A importância do conceito ALARP e como usá-lo para reduzir riscos na Análise BowTie
13, Jul. 2022
Por Fernando Fibe De Cicco – Fonte QSP
Uma das técnicas usadas para avaliar a significância dos
riscos e presente na norma NBR IEC 31010:2021 é o conceito ALARP - As Low as
Reasonably Practicable (Tão Baixo Quanto Razoavelmente Praticável).
De forma geral, o ALARP pode ser usado para decidir se um
risco específico é tolerável ou aceitável, levando em consideração os custos
associados à redução desse risco. O conceito ALARP geralmente requer que o
risco seja reduzido ao menor valor possível e pode indicar se o mesmo precisa
ou não de tratamento, ajudando a priorizar os riscos.
Essa abordagem é amplamente adotada na área de Segurança do
Trabalho e pode ser usada para classificar riscos em uma das três categorias a
seguir:
- Uma categoria de risco intolerável, na qual não é
possível justificar o nível de risco, quaisquer que sejam os benefícios que
possa trazer à organização e os custos associados à sua redução. Nessa faixa, o
risco não é aceitável, exceto em circunstâncias extraordinárias, sendo
fundamental a adoção de medidas para reduzi-lo.
- Uma categoria de risco amplamente aceitável, em que
o risco é desprezível e não requer uma redução adicional (que pode, no entanto,
ser implementada, se praticável e razoável).
- Uma região entre esses limites (a região ALARP), na
qual convém que uma redução adicional de risco seja implantada, apenas se for
razoavelmente praticável, levando em consideração os custos e benefícios de
sua redução.
Figura 1 - Diagrama ALARP (clique na figura para ampliar)
Como usar o ALARP para reduzir riscos
O modelo ALARP representa uma ponderação entre o nível de
risco que a organização deseja obter e os recursos disponíveis para a redução
deste risco. Assim, para que o risco seja reduzido ao nível ALARP, convém pesar
o nível de risco desejado e o esforço necessário para reduzi-lo ainda mais.
Para tanto, três pontos devem ser considerados:
• O nível de risco inerente (Risco Alto, Risco Médio,
Risco Baixo, por exemplo).
• A redução do nível de risco (Alto, Médio, Baixo) obtida
pela introdução de um novo controle para este risco inerente.
• O esforço (tempo, dinheiro, dificuldade) necessário
para implementar este novo controle.
Esses três pontos podem variar e, dependendo de como se
combinam, é possível decidir se o risco já está ALARP ou se necessita de
controles adicionais para alcançar o nível ALARP.
Figura 2 - Nível de Redução do Risco Inerente x Esforço
(clique na figura para ampliar)
A tabela acima representa como essas dimensões interagem, de
acordo com as seguintes regras de decisão:
- Siga:
Implemente novos controles
- Pare: Já está no nível ALARP
• Observamos que, para qualquer nível de redução (Alto,
Médio, Baixo) dos riscos inerentes (Risco Alto, Risco Baixo, Risco Médio), se
o esforço for Baixo, a maioria dos controles adicionais seriam implementados.
A única categoria que já estaria ALARP seria a de Baixo Nível de Redução do
Risco Inerente para Risco Baixo.
• Para qualquer nível de redução (Alto, Médio, Baixo) dos
riscos inerentes (Risco Alto, Risco Baixo, Risco Médio), se o esforço for
Médio, menos controles adicionais seriam implementados. Categorias que já
estariam ALARP seriam a de Nível Médio de Redução do Risco Inerente para Risco
Baixo, bem como as de Baixo Nível de Redução do Risco Inerente para Risco Médio
e Risco Baixo.
• Para qualquer nível de redução (Alto, Médio, Baixo) dos
riscos inerentes (Risco Alto, Risco Baixo, Risco Médio), se o esforço for
Alto, a maioria dos riscos já estariam ALARP e poucos controles adicionais
seriam implementados.
ALARP e Análise BowTie
Agora que temos uma ideia de como aplicar o conceito ALARP
para avaliar a significância dos riscos, podemos compreender como ele pode ser
usado na Análise BowTie (BTA).
Esse processo pode ser dividido em cinco etapas:
Determinação do nível de risco atual
1. Determine o nível de risco inerente relativo àquele risco específico.
2. Identifique a redução de risco alcançada com os controles
existentes. Isso determinará a contribuição destes controles para a redução do
risco inerente.
3. Determine o risco residual, ajustando o nível de risco
inerente com a introdução de controles e/ou medidas de tratamento adicionais.
Avaliação ALARP
4. Investigue controles adicionais para reduzir ainda mais o
risco residual e estime o esforço necessário para implementá-los.
5. Avalie o risco residual, comparando a redução de risco e
o esforço necessário para a implementação de controles adicionais, de modo a
determinar se o risco já está ALARP ou se serão necessários controles e/ou
medidas de tratamento adicionais.
Por meio da BTA, é possível identificar, para cada cenário
analisado, os níveis de risco inerente e residual, bem como indicar se esses
riscos estão ALARP ou se necessitam de medidas de tratamento adicionais.
Pontos fortes e limitações do ALARP
Os pontos fortes do ALARP incluem:
• apoiar o princípio da utilidade, pois pode promover a
redução dos riscos sem demandar mais esforço do que é razoavelmente aplicável.
• permitir o estabelecimento de metas não prescritivas.
• apoiar a melhoria contínua, visando minimizar riscos na
organização.
• fornecer uma metodologia transparente e objetiva para
discutir e determinar riscos aceitáveis, ou toleráveis, por meio de consulta às
partes interessadas.
As limitações desse modelo são as seguintes:
• A interpretação do ALARP pode ser desafiadora porque exige
que as organizações entendam o contexto legislativo racionalmente praticável e
exerçam julgamento em relação a esse contexto.
• A aplicação do ALARP às novas tecnologias pode enfrentar
obstáculos, pois riscos e possíveis tratamentos podem não ser conhecidos ou bem
compreendidos.
• O ALARP estabelece um padrão comum de análise que pode não
ser financeiramente acessível às organizações menores, resultando em riscos de
interrupção de atividades.
Artigo desenvolvido em colaboração com Oneglia Cavalcanti,
membro do Conselho Fiscal do QSP .
Fonte: NBR IEC 31010:2021.
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