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Falta de seguros para transição energética preocupa as empresas

20, Fev. 2024

Por Rodrigo Amaral - Fonte: Revista Risco Seguro Brasil 

A Conferência anual de gestores de riscos franceses é um dos mais importantes eventos do setor de seguros em todo o mundo e um ótimo lugar para identificar os rumos que o mercado está tomando.

Em 2024, alguns temas se sobressaíram em meio a expectativas sobre o possível fim do mercado duro: o papel da indústria de seguros na transição energética; os riscos e oportunidades trazidos pela inteligência artificial generativa e a rápida deterioração dos riscos para as cadeias de abastecimento.

A RSB acompanhou in loco a conferência da AMRAE, a associação francesa de gestão de riscos, no belo (e frio) balneário de Deauville, no canal da Mancha.

Foram três dias de discussões de alto nível em que seguradoras, resseguradoras e brokers fizeram o que puderam para chamar a atenção dos combativos gestores de riscos de algumas das maiores empresas europeias.

Porque os Rencontres de l'AMRAE não são moleza para os atores do mercado. Só neste ano, subscritores foram acusados em alto e bom som de não ajudar com a transição energética, não fornecer coberturas para tecnologias inovadoras, retirar garantias de regiões com exposição catastróficas e ignorar as boas práticas de gestão de riscos de seus clientes.

O resultado de tamanha franqueza é um evento técnico, desprovido de oba-oba e com alta credibilidade. Não é por acaso que a conferência de 2024 atraiu mais de 3,700 participantes, um número que normalmente só é superado pelo encontro da RIMS nos Estados Unidos.

Seguros para a transição energética

Hoje em dia todo o mundo fala em ESG, e as (res)seguradoras não são exceção, publicando belos relatórios de sustentabilidade, aderindo a acordos internacionais e tocando o bumbo sobre seus investimentos sustentáveis.

Na hora de integrar estas boas intenções a sua atividade principal, ou seja, a subscrição de riscos, a coisa não é bem assim. Ao menos é o que dizem muitos compradores de seguros.

                                 "                            

Não nos sentimos apoiados pelos nossos seguradores na transição energética.

 Arnaud Bergauzy, diretor de Riscos e Seguros na França da Lafarge


As palavras do executivo do grupo cimenteiro refletem uma pesquisa anual da AMRAE que mostra que sua visão é compartilhada por uma maioria dos gestores de riscos franceses.


            


A principal queixa diz respeito ao uso de novas tecnologias que são necessárias para que companhias como a Lafarge possam descarbonizar seus processos de produção.

Hoje a empresa é uma das maiores poluidoras da França, mas pretende reverter completamente esta posição até 2050. Para isso, não pode seguir utilizando as mesmas tecnologias de sempre.

Bergauzy notou que a reconfiguração de cada fábrica de cimento exige investimentos de dezenas de milhões de euros que não vão necessariamente reverter em um aumento de produção. Em outras palavras, é um processo caro e arriscado.

Mas o mercado tem mostrado uma séria reticência em fornecer coberturas de seguros para as novas tecnologias de produção.

Ou seja, as empresas acabam tendo não só que investir grandes quantidades de dinheiro na transição energética, mas também correm um risco mais elevado do que o normal de ver o investimento ir para o brejo.

Sobrevivência em risco

Bergauzy alertou que, se os subscritores creem que assim controlam suas exposições e protegem seus balanços, também correm o risco de perder seus clientes, que buscarão alternativas para se proteger – como as empresas cativas.


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Em 30 anos, a indústria de seguros vai estar morta em sua feição atual.

Os seguradores não estão levando em consideração a emergência climática da forma mais apropriada. 

Arnaud Bergauzy, Lafarge


E não são apenas os gestores de riscos que estão descontentes: a falta de apoio já começa a ser notada por seus chefes também.

Durante o evento, Sylvie Jéhanno, a CEO da Dalkia, uma empresa de energias renováveis, se queixou que os seguros que sua empresa necessita comprar são "muito caros".

Pior que isso, ela lamentou o fato de que muitas vezes não há coberturas disponíveis para atividades que exigem o uso de tecnologias pouco conhecidas pelo mercado.

Jéhanno citou o exemplo da energia geotérmica, cuja exploração exige escavações debaixo da terra para encontrar fontes de águas termais.

"Isso gera uma certa quantidade de riscos. Trabalhamos com alguma segurança de que vamos encontrar o que buscamos, mas às vezes isso não acontece", observou.

Para ter a segurança de investir em uma atividade estratégica, mas de retorno arriscado, uma empresa que leva a sério sua situação financeira buscará compartilhar parte deste risco com o mercado de seguros.

"Nós descobrimos que existem algumas coberturas para esse tipo de projeto, mas não foi possível adquiri-las", disse a executiva.

Não é fácil para ninguém

As seguradoras sentem receios em fornecer coberturas de seguro a novas tecnologias devido à escassez de informação disponível para desenvolver modelos de probabilidade de sinistros.

"Não é um assunto fácil para as seguradoras", admitiu Jéhanno. "Quando inovamos, não temos um grande volume de dados ou um histórico de custos, por isso é complicado modelizar (o risco)."

De certa forma, porém, as empresas têm motivos para perguntar se não é justamente nestas horas que suas relações com o mercado de seguros e seus investimentos em gestão de riscos deveriam ser recompensados.

Temos que construir a transição energética juntos, e haverá riscos com os quais temos que trabalhar juntos também.

Sylvie Jéhanno, CEO da Dalkia


O que querem as seguradoras

Em meio às críticas, representantes de algumas das maiores seguradoras do mundo deram a cara para bater e expuseram suas próprias visões sobre a segurabilidade da transição energética.

Claire McDonald, a Chief Underwriter Officer para seguros de Property, de Engenharia e Marítimos da HDI Global, disse à RSB que as empresas podem ajudar provendo cada vez mais informações detalhadas a seus subscritores.

O compartilhamento de dados tem que ser feito com transparência, e os compradores de seguros precisam ter um conhecimento profundo de seus próprios riscos para que as seguradoras se sintam confortáveis com eles.

Neste sentido, a crescente adoção de empresas cativas pode ajudar, uma vez que elas ajudam as empresas a entender melhor suas exposições de riscos.

Por sua vez, Dorothée Prunier, a vice-presidente sênior de Riscos Ambientais da Chubb, aconselhou as empresas a contactar seus subscritores o mais cedo possível quando estão desenvolvendo projetos de energia limpa.

Dessa maneira, as duas partes têm mais tempo para buscar soluções inovadoras, já que as seguradoras conseguem ganhar um entendimento mais detalhado dos riscos envolvidos.

 Isso demandaria porém uma mudança de mentalidade em muitas empresas do setor.


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Não façam as coisas da mesma maneira de sempre.

Dorothée Prunier, Chubb

Diálogo

Os indomáveis gestores de riscos franceses dizem que o diálogo tem que servir para tudo, e isso inclui as negociações de preços e condições dos contratos de seguros.

Caso contrário, um dos riscos que vai continuar preocupando as empresas é o da não-segurabilidade, que afeta áreas que vão bem além da transição energética.

Hoje em dia, não é o diálogo que está prevalecendo, segundo Oliver Wild, o presidente da AMRAE.

Ele reforçou durante o evento uma queixa constante das empresas: a de que, desde que começou o mercado duro, os subscritores não dão bola para seus sistemas de gestão de riscos e aplicam restrições de coberturas e altas de preços de forma indiscriminada.

                                                                                                                                                                                       ❝

As tarifas e as coberturas de seguros devem ser o resultado unicamente de um diálogo entre segurados, corretores e seguradoras.

Às vezes é desconcertante o que acontece. Por exemplo, o ESG se tornou uma obsessão,

mas o setor de energias renováveis tem dificuldades em conseguir coberturas.

Oliver Wild, presidente da AMRAE


Pior que isso, muitos compradores se queixam que as seguradoras realmente só se preocupam com os fatores ESG na hora de negar coberturas, seja a atividades que ainda poluem demais, seja em regiões expostas a catástrofes ligadas às mudanças climáticas.

Wild também não hesitou em pintar um contraste entre a percepção de um mercado mais civilizado, transmitida pelas renovações de janeiro, e as dificuldades práticas que os compradores de seguros ainda encontram para obter os níveis de proteção desejados.

"Há pouca coerência em geral entre as políticas de subscrição dos atores de mercado", afirmou.

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