Educação, por exemplo, gastou 96% a mais do que no ano fiscal anterior, enquanto a Small Business Administration gastou cerca de US$ 600 bilhões a mais do que nos anos anteriores devido à implementação do Programa de Proteção do Cheque de Pagamento para pequenas empresas afetadas pelo vírus.

Segundo apurou o Washington Post, apesar do aumento do déficit, economistas e legisladores de ambos os lados do corredor político clamam por mais gastos do governo. A taxa de desemprego caiu de 14,7% em abril para 7,9% em setembro, mas dezenas de milhões de norte-americanos continuam desempregados e os pedidos de subsídio de desemprego aumentaram. Um benefício federal para milhões de desempregados expirou, e os economistas alertam que a recuperação pode ser estagnada ou revertida com o encerramento prematuro dos programas de ajuda do governo.

É bom lembrar que o fracasso dos EUA em estimularem a economia de forma adequada ajudou a levar a uma recuperação morna da Grande Recessão, e os legisladores devem evitar cometer o mesmo erro novamente, disse Angela Hanks, vice-diretora executiva do Groundwork Collaborative, um grupo de esquerda. O Congresso ainda precisa aprovar mais gastos para evitar que as pessoas passem fome ou percam suas casas, disse ela.

Empilhados com perguntas sobre a dívida, investimentos significativos para melhorar a vida das pessoas devem vencer todas as vezes, disse Hanks. O investimento maciço agora ajudará no crescimento da economia em geral e, se buscarmos a austeridade, as pessoas sofrerão e teremos uma recuperação mais lenta e dolorosa em todas as áreas.

O que o Brasil pode ganhar ou perder com resultado das eleições nos EUA

Fonte: BBC News

A chegada ao poder de Jair Bolsonaro em janeiro de 2019 marcou um ponto de inflexão fundamental na política externa do Brasil: pela primeira vez desde a redemocratização, o país escolhia ter como aliado prioritário e preferencial os Estados Unidos.

Bolsonaro e Donald Trump partilham o posicionamento ideológico de direita, o conservadorismo nos costumes e o estilo populista e online de fazer política.

Mas a gestão Bolsonaro defende que a aproximação de agendas dos países não é resultado apenas da simpatia mútua entre seus mandatários, mas o reconhecimento de que a relação até então morna com os americanos representava uma oportunidade desperdiçada de aumentar o fluxo de negócios bilaterais e a influência política brasileira na América Latina.

Qualquer país no mundo que queira ser próspero tem que ter uma relação privilegiada com os Estados Unidos, definiu o então secretário especial de comércio exterior Marcos Troyjo, em conversa com investidores americanos e brasileiros em Washington D.C. no fim de 2019.

Dado o investimento feito pelo Brasil na relação privilegiada, o resultado da atual disputa entre Trump e o democrata Joe Biden é visto como crucial para o futuro da relação entre os países e para o sucesso de ao menos parte das apostas feitas pela gestão Bolsonaro. O ocupante da Casa Branca nos próximos quatro anos terá papel fundamental em determinar o avanço de um acordo de livre comércio dos países, a entrada do Brasil na OCDE e o papel geopolítico dos brasileiros na América Latina.

Acordo de Livre Comércio

Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial brasileiro. De lá pra cá, os americanos têm perdido espaço nesse campo. E se tornou um consenso entre empresários americanos e brasileiros que a relação comercial ficará estagnada no atual patamar se os governos de ambos os países não se moverem para retirar barreiras, tarifárias e não-tarifárias, das negociações.

A chegada de Bolsonaro ao poder, no entanto, mostrou que havia vontade política de mudar a situação. O Brasil entrou em campo, anunciou em meados do ano passado o Ministro da Economia, Paulo Guedes, empregando metáfora futebolística para se referir à possibilidade um acordo de livre comércio entre o país e os EUA.

Na ocasião, o secretário de comércio de Trump, Wilbur Ross, visitava Brasília. Da Casa Branca, Trump deu força ao entusiasmo: Nós vamos trabalhar em um acordo de livre comércio com o Brasil. O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles nos cobram muitas tarifas, mas, tirando isso, nós amamos essa relação.

Brasil e EUA fecharam essa semana o que tem sido chamado na imprensa americana de 'mini acordo comercial'© Alan Santos/PR Brasil e EUA fecharam essa semana o que tem sido chamado na imprensa americana de 'mini acordo comercial'

Mais de um ano após as falas, Brasil e EUA fecharam essa semana o que tem sido chamado na imprensa americana de "mini acordo comercial". O pacote está muito longe da ambição de ser um tratado de livre comércio.

Os termos do acordo entre Itamaraty, Ministério da Economia e o Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) preveem abolição de algumas barreiras não-tarifárias no comércio bilateral: a simplificação ou extinção de procedimentos burocráticos, conhecida no jargão empresarial como facilitação de comércio, a adoção de boas práticas regulatórias, que proíbem, por exemplo, que agências reguladoras de cada país mudem regras sobre produtos sem que exportadores do outro país possam se manifestar previamente, e a adoção de medidas anticorrupção.

Embora não resolvam gargalos históricos e importantes na relação comercial entre EUA e Brasil, como a barreira de 140% imposta pelos americanos à importação de açúcar brasileiro, os empresários acreditam que os acordos podem aumentar o fluxo de negócios entre os dois países, que em 2020 sofreu uma queda de mais de 25%, puxada pela pandemia de coronavírus.

Em maio desse ano, em iniciativa inédita, mais de 30 organizações empresariais dos dois países assinaram uma carta conjunta cobrando celeridade das autoridades brasileira e americana para firmar justamente o pacto recém-anunciado.

Queremos que essa agenda do comércio entre os dois países seja vista como algo suprapartidário, que qualquer governo, de qualquer um dos países, possa levar adiante, porque é do interesse dos empresários dos dois lados, afirmou Carlos Eduardo Abiajodi, diretor de desenvolvimento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A preocupação dos setores produtivos era de que o processo eleitoral americano pudesse colocar a perder quase 24 meses de negociações intensas. O documento final foi assinado a 15 dias do dia da eleição.

O acordo é muito importante porque, se Trump vencer, já retomamos as negociações de um ponto mais avançado. Se Biden vencer, temos um patamar mínimo estabelecido para seguir. Os americanos são pragmáticos e reconhecem a importância das relações comerciais com o Brasil, avalia Abrão Árabe Neto, vice-presidente-executivo da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).

Os empresários, no entanto, sabem que o clima político com os democratas, partido do favorito Joe Biden, não é dos melhores. Em meados de 2020, quase todos os parlamentares democratas da Comissão de Orçamentos e Tributos da Câmara americana assinaram uma carta se dizendo contrários ao avanço de qualquer pacto comercial mais abrangente com o Brasil sob o governo de Bolsonaro. Por lei, negociações que envolvam tarifas terão de receber aprovação do Congresso americano, além de passar também pelo Legislativo brasileiro e do Mercosul.

Até por isso, especialistas no assunto dizem que um acordo de livre comércio entre Brasil e EUA pode exigir negociações que se estendam por mais de uma década.

Biden afirmou que Brasil pode sofrer sanções econômicas se destruição da Amazônia continuar© Reuters Biden afirmou que Brasil pode sofrer sanções econômicas se destruição da Amazônia continuar

Com Trump, as relações comerciais entre os países mostram certa ambivalência. Em nome do estreitamento da amizade, o Brasil aumentou a importação de trigo e etanol do país e aceitou restrições na exportação de chapas de aço brasileira pelos americanos.

Por outro lado, depois de mais de três anos de restrições à carne bovina brasileira in natura, os EUA reabriram seu mercado. Além disso, foram a campo junto ao G-7 defender o Brasil em agosto de 2019 de uma reprimenda pública pelas queimadas na Amazônia, que poderia desaguar em sanções econômicas de nações europeias contra a produção agrícola brasileira.

Caso se reeleja, Trump deve manter a cadência entre fazer concessões ao aliado na América do Sul e aplicar medidas protecionistas que sejam importantes para sua política doméstica.

Se der Biden, o setor empresarial aposta em estabilidade na relação, ao menos no curto prazo. Pragmático, o democrata não é visto como alguém que irá queimar pontes com Bolsonaro logo de saída, até porque não pretende ceder espaço de influência política e economia para os rivais chineses no continente americano.

Isso não significa, porém, que o democrata evitaria temas relevantes para sua base eleitoral. É certo que a agenda do meio ambiente, direitos humanos e direitos trabalhistas, que não está na mesa hoje na relação dos dois presidentes, deve ser incorporada às discussões bilaterais caso Biden vença, diz Árabe Neto. E tudo dependerá de como o governo Bolsonaro lidará com os novos termos da conversa.

No debate televisivo contra o oponente Donald Trump, em setembro, o democrata citou a devastação da Amazônia brasileira e afirmou que lideraria a criação de um fundo global de US$ 20 bilhões para que o Brasil preservasse a floresta em pé. Se isso não funcionasse, Biden aventou aplicar "sanções econômicas" contra o país. O governo Bolsonaro reagiu à afirmação acusando o democrata de atacar a soberania brasileira.

Ingresso na OCDE

Depois de quase um ano de pressões e de ver a atual rival Argentina largar na frente, em janeiro de 2020 o Brasil recebeu o endosso formal dos EUA a sua candidatura a membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o grupo dos países desenvolvidos.

A notícia foi muito bem-vinda. Vinha trabalhando há meses em cima disso, de forma reservada, obviamente. Houve o anúncio [dos EUA], são mais de 100 requisitos para ser aceito, estamos bastante adiantados, inclusive na frente da Argentina. E as vantagens pro Brasil são muitas, equivalem ao nosso país entrar na primeira divisão, afirmou Bolsonaro, ainda em janeiro.

A OCDE, atualmente com 37 países, é um fórum internacional que promove políticas públicas, realiza estudos e auxilia no desenvolvimento de seus membros, fomentando ações voltadas para a estabilidade financeira e aprimoramento dos índices de desenvolvimento humano. Os americanos possuem peso suficiente para equilibrar eventuais resistências europeias à entrada do Brasil e, por isso, o apoio do país era considerado central para o sucesso da investida nacional.

Dez meses após o endosso, ainda sem data para que haja uma resposta definitiva sobre a candidatura brasileira, na segunda (19/10), Bolsonaro repetiu que o governo tem um firme propósito de compor o grupo e voltou a agradecer aos americanos pelo seu suporte.

Bolsonaro conta com o apoio de Trump para entrar na OCDE, mas promessa ainda está no papel e Bolsonaro conta com o apoio de Trump para entrar na OCDE, mas promessa ainda está no papel.

Contamos com o fundamental apoio do governo dos Estados Unidos nesse processo, que será determinante para que se chegue a um rápido e favorável encaminhamento. O ingresso do Brasil na OCDE irá gerar efeitos positivos para a atração de investimentos nacionais e internacionais. E será mais uma evidência da nossa disposição de assumir compromissos e responsabilidades compatíveis com a importância do nosso país no sistema internacional, disse o presidente.