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Sustentabilidade e ESG no foco da gestão do risco

26, Dez. 2022

Por Carlos Alberto Pacheco

 

Um evento que reuniu risk managers e profissionais de várias partes do País se superou em todos os quesitos. A Expo ABGR 2022 - XIV Seminário de Gestão de Riscos e Seguros, realizado nos dias 16 e 17 de novembro, no Pró-Magno Centro de Eventos, em São Paulo provou porque é considerado o maior evento de gerenciamento de riscos da América Latina. Cerca de 4 mil pessoas prestigiaram o acontecimento, entre grandes players e tomadores de decisão do setor de risk management.

O tema central do seminário da entidade, “Open Insurance e ESG: os desafios da inovação e sustentabilidade para o risk management”, atraiu inúmeras pessoas que assistiram a um ciclo de palestras simultâneas. Vinte e um eixos temáticos abordaram questões relevantes como gestão de riscos, open insurance e inovações, sandbox e insurtech, ESG & sustentabilidade, transportes – logística e gerenciamento de riscos, entre outros.

Já a feira de negócios da ABGR mostrou a sua força: expositores ligados a algumas das maiores empresas do segmento, brokers e executivos de ponta fizeram interação com risk managers, houve networking produtivo e concretização de negócios. Neste ambiente estratégico, compradores de seguros dialogaram com a cadeira produtiva e conheceram o leque diversificado de produtos disponíveis no mercado. A expo e o seminário foram realizados simultaneamente a outro evento - o CMS Financial Innovation.

“Ficamos muito satisfeitos com a presença de grandes empresas e os patrocinadores que acreditaram no evento. Nossa missão é trazer o risk manager para dentro da ABGR”, ressaltou o diretor presidente da entidade, Luiz Otavio Artilheiro. O diretor financeiro Wilnner Eduardo Silva, acrescentou: “O evento fomentou a troca de experiências entre seguradoras, resseguradoras, brokers, clientes e risk managers”.

Na visão do diretor secretário geral, Thiago Amorim, a ABGR posicionou o profissional como “protagonista do mercado”. E a assessora do conselho e diretoria, Marcia Ribeiro, lembrou que um dos méritos do evento foi atrair a participação de compradores de seguros dos diversos segmentos. O diretor-executivo da apoiadora especial, a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Danilo Silveira, elogiou a realização do seminário e feira. “Como FenSeg, tivemos a honra de apoiar a ABGR para ajudar na indicação de profissionais que participaram dos painéis”.

Silveira se surpreendeu com a qualidade dos temas, afirmando que a programação do encontro “transcendeu os grandes riscos”, ao focar em sustentabilidade, ESG, sandbox, vida e saúde, por exemplo. O diretor da FenSeg também manifestou sua admiração com a Expo ABGR: “Fiquei encantado com a exposição e o grande número de participantes. Isto é uma prova de que o mercado amadureceu e evoluiu e agora esperar ouvir mais as demandas do cliente”, observou. E garantiu: “Saímos de lá com uma agenda de temas de médio e longo prazo”.

Palestra de abertura

“Que mundo iremos deixar para as nossas crianças nos próximos 30 anos”, questionou o director risk management da DHL, Guilherme Brochman, na palestra de abertura do seminário “ESG: Desafios, Gestão de Risco e Sustentabilidade”. Aliás, o tripé Environmental, Social and Corporate Governance (ou Ambiental, Social e Governança Corporativa – ASG, no português) pontuou a maioria dos painéis, mantendo-se no foco da gestão do risco.

Segundo Brochman, a utilização de tecnologia nos combustíveis é uma preocupação das empresas para diminuir os lançamentos de dióxido de carbono na atmosfera. “A DHL estabeleceu a meta de reduzir emissões de gases de efeito estufa até 2030”, alinhada com o Acordo de Paris por meio da iniciativa Science-Based Targets (SBTi) e investindo 7 bilhões de euros adicionais globalmente para atingir o objetivo”, revelou.

O debate sobre a agenda ESG continuou no segundo painel, com o tema “Instituições do Mercado Segurador & Agenda ESG”. “Queremos ver toda a economia brasileira focada nesta agenda”, conclamou o diretor da Superintendência de Seguros Privados (Susep), José Nagano. O vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), Fred Knapp, disse que as resseguradoras devem trazer novas tecnologias para aplicar no mercado local. Ele sugeriu que compradores de seguro, corretores e resseguradoras utilizem parte de seu orçamento, ou seja, um determinado percentual na compensação de carbono.

Já Danilo Silveira, diretor-executivo da FenSeg enfatizou o papel exercido por 94 mil corretores de seguros em atividade no mercado, que se desdobram para melhor atender os clientes. Segundo Danilo, há muito espaço para o crescimento do mercado, lembrando que apenas 15% das residências e 30% da frota de veículos têm seguros no Brasil. “O seguro tem relevante papel social. E temos obrigação de crescer”, sentenciou. Na visão do diretor da FenSeg, o corretor deve ir além de sua atividade original, ou seja, ser um consultor do cliente e saber analisar o risco envolvido num determinado produto.

 Ações de sustentabilidade

Na terceira palestra, Nathalia Abreu (Zurich Brasil Seguros) defendeu ações integradas das empresas com a sustentabilidade, trabalhando toda a cadeia de produtos nessa direção. Thomas Fabelo (Aon) reforçou o propósito também definido pela DHL: “Na agenda global, será neutralizado 100% do carbono até 2030”, garantiu. Mas Daniela Cavalcante Pedroza (Ambipar VG) fez uma ressalva: “ESG é um assunto que nem todas as organizações entendem”. Fátima Lima (Mapfre Seguros) ressaltou o compromisso da companhia: “Trabalhamos na redução de carbono e energia limpa. Temos grandes compromissos globais assumidos na transição para a economia de baixo carbono, subscrevendo risco”.

“Diversidade & Inclusão na Pauta de ESG” trouxe o depoimento de algumas das principais protagonistas femininas do setor, como a presidente e fundadora da Sou Segura, Simone Vizani. “Nossas ações impactam positivamente na sociedade. Damos voz, movimento e visibilidade para as mulheres”, declarou. “Queremos contratar e formar líderes que não sejam impositivos. Essas lideranças devem ter mindset”, apontou Stephanie Zaicman (Wiz Soluções). Na ótica de Edna Vasselo Goldoni, presidente e fundadora do Instituto Vasselo Goldoni, a entidade crê no poder transformador da mulher e na equidade de gênero. “Entendo que as mulheres, hoje, têm maior noção do querem e qual direção tomar”, observou a mediadora Marcia Ribeiro (ABGR). 

Open Insurance

Após o coffee break, o painel “Open Insurance & Inovações” reuniu a superintendente de Acompanhamento Técnico da CNseg, Karini Madeira, o diretor-executivo da FenSeg, Danilo Silveira, Mellina Senra, líder de Seguros da Ômega Energia e co-coordenadora da ABGR, e o diretor-estatutário da Zurich Santander Brasil, João Ângelo. Os painelistas falaram sobre o atual panorama do Open Insurance, que promete trazer novos desafios para o mercado segurador.

Em termos de inovação, o Open Innovation, um dos pilares do sistema, disponibiliza dados e serviços integrados e padronizados, que permitem a criação e desenvolvimento de novas soluções para as seguradoras e instituições de previdência.

Na análise de Danilo Silveira, o Open Insurance “não substituirá as formas convencionais de contratação, mas será um facilitador para novos negócios, um canal alternativo”. Ao ressaltar o trabalho voluntário de representantes das seguradoras na viabilização do Open Insurance, Silveira destacou que um dos desafios postos será o de “expandir para trazer novos segurados, e não somente acirrar a competição entre as congêneres”.

Temas da ordem do dia do mercado, sandbox, insurtech e cyber risk sugeriram debates providenciais sobre inovação. Para Nikolaus Maack (Mapfre Seguros), as insurtechs devem transformar a vida das pessoas e tornar ações e procedimentos mais simples. “O mercado de seguros é colaborativo e isto tem a ver com a natureza das startups. A Susep permitiu a entrada de novos players e flexibilizou o mercado”, reforçou Luiz Gustavo Ferreira Galrão (Latú Seguros). Barbara Possignoto (Pier Seguradora) lembrou que existe espaço para o gestor de risco num ambiente de inovação, pois ele garante a eficiência das medidas adotadas pelas empresas. 

Cyber, agro e ambiental

O segundo dia do XIV Seminário de Gestão de Riscos e Seguros trouxe novas questões para o debate. Sobre cyber risk e LGPD, Marta Schuh (Marsh), Marco Mendes (Aon) e Eduardo Bezerra (Wiz) relataram suas experiências, com ênfase nas melhores práticas no dia a dia das empresas. Na opinião de Marta, a contratação de seguro cyber deve estar acompanhada de medidas de compliance. E citou um dado: “Oitenta por cento das empresas pagam resgate de sequestros a hackers. Pagar resgates não é a melhor opção. Isso precisa ser mais bem discutido”. 

O agronegócio e o meio ambiente foram debatidos em painel específico com alguns dos especialistas do setor. “Há alguns desafios para o seguro agrícola. Na safra 2021/2022, o café e a cana na região centro-sul foram castigados por catástrofes climáticas, como as geadas. A expectativa no futuro é o seguro garantir a reposição das perdas e das modalidades de negócios envolvidas”, opinou Glaucio Toyama (Swiss Re).

Na visão de Talita Ferrari (Wiz), o agronegócio é um segmento muito importante para o País, exposto ao principal risco: “o clima não gerenciável”. Citou os históricos gargalos na infraestrutura (transporte de alimentos) e a necessidade das empresas se adequarem à agricultura de baixo carbono, cumprindo metas de ESG. Paulo Vitor Rodrigues (Aon) destacou o fenômeno do crescimento de startups (agrotechs) que atuam no seguro agrícola, mas advertiu que 32% da produção de alimentos é desperdiçada na cadeia de transporte.

Daniel Asseituno (AXA Seguros), por sua vez, lamentou: “O produtor ainda enxerga o seguro agrícola como um custo. Eu defendo que seja mais competitivo – uma garantia adicional à operação de financiamento”. Pouco difundido no Brasil, o seguro paramétrico foi lembrado pelos painelistas. O seguro protege as culturas contra distúrbios climáticos, sem estar atrelado à produção propriamente dita. Paulo Vitor sugeriu que essa modalidade de proteção seja construída em torno de um índice passível de ser monitorado remotamente.

Transportes e GR

Diego Gomes (Chubb Seguros), Sérgio Caron (Marsh), Rodolfo Albuquerque Alves (Liberty Seguros) e Denis Teixeira (Alper) compuseram o painel “Transportes, Logística e Gerenciamento de Riscos”. Segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), mais de 60% das cargas em circulação no País são conduzidas pelas rodovias. O Brasil possui uma frota de 2 milhões de caminhões, sendo 60% transportados por motoristas autônomos.

Os painelistas foram unânimes em considerar que o gerenciamento de risco é fundamental no processo de contratação de uma apólice de Transportes. As companhias precisam sempre investir em desenvolvimento tecnológico e capacitação dos profissionais para o bom cumprimento das operações. Os clientes devem dispor de análises técnicas e detalhadas com recomendações preparadas por especialistas.

Notadamente, foram tantas as perspectivas de aprendizados e troca de experiências durante as interessantes plenárias, favorecendo a expansão de conhecimento dos congressistas que ficou evidente a expectativa do próximo episódio.  



Da esq. p/ dir.: Danilo Silveira (FenSeg) na palestra "Instituições do Mercado Segurador & Agenda ESG",

observado por José Nagano (Susep), Fred Knapp (Swiss Re) e Christian Mendonça (Norsk Hydro)