Tecnologias digitais alavancam produção no campo
20, Mai. 2022
Agricultura 4.0 dissemina-se no País e startups do setor
ganham cada vez mais espaço. A nova realidade impulsiona o Seguro Rural, que
cresceu 40% no ano passado
18 de Maio de 2022 - Revista de Seguros - Fonte CNseg
O uso crescente das novas tecnologias digitais no campo tem
contribuído decisivamente para o aumento e a melhoria da produção agropecuária
brasileira, uma das mais importantes do mundo, rivalizando com potências como
China e EUA. O Brasil é hoje o segundo maior produtor e o segundo maior
exportador de alimentos, com uma produção que alimenta 10% da população
mundial.
Embora tenha encolhido 0,2% no ano passado, devido às
condições climáticas adversas, o setor vem alavancando o PIB no País, como
ocorreu em 2020, quando cresceu 3,8% (ante quedas de 3,4% na indústria e de
4,3% nos serviços). Para 2021/22, a previsão oficial é de uma safra 5% maior
que a anterior, com novo recorde de 268,2 milhões de toneladas de grãos.
Tal desempenho não é à toa. Além das condições geográficas
favoráveis, o País tem adotado cada vez mais a agricultura 4.0, um conjunto de
AGRICULTURA 4.0 [ Por: Mário Moreira Fotos: Divulgação, banco de imagens Google
] tecnologias aplicado a todas as etapas produtivas. São técnicas e ferramentas
como softwares, drones, robótica, biotecnologia, internet das coisas e outras
que ajudam a incrementar a produção. Para isso, tem colaborado a difusão das
agtechs (startups do setor), que oferecem soluções tecnológicas para problemas
do agro.
O Radar Agtech Brasil 2020/21 – estudo da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ligada ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, em parceria com a gestora de capital de risco SP
Ventures e a Homo Ludens Research and Consulting – revelou que o número de
agtechs no País em 2020 chegou a 1.574, ou 40% a mais que em 2019. Naquele ano,
o índice de agricultores brasileiros que usavam meios digitais era de 46%, ante
31% nos EUA e 22% na Europa. No mesmo ano, o empreendedorismo agtech no Brasil
captou US$ 70 milhões, coincidindo com a atual safra recorde, de 257,8 milhões
de toneladas.
Os US$ 70 milhões, porém, representaram só 2% do valor
investido em novos empreendimentos tecnológicos no País. Segundo o Radar, os
investimentos globais em agtechs saltaram de US$ 6,4 bilhões, em 2014, para US$
30,5 bilhões, em 2020, mas o Brasil não está entre os 15 países que mais
investiram nessas empresas. Ou seja, há grande potencial de crescimento.
Para o mercado segurador, a agricultura 4.0 também
representa grandes oportunidades. Em 2021, o Seguro Rural cresceu 40%, maior
resultado entre todos os segmentos do setor, com receita de R$ 9,6 bilhões. Em
dezembro passado, a alta foi de 62,1% sobre igual mês de 2020.
“GANHO BRUTAL”
A diretora do Departamento de Apoio à Inovação para Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Sibelle de Andrade Silva, atribui os bons resultados do agronegócio ao conhecimento tecnológico e à atitude empresarial dos produtores rurais, para além da disponibilidade de terras agricultáveis e do clima favorável.
“Esse conjunto de fatores promoveu, nos últimos 25 anos, um
aumento de 250% na produção, enquanto a área cultivada cresceu 106%”, afirma.
Ela destaca aspectos como o uso intensivo de tecnologia embarcada no processo
produtivo, maquinário integrado com computação e internet, aplicação adequada
de fertilizantes e defensivos, material genético adaptado às condições
regionais e, “principalmente, a capacidade gerencial dos produtores”.
Francisco Jardim, fundador da SP Ventures, identifica um
“ganho brutal” de produtividade, decorrente da implantação de melhores práticas
agrícolas e da intensa adoção de tecnologia em várias esferas, como tecnologia
digital, de internet das coisas, satélites, drones, softwares de gestão e
biotecnologia, tanto para o solo quando para o controle de pragas e doenças.
Na avaliação da Confederação da Agricultura e Pecuária
(CNA), que atende mensalmente 120 mil propriedades rurais por meio do Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), o incremento da tecnologia tem tido um
impacto muito relevante no setor. O coordenador de Inovação do Sistema
CNA/Senar, Matheus Ferreira, calcula que, nos últimos 30 anos, de 30% a 40% do
avanço resultam da adoção de novas tecnologias.
Para Jardim, a proliferação das agtechs integra um movimento
global de deslocamento da inovação para pequenas empresas. “Na era digital, a
velocidade em que a inovação ocorre e a importância de que ela seja acompanhada
de mudanças disruptivas são inadequadas às de uma grande companhia. No Brasil,
esse movimento chegou ao agro. O resultado vai ser uma inovação mais rápida,
agressiva, e com muito mais valor para o produtor. Isso é fundamental, porque
os desafios do agronegócio, como a mudança climática, exigem rapidez.”
As agtechs representam o futuro da inovação no agro, resume
Sibelle, do Mapa. “São um braço tecnológico essencial para transformar os
sistemas alimentares e para, por meio da aproximação com os produtores,
desenvolver cada vez mais soluções para o campo”, diz.
“Startups do agro do mundo todo estão desenvolvendo
tecnologias e negócios no Brasil. Temos institutos de pesquisa, universidades,
empresas e investidores privados e cerca de 20 hubs em diversas regiões”, diz
Sibelle, citando como exemplo a parceria do Ministério com a Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial no estudo Mapeamento do Ecossistema de Inovação
no Agronegócio.
No primeiro edital, lançado em 2020 e avaliado em 2021,
houve cem propostas inscritas e 14 selecionadas em projetos de adoção e difusão
de tecnologias 4.0, que receberam ao todo R$ 4,8 milhões de investimento. Este
ano foi lançado um novo edital, para estimular a adoção de tecnologias nas
cinco regiões do País.
Segundo a Embrapa, foi a tecnologia que permitiu o aumento
da produção das principais lavouras em mais de 500%, de 1975 a 2017. “Devido ao
avanço tecnológico, o agronegócio é o setor que tem liderado e assegurado o
superávit brasileiro”, diz a gerente de Inovação da Secretaria de Inovação e
Negócios do órgão, Ana Lúcia Atrasas.
“Incorporamos uma larga área de terras degradadas dos
cerrados aos sistemas produtivos, região que hoje produz quase 50% dos grãos.
Quadruplicamos a oferta de carne bovina e suína e ampliamos em 22 vezes a de
frango”, informa ela, acrescentando que essas conquistas tiraram o País da
condição de importador de alimentos básicos para a de um dos maiores produtores
e exportadores.
FATOR DE SOBREVIVÊNCIA
“A tecnologia hoje é um fator de sobrevivência. Quem não usa
fica excluído do processo de produção e do mercado”, diz Ferreira, da CNA. Ele
ressalva que alguns cultivos, como os de soja, milho e algodão, já estão no
limite da produtividade no País. “Em propriedades com menos tecnologia o espaço
para ganho de produtividade é maior na medida em que o produtor realiza as
intervenções e recomendações dos técnicos.”
A CNA possui um programa para integrar os produtores ao
ecossistema de inovação do agronegócio. Para Ferreira, porém, as agtechs
precisam ser mais objetivas. “Por vezes, elas propõem soluções para problemas
inexistentes, ou que contribuem pouco para resolver o problema. E o produtor
precisa de soluções que resolvam. O setor rural não está podendo pagar o preço
de um índice de acertos tão baixo.”
Ferreira crê que o impacto da pandemia de Covid-19 tenha
sido enorme para os produtores que não eram adeptos da tecnologia ou que a
usavam pouco. “Grande parte deles ainda era muito analógica. Com a pandemia,
muitos adotaram o virtual. A resistência a dispositivos digitais foi quebrada.
Mas, por enquanto, foi uma mudança mais comportamental. A tecnologia chega aos
poucos, primeiro com o celular, depois com a internet, os drones etc. Se há um
legado positivo da pandemia, foi essa virada de chave.”
Jardim, da SP Ventures, define a pandemia como um
catalisador de tendências. “Com o cancelamento das feiras, o produtor parou de
receber visitas técnicas e teve que ir para o digital; os bancos fecharam, ele
foi para o digital. A pandemia acelerou muito essa migração e, como aconteceu
junto com a pressão por sustentabilidade, potencializou tudo. Há um mundo
pré-Covid e outro pós-Covid na tecnologia agropecuária”, diz.
“A tecnologia é o que vai resolver, não há opção. Se
migrássemos para um mundo de baixas emissões de carbono sem mudanças radicais
de inovação e tecnologia, significaria muita fome e menos energia, menos
desenvolvimento e um colapso na qualidade de vida. Como as pessoas não estão
dispostas a isso, o que teremos que fazer é uma mudança tecnológica radical”,
conclui.
REFLEXO NOS SEGUROS
Segundo Joaquim Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural
da FenSeg, a expansão desse segmento no ano passado reflete o aumento na
comercialização de diversos ramos, com destaque para o Seguro Agrícola, com
alta de 43,25% e R$ 4,8 bilhões em volume de prêmios. Outros ramos com grande
crescimento foram: Vida do Produtor Rural, com 36,68% (R$ 2,1 bilhões em
prêmios); Penhor Rural, 33,82% (R$ 1,9 bilhão) e Benfeitorias e Produtos
Agropecuários, 47,3% (R$ 692 milhões).
A expectativa da FenSeg é que o ritmo de expansão do
segmento rural continue em 2022, em razão dos eventos climáticos no ano
passado, garantidos pelo Seguro Agrícola. O aumento da produção nos últimos
anos acarretado pelo uso de novas tecnologias no campo gera grande repercussão
nos seguros, diz Joaquim. “Quanto mais o agricultor investe em sua atividade,
mais tem a percepção do risco. Para a seguradora, quando ele corrige o solo com
fertilizantes, usa sementes mais resistentes ou máquinas que otimizam sua
produtividade, maior é o interesse na subscrição.”
Ele lembra que as seguradoras também têm utilizado novas tecnologias na comercialização, subscrição, gerenciamento de riscos e regulação dos sinistros, com a transmissão de propostas e de apólices online, utilização de fotos de satélite, acompanhamento das previsões climáticas e emprego de drones. “O Seguro Agrícola garante as perdas decorrentes de eventos climáticos, sendo comercializado no âmbito dos seguros de riscos nomeados e de multirrisco. O mercado já está operando alguns projetos-piloto com o seguro paramétrico, como o seguro para a cultura de cacau e o de pastagens.”
Matéria na Revista Insurance Corp Edição 41, pág 38 - Capacitação em alto nível- Parceria ABGR e QSP
A Edição 41 da Revista Insurance Corp traz na pág 38, matéria sobre a parceria ABGR e QSP – Centro da Qualidade, Segurança e Produtividade em prol do desenvolvimento educacional em Gestão de Riscos. Informações sobre o Curso de Capacitação em Gestão de Riscos, que além de capacitar os participantes na norma ISO 31000:2018 também é um curso preparatório para o Exame para obtenção da Certificação Profissional Internacional C31000. O curso preparatório lançou sua 51ª turma em abril, com o exame nacional realizado no dia 27. Uma próxima turma será aberta de 16 a 23 de maio, das 8h30 às 11h30. O exame acontecerá no dia 25 de maio. Outras informações por meio do e-mail abgr@abgr.com.br. Associados ABGR têm desconto para inscrições antecipadas.
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