Consumo de gás cai 14% no primeiro trimestre
08, Jun. 2022
Despacho termelétrico 42% menor devido à saída da crise
hídrica explica resultado em levantamento da Abegás. Setores automotivo e
comercial crescem em todas regiões do país
DA AGÊNCIA CANALENERGIA
O consumo de gás natural no Brasil atingiu 60,2 milhões de
metros cúbicos por dia (m³/dia) no primeiro trimestre do ano, queda de 14,3% em
comparação aos três primeiros meses 2021, quando foram consumidos 70,7 milhões
de m³/dia, informa o último boletim da Associação Brasileira das Empresas
Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás). O resultado é explicado pelo menor
acionamento do parque termelétrico durante o período, devido à melhora nas
condições hidrológicas nos reservatórios.
Excluindo o mercado de geração térmica, que representou
42,2% em menos volume despachado pelo Operador Nacional do Sistema Interligado
(ONS), principalmente no mês de março, a demanda de gás mostra aumento de 6,9%
na média acumulada em 2022. No resultado geral a indústria aumentou a demanda
do insumo em 6,1%, chegando 30,1 milhões m³/dia médios, enquanto os setores
automotivo e comercial tiveram altas de 19,2% e 14,3%.
Outro destaque foi o crescimento do Gás Natural Veícular
(GNV), subindo 19,2% e sendo classificado pela entidade como combustível
automotivo mais competitivo em todas as regiões do país. Já o segmento
residencial apresentou acréscimo de 1,2%, sinal de que as distribuidoras seguem
trabalhando pela expansão do serviço. Na cogeração o incremento foi de 8,8%,
acompanhando o desempenho do ramo industrial.
Fechando o boletim, o número de unidades consumidoras
ultrapassou a marca de 4 milhões, número que representa os medidores nas
indústrias, comércios e residências e outros pontos de consumo, numa uma rede
de 40,6 mil quilômetros espalhada por todo país.
Mercado, políticas públicas e o Pré-sal
O presidente executivo da Associação, Augusto Salomon, tem
chamado a atenção para a necessidade de políticas públicas que visem o desenvolvimento
do novo mercado do gás, que pode ser importante para a segurança energética ao
preservar água das UHEs. Para ele é necessário que o governo faça leilões
visando a contratação de 8 GW de térmicas a gás natural com inflexibilidade de
70% em locais que permitam o desenvolvimento da malha de gasodutos de
transporte, com prioridade para o insumo origem nacional.
“Essa medida, além de cumprir a Lei 14.182/21, irá assegurar
a interiorização do gás natural, viabilizando a construção de plantas de fertilizantes
e energia para a movimentação dos pivôs no agronegócio”, afirma o executivo.
Segundo Salomon, o aporte em infraestrutura é indispensável para que o país possa reduzir o atual nível de reinjeção do combustível, de aproximadamente 70 milhões de m³ no pré-sal, sem pagamento de royalties ou partilha de produção e impostos. “Essa situação obriga o Brasil a importar aproximadamente 65 milhões de m³ do exterior por dia, 50% do nosso consumo”, argumenta.
Outro ponto é que a Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP) reveja os planos de desenvolvimento aprovados
dos concessionários de exploração da camada pré-sal, demonstrando tecnicamente
que é possível reinjetar menos gás. “Há exemplos em vários países de campos com
as características brasileiras, não associados ao off-shore. É preciso manter o
volume de extração de óleo bruto nos poços do pré-sal com melhor aproveitamento
do gás nacional, reduzindo a volatilidade dos preços”, observa.
O presidente da Abegás ressalta ainda que a ANP e o
Ministério das Minas e Energia (MME) devem assegurar que os novos contratos de
partilha não terão o desenvolvimento da produção aprovado sem solução para a
comercialização do insumo extraído, reduzindo a reinjeção desnecessária.
Em relação aos gasodutos, a indicação é que se utilize a cláusula existente nos contratos de partilha para estabelecer a possibilidade do explorador construir as rotas de escoamento até o continente, inclusive suas unidades de beneficiamento. “Esses investimentos devem ser classificados como ‘custo óleo’, reembolsados com o óleo/gás produzido”, finaliza Salomon.
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