Impactos econômicos ocasionados pelo Open Insurance
15, Jun. 2023
Fonte: Revista Seguro Total
No modelo em que o consumidor passa a ser a peça central
podendo transferir seus dados para diferentes seguradoras, surge a pergunta:
quais serão os impactos econômicos ocasionados pelo Open Insurance? Para
Humberto, enquanto este novo modelo de mercado está em fase de implementação,
esta pesquisa científica contribui através da construção de diversos cenários
sobre possíveis impactos econômicos deste novo modelo. A princípio ela é
voltada especificamente para o mercado de seguros de automóveis, mas com
potencial de ser ampliada para toda a diversidade de produtos que a indústria
de seguros e resseguros engloba.
Pedro Ozenda, pesquisador da FGV EPGE que também participou
do estudo, relata que entre os principais benefícios esperados do Open
Insurance está a diminuição do poder de mercado das seguradoras. “Como as
empresas atualmente possuem exclusividade sobre as informações de seus
clientes, e o Open Insurance vem justamente para driblar isso, permitindo que o
segurado consiga levar seus dados para uma outra empresa, o novo sistema
permitirá que o segurado decida quais seguradoras terão acesso aos seus dados,
de modo que mais empresas possam incorporar essas informações na precificação
dos contratos”, introduziu Ozenda.
Ele complementa que este cenário inclui a possibilidade de
diminuição dos preços dos produtos oferecidos pelas seguradoras: “no momento em
que o consumidor faz uma busca por contratos de seguros, as seguradoras farão a
precificação do contrato de acordo com uma estimativa do risco de ocorrência de
sinistro, baseada em diversas características do cliente. Como dito
anteriormente, com o Open Insurance, caso haja o consentimento do cliente, não
existirá mais uma discordância em relação a quais dados as seguradoras têm
acesso ou não, o que elimina uma espécie de monopólio sobre estes dados por
parte da seguradora que foi contratada”.
Conforme Ozenda, a situação muda com a chegada deste novo
sistema: “a partir de agora, este segurado com risco baixo, sendo portador de
seus próprios dados, obriga as seguradoras a separarem o ‘joio do trigo’ e
adequar melhor a precificação dos produtos, conforme a realidade do cliente. Em
outras palavras, a seguradora utiliza seu poder de monopólio de informações
para cobrar mais caro, e o novo modelo vem justamente para tirar este poder de
monopólio”.
Principais desafios
O professor Humberto também destaca como este cenário benéfico pode também ser, ao mesmo tempo, desafiador e complexo: “Com as mudanças no mercado e as adaptações na regulação, abre-se espaço para que novas empresas surjam e se tornem, a longo prazo, acumuladoras de informações sobre diferentes segurados. E sendo as grandes empresas de seguros as melhores estabelecidas no mercado, ao perder espaço para essas empresas mais novas, pode ocorrer o interesse de essas empresas maiores despertarem a vontade em adquirir as empresas menores, fazendo com que os dados que antes ficaram mais difundidos, voltem a ser propriedade de uma grande seguradora”.
Um outro possível efeito colateral, apontado por Ozenda, diz respeito a cibersegurança. Ele relata como este é um fator central para a discussão: “o Open Insurance tem o que chamamos de efeitos de rede, isto é, quanto maior o número de participantes na plataforma, maior o seu valor para os participantes, portanto é necessário que haja um grande volume de seguradoras e segurados aderentes. Além disso, as seguradoras que decidirem participar do ecossistema terão que criar programas padronizados que facilitem que seus dados internos sejam acessados por terceiros, como outras seguradoras, insurtechs e desenvolvedores”.
Segundo Ozenda, este é um grande desafio, pois estes programas são uma fonte de vulnerabilidade a ataques hackers. “Caso haja um ataque hacker a uma seguradora, dada a interconectividade do ecossistema, isto pode causar um efeito de transbordamento e minar a confiança dos consumidores no Open Insurance, causando uma baixa adesão. Devido aos efeitos de rede já mencionados, o Open Insurance precisa de uma alta adesão para que seu valor na sociedade seja potencializado, por isso é muito importante garantir a segurança do sistema”, disse.
Ele acrescenta que ainda não está claro como será garantida
esta segurança, mas que este precisa ser um dos focos a partir de agora, pois é
necessário que as pessoas se sintam seguras para que o Open Insurance possa ser
usufruído em toda sua potencialidade. “Vale ressaltar que esta garantia de
segurança será um novo custo a ser assumido pelos participantes nesta
indústria”, pontuou.
Open Insurance e LGPD
Ozenda detalha a importância da LGPD no contexto do Open
Insurance: “Quem vai pagar o custo da manutenção da segurança do sistema para
compartilhamento de dados pessoais? Como será implementado? Não só do ponto de
vista técnico, mas também econômico, pois um ataque hacker a somente uma
empresa pode afetar negativamente todas as empresas participantes por meio do
efeito de transbordamento, o que quer dizer que o investimento em
cibersegurança por parte de uma empresa será menor do que o ‘socialmente
ótimo’, já que nenhuma seguradora individualmente considerará os efeitos de um
ataque hacker em outras seguradoras. Portanto é importante que o regulador
garanta que os níveis adequados de investimento em cibersegurança sejam feitos,
semelhante a como é feito com requisitos mínimos de capital, no setor bancário,
devido aos riscos sistêmicos do setor”, concluiu o pesquisador.
Pioneirismo brasileiro
O pesquisador Humberto Moreira enfatiza que o cenário é
complexo e com muitas dúvidas: “o Open Insurance vai pulverizar o mercado?”,
“Vai diminuir os preços dos seguros?”, “Como ficará o mercado após sua
implementação?”. Ele argumenta que muitas respostas vão depender de como a
regulação será aplicada, visto que atualmente este mercado deixa uma grande
parcela da sociedade excluída, e que o compartilhamento de dados pode trazer
novos ares para a competitividade dentro do mundo dos seguros.
Apesar de ainda não terem realizado a implementação, o Reino
Unido e a Austrália são pioneiros em sistemas de compartilhamento de dados e,
junto com o Brasil, são os países mais avançados na criação desse sistema para
o setor de seguros, no entanto os projetos ainda estão em fase de estudos.
“Vale ressaltar que nossa pesquisa é de cunho teórico, ou seja, realizamos
estudos, para prever, através de dados e conhecimentos científicos, como este
movimento poderá afetar o mercado e a economia como um todo. Somente no futuro,
com a implementação já em execução, será possível realizar estudos de caso ou
empíricos e falar com mais precisão sobre o assunto. Por enquanto, estamos
lidando somente com cenários”, alegou Moreira.
Papel dos acadêmicos
Moreira acredita que esta pesquisa demonstra na prática uma
função primordial por parte das instituições de pesquisa, que é a de levar
informação e conhecimento a população, ao setor público e as empresas, sobre
possíveis caminhos para tratar as mudanças que ocorrem no mercado e na
regulação. Com o objetivo de desenvolver pesquisas adicionais sobre inovações
em seguros e resseguros, incluindo análises comparadas a nível internacional, a
FGV EPGE firmou parceria com a Columbia University.
Bernard Salanié, professor do Departamento de Economia da
Columbia University em Nova York, acredita que com a exposição da população a
novos riscos, como os eventos climáticos severos, o mercado de seguros está
recebendo novos incentivos para o seu desenvolvimento. “Isso levanta muitas
questões cruciais de política pública: qual deve ser o papel do seguro público
e privado? Como deve ser organizada e regulamentada o compartilhamento de
informações? Os economistas têm muito a dizer sobre essas questões e o novo
estudo da FGV é um passo importante na comunicação de suas descobertas”,
comentou o professor.
O diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Damaso,
também destaca a importância de acadêmicos andarem lado a lado com o mercado
financeiro, auxiliando a população a se adaptar aos novo modelo do mercado de
seguros. Ele afirma que o sistema financeiro está passando por rápidas mudanças
e a pesquisa científica, nesse contexto, torna-se essencial.
“O conhecimento científico tem o potencial de trazer
informação embasada e precisa sobre os possíveis efeitos de políticas públicas
na população. Pode levantar benefícios, identificar possíveis entraves e
analisar comportamentos, contribuindo para nortear a regulação, a supervisão
dos órgãos de governo e fornecendo subsídios de extrema relevância para o
desenho de ações que auxiliem a população a melhor usufruir das inovações que
estão sendo propostas”, declarou Otávio Damaso. O relatório com possíveis
cenários e os impactos no mercado de seguros, após a implementação do Open Insurance,
pode ser acessado clicando aqui.
https://revistasegurototal.com.br/2023/06/15/pesquisadores-preveem-impactos-na-economia-com-o-open-insurance/
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Conjuntura CNseg: https://cnseg.org.br/publicacoes/conjuntura-cnseg-n89.html
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