ESG na indústria: demanda do mercado por práticas responsáveis impulsionam ainda mais o setor bioenergético
04, Mai. 2022
Sendo um segmento que oferece produtos essenciais para a
sociedade, há ainda o benefício de inspirar boas práticas para parceiros,
funcionários e stakeholders
ARTIGO JULIANO OLIVEIRA, DA RAÍZEN Diretor Industrial
Corporativo da Raízen
Fonte: CANALENERGIA
Desde a Revolução Industrial, iniciada a partir da segunda
metade do século XVIII, houve a aceleração do processo de substituição da
manufatura pela utilização de máquina e, por consequência, aumento no uso de
matéria-prima e na demanda por novos produtos. No entanto, as mudanças
climáticas e o esgotamento de recursos naturais têm motivado ações
socioambientais, principalmente na indústria, devido à necessidade de reverter
os impactos causados pela atividade. Nesse ponto, o setor bioenergético vem se
destacando ao buscar alternativas limpas e, sobretudo, readequando seus
processos sob a perspectiva da sustentabilidade. Ser sustentável não é mais uma
opção, mas sim uma demanda para o futuro dos negócios.
O setor, que já entendeu a importância de desenvolver
políticas de combate a questões como mudanças climáticas, tem no Environmental,
Social and Governance (ESG, na sigla em inglês), como são chamadas as práticas
ambientais, sociais e de governança de uma organização, a solução para se
pensar em métodos que possam trazer ganhos socialmente sustentáveis tanto para
o negócio quanto para a sociedade. As vantagens competitivas são inúmeras, indo
desde a redução dos custos operacionais e desperdícios até a melhoria de
produtividade. Sendo um segmento que oferece produtos essenciais para a
sociedade, há ainda o benefício de inspirar boas práticas para parceiros,
funcionários e stakeholders.
Seja incentivando a criação de soluções sustentáveis e
tecnológicas ou investindo em um modelo de negócio que diminua a geração de
rejeitos, o setor vem tornando as operações mais eficientes, seguindo o modelo
de economia circular. A exemplo, temos o desenvolvimento de novas maneiras de
produzir energia renovável – oriunda de fontes limpas como a biomassa, por
exemplo –, assim como aplicação de inteligência artificial para melhor
eficiência industrial ou até mesmo o reaproveitamento de água. Atividades já
costumeiras na indústria, essas ações mostram que é possível utilizar ao máximo
os recursos naturais nos mais diversos processos, sempre de maneira
responsável.
Apesar de a indústria ter incorporado o conceito de
circularidade em muitos processos, há um caminho pela frente para entender que
esse exercício deve ser contínuo. Em 2019, a Confederação Nacional da Indústria
(CNI) realizou uma pesquisa nacional para verificar por qual motivo as empresas
estão aplicando a economia circular em seus processos e identificou que 47,3%
dos entrevistados buscam eficiência operacional. Com a evolução dessa
metodologia e melhor entendimento de como adotá-la, com certeza esse é um dos
objetivos que já estão trazendo resultados. O mesmo levantamento aponta ainda
que há inúmeros propósitos dentre todas as práticas circulares desenvolvidas
pela indústria brasileira, indo desde a otimização de processo (56,5%) até a extensão
de vida do produto (22,9%). Tudo isso evidencia que existem finalidades e
formas de atuação diversas, mas que o foco é garantir produtividade aliada à
sustentabilidade.
Nessa jornada, padrões de gestão com impacto responsável
também sugiram para medir resultados e apoiar organizações a operarem em
conformidade com regras ambientais e de segurança. No Brasil, as indústrias
podem requerer o Certificado de Gestão Ambiental, regulamentado pelo ISO 14000,
que estabelece um conjunto de normas internacionais sobre gestão ambiental,
incluindo análise do ciclo de vida do produto. Para isso, os níveis de emissão
de gases e resíduos devem ser mantidos dentro do limite estabelecido pelo
governo federal.
No entanto, uma indústria sustentável vai além do meio ambiente.
É preciso também garantir a segurança, bem-estar e desenvolvimento
socioeconômico dos funcionários e das comunidades do entorno. Uma atuação
eficiente é, primeiro, aquela que dissemina boas práticas dentro e fora de suas
operações. Aliado a isso, a tecnologia, inerente a geração atual, tem papel
fundamental na disseminação e readequação das técnicas, bem como na melhoria
contínua das operações. Em um mundo cada vez mais conectado, em pouco tempo a
indústria não conseguirá mais atingir níveis de rentabilidade aceitáveis se não
contar com tecnologia. Nesse quesito, o setor bioenergético está em um estágio
de inovação avançado se comparado com outros segmentos da economia.
É inegável que tendo como foco uma atuação que busca
investir em equipamentos cada vez mais eficientes, predição de suas operações e
padronização dos processos, muitos desses avanços se devem ao pioneirismo de
empresas que seguem incentivando o uso de tecnologia. A indústria mostra-se um
campo contínuo de experimentação e a aposta é que as práticas de ESG sejam mais
um impulso dentro de sua cadeia de produção.
Iniciativas recentes do setor, como a implantação dos
parques de bioenergia – unidades que transformam a matéria-prima (cana) em
produtos diversos, desde combustíveis 1G e 2G (primeira e segunda geração), gás
natural até a geração de bioenergia proveniente do bagaço, vinhaça e torta de
filtro – mostram que o potencial do segmento vai muito além da produção de
açúcar e etanol. Invariavelmente, esse movimento vai de encontro com o conceito
de economia circular ao entender que é necessário o redesenho de processos e a
forma de produzir e comercializar produtos, sempre buscando a otimização de
recursos na indústria. Essas e outras ações são foram viabilizadas por meio da
adoção de uma cultura organizacional que compreende a importância de uma gestão
qualificada e integrada, com foco eliminação de desperdícios e vontade de
antecipar as soluções do futuro.
A indústria atual é criteriosa para avaliar se vale a pena
ou não investir em uma solução. Isto é, diante transformação do mindset nas
lideranças das organizações e de seus times, que devem estar abertos para se
adaptarem à nova realidade que se forma, as decisões são tomadas de forma cada
vez mais integrada para pensar em inovação e melhoria contínua. Uma atuação
conforme, com práticas ambientais, sociais e corporativas efetivas, e aliada à
tecnologia, já vem contribuindo para melhor tomada da decisão nos mais diversos
segmentos e, definitivamente, será um fator fundamental para a manutenção das
companhias, em especial, aquelas inseridas no setor bioenergético, que tem um
papel fundamental de se reinventar dia a dia.
Nisso, parcerias com startups e empresas de tecnologia e a testagem com projetos-pilotos também são grandes aliadas nesse processo de readequação e modernização. Nos últimos anos, ao aplicar ciência de dados em suas etapas da produção industrial, a atividade se beneficiou de coisas como melhor gestão preventiva, aprimoramento da interação homem-máquina, digitalização de equipamentos, entre outras soluções. A inovação aberta ainda contribui ao ser capaz de identificar as reais necessidades do negócio e aperfeiçoar a tecnologia de seu produto ou serviço.
O estímulo a padronização, circularidade dos processos e políticas de sustentabilidade devem vir não apenas do mercado, mas replicados dentro e fora da operação industrial. Desta maneira, as empresas do setor estarão cada vez mais assumindo o papel de grandes impulsionadoras ao mostrarem que suas ações beneficiam as pessoas, a sociedade, o meio ambiente e agregam valor ao futuro.
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