Rigor na subscrição é a regra nos seguros para energias renováveis

Por : Rodrigo Amaral - Fonte : Risco Seguro Brasil




O mercado de seguros está de olho no crescimento das energias renováveis, oferecendo novas fontes de capacidade e uma gama mais ampla de serviços na medida em que os investimentos não param de crescer.

Mas os subscritores enfrentam importantes desafios na hora de oferecer coberturas às empresas do setor, como a dificuldade de assegurar novos tipos de equipamentos em usinas eólicas e solares, cuja tecnologia evolui a passos acelerados.

E os sponsors de projetos também precisam se esforçar para transferir suas exposições, uma vez que o mercado está bastante exigente quanto à qualidade da gerência de riscos de seus potenciais clientes.

Uma coisa é certa: para seguir crescendo, as empresas que desenvolvem parques de energias renováveis precisam continuar encontrando coberturas de seguros para seus projetos.

Tendência global

Oportunidades para sponsors e suas seguradoras não devem faltar.

As energias renováveis são uma prioridade tanto do Novo PAC quanto do Plano de Reindustrialização lançados pelo governo federal nos últimos meses.

A expansão do mercado livre de eletricidade e a proliferação de acordos bilaterais entre produtores e grandes consumidores de energia limpa também devem seguir impulsionando o desenvolvimento de novos projetos que não dependam de licitações feitas pelo governo federal.

Além disso, a aprovação da lei que permite o desenvolvimento de projetos de energia eólica offshore abre uma nova vereda de potenciais investimentos em renováveis no país.

A tendência, claro, não ocorre só no Brasil.

A Agência Internacional de Energia estima que, nos próximos cinco anos, o volume de energia produzido por novos projetos de renováveis em todo o mundo superará ao que foi adicionado nas últimas duas décadas.

Segundo a entidade, investimentos de cerca de US$ 7 bilhões anuais são feitos no Brasil em fontes limpas de energia.

Todos de olho

O mercado de seguros está atento às oportunidades que serão criadas por esse movimento.

Segundo a Swiss Re, os prêmios gerados pelo setor de energias renováveis entre 2022 e 2035 chegarão a US$ 237 bilhões em todo o mundo.

Deste total, US$ 222 bilhões estarão ligados a operação dos parques de geração de energia, e US$ 15 bilhões, à sua construção.

Na América Latina, o volume será de US$ 30 bilhões, a maior parte do qual deve ser originado no Brasil, o principal produtor de energias renováveis da região com alguma distância.

                                                                                                  


Novos produtos, muita capacidade

Com o Brasil como uma peça importante no quebra-cabeça da sustentabilidade, não é de estranhar que subscritores tanto nacionais quanto estrangeiros estejam de olho no potencial do mercado.

Novos produtos e serviços estão sendo lançados na medida em que o número de projetos não pára de aumentar.

A Zurich, por exemplo, em setembro passado anunciou sua entrada no setor de energia eólica e solar, oferecendo coberturas para riscos nomeados e operacionais e riscos de engenharia, além de cyber, D&O, garantia e responsabilidade para as empresas do ramo.

Por sua vez, a Tokio Marine, uma das mais ativas seguradoras no segmento, colocou à disposição de seus clientes em julho os serviços da Clir, uma empresa canadense de gestão de riscos operacionais em projetos de energia renovável.

Outro sinal do interesse do mercado de seguros é a capacidade disponível para as empresas do setor, descrita como abundante por corretores.

Farme explica que a experiência do país com energias renováveis, que respondem por mais de 90% da geração doméstica, faz com que o mercado esteja mais cômodo com o risco que em outras partes do mundo.

De fora também

Não há notícia de falta de capacidade doméstica para projetos nas três principais linhas demandadas, a saber, o seguro garantia, os riscos de engenharia e os riscos patrimoniais, afirma ele.

Conta a favor do setor a reduzida exposição a eventos catastróficos. Terremotos, tempestades de granizo e vendavais podem causar sinistros em série especialmente em projetos solares, e este não é um problema com que o mercado brasileiro tenha que se preocupar demasiado.

É verdade, porém, que o mercado está começando a diferenciar as exposições catastróficas dentro do Brasil após os eventos climáticos dos últimos anos.

Além disso, há apetite pelo risco tanto no mercado local quanto no resseguro offshore, uma opção cada vez mais utilizada pelas empresas brasileiras quando os projetos exigem investimentos mais elevados e utilizam estruturas sofisticadas de financiamento, como o project finance.


Seletividade

O fato de que exista capacidade não quer dizer que seja moleza para as empresas estruturarem seus programas de seguro.

Hoejenbos diz que, como resultado dos últimos anos de mercado duro, os subscritores estão extremamente seletivos com os riscos que aceitam, e não há indícios de que esta situação vá mudar, ainda que tenha havido sinais de abrandamento do resseguro nas últimas renovações.

Outro desafio é encontrar coberturas para tecnologias em estado incipiente de aplicação, algo muito comum em um setor que vem se desenvolvendo com rapidez.

Paulo Mantovani, diretor de Energia e Mineração na Marsh, acrescenta que a utilização de clausulados mais eficientes e objetivos também ajudaria os compradores a terem acesso a mais fontes de capacidade, especialmente nos mercados offshore.

Segundo ele, os clausulados brasileiros são mais complexos que os internacionais e poderiam ser simplificados e ir mais direto ao ponto.


Riscos para as seguradoras

Há motivos para as seguradoras seguirem adotando uma atitude cuidadosa, segundo um paper publicado em novembro pela Swiss Re.

A resseguradora suíça destaca três riscos a que se expõem os subscritores que oferecem capacidade para o setor.

O primeiro é a acumulação de perdas catastróficas, algo que pode se intensificar com a proliferação de projetos eólicos offshore ao redor do mundo.

O segundo é ter a capacidade de acompanhar a evolução da tecnologia no setor. É necessário adaptar as tarifas e os clausulados das coberturas na medida em que ocorrem mudanças como o aumento da extensão das pás das torres eólicas ou de novos painéis fotovoltaicos.

Por fim, há o tema dos sistemas de armazenamento de energia, uma tecnologia vital para a viabilidade das renováveis e que ainda está em desenvolvimento.


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