Transição energética passa por regulação, recursos e mobilização, dizem especialistas
Painel sobre os caminhos da energia renovável, promovido pela EXAME, debate o papel do Brasil na liderança do processo de redução de emissões
Por Paula Pacheco - Fonte: Exame - ESG
Os tomadores de decisão, investidores, pensadores e representantes da sociedade civil têm dedicado cada vez mais tempo para encontrar soluções que coloquem de pé iniciativas que minimizem os danos ao planeta e deem celeridade ao processo de transição energética para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A EXAME preparou uma série de conversas sobre as perspectivas para o avanço da energia renovável no Brasil, com a participação de especialistas, executivos que trabalham pela energia renovável no Brasil, além de líderes e stakeholders que podem influenciar e tomar decisões de forma efetiva.
O primeiro painel é sobre o Brasil como líder da Agenda 2030, com a participação de Alexandre Siciliano, chefe de Departamento da Área de Transição Energética e Clima do BNDES, Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, com a mediação de Antonio Temóteo, repórter de macroeconomia da EXAME.
Além do potencial
Pereira, do Pacto Global, alertou para o fato de ser senso comum que o Brasil seja identificado pelo seu potencial em energias renováveis. No entanto, essa condição não deve ser tratada apenas como vocação natural por causa da grande disponibilidade de terras, sol, água e vento. É preciso que a sociedade se posicione e haja para que haja avanços, como aconteceu com o etanol desde o lançamento do programa governamental Proálcool, na década de 1970.
Hoje, graças a decisões de governo, detalha Pereira, o que se vê é o avanço gradual do uso do etanol, usado puro no abastecimento dos tanques dos veículos, mas também combinado com a gasolina (27%) e com o diesel (que caminha para o B15, com 15% na mistura, e plano de chegar a B20). “O desenvolvimento tecnológico para o etanol não é vocação natural, é uma decisão da sociedade civil, por isso é importante quebrar esse mito”, pontua.
A provocação do CEO do Pacto Global da ONU no Brasil é para que haja uma mobilização ampla, como o setor público, privado e sociedade civil, para que a pauta da energia renovável avance de fato no país.
Pereira lembra que, mais recentemente, tem sido possível ver uma corrida em torno do hidrogênio verde, com empresas relevantes fazendo alianças com players nacionais e internacionais. “Mas quando falamos de país, apesar de o governo estar avançando muito, ainda falta um pouco mais de ambição”, analisa.
Papel do arcabouço legal e financeiro
Segundo Alexandre Siciliano, chefe de Departamento da Área de Transição Energética e Clima do BNDES, o desafio é encontrar caminhos para transformar as vantagens comparativas e competitivas do Brasil. Por exemplo, por meio da construção de arcabouço legal e financeiro, que transforme as vocações do país na pauta da energia renovável em soluções de curto, médio prazo.
“O grande desafio que temos é conciliar os mecanismos financeiro e regulatório”, sintetiza o representante do BNDES. Siciliano lembra das vantagens que os países europeus e os Estados Unidos levam nesse processo, já que contam com grande disponibilidade orçamentária e maturidade tecnológica. Esse quadro dá agilidade na oferta de subsídios.
No entanto, quando se trata de Brasil, segundo o chefe do banco estatal, “a gente tem de tirar um pouco de leite de pedra e tentar construir um arcabouço que use o mínimo possível de recurso fiscal e possa de fato explorar determinadas oportunidades de negócio que o país tem”.
O setor elétrico, como lembra Siciliano, tem um ótimo histórico, mas precisa avançar na agenda de modernização. “É um setor que traz a eletricidade como um grande insumo que pode potencializar as novas tecnologias, como o hidrogênio verde e a eletrificação na ponta, por meio da mobilidade elétrica”, lembra.
Hoje, o Fundo Clima, que passou por uma captação recente, conta com cerca de R$ 10 bilhões em recursos. O BNDES, segundo o executivo, tem discutido com o poder concedente formas de viabilizar condições que tornem a substituição energética para fontes mais limpas mais eficiente. Siciliano avalia que seja necessário desenhar soluções junto com o mercado que tragam mais eficiência para que na ponta, a redução gradual do custo seja sentida.
Arenas de discussão como a COP28, realizada no final do ano passado, reforçam o papel da transição energética como o principal caminho para conter a elevação da temperatura do planeta. Como reafirma o CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, “a demanda está projetada e quase contratada”, com o compromisso assumido de triplicar a energia renovável e nuclear até 2030 para atender a necessidade da descarbonização. Hoje, 80% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) do planeta vêm da geração de energia.
“É fundamental entender os desafios, os gargalos e atacar o problema. O debate está bastante pacificado quanto à necessidade e à oportunidade que temos por aí”, diz Pereira.
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