XXII Encontro do Comitê do Setor Elétrico da ABGR foca nas mudanças climáticas e energias renováveis, gestão de riscos e boas práticas para os negócios.
No atual cenário das alterações do clima, o risk manager assume papel fundamental nos seguros e mitigação dos riscos
Por Carlos Pacheco
De Fortaleza (CE)
Um show de conhecimento e informação de qualidade. Em síntese, o XXII Encontro do Comitê do Setor Elétrico da ABGR proporcionou ao público que lotou o salão do Hotel Praia Centro, em Fortaleza (CE), entre os dias 17 e 19 de setembro, debates de alto nível com temas diversificados. A julgar pela expertise dos palestrantes e mediadores, já havia uma certeza de que o evento seria coroado de êxito. O encontro da ABGR foi o primeiro presencial pós-pandemia e teve como anfitriã, a Energimp, geradora de energia eólica, muito bem representada pelo time Guido Lemos (CEO), Ricardo Balsalobre (COO), Leandro Monteiro (CFO), Alice Mazon (gerente financeira) e Aline Gouveia (risk ranager) que apresentou a empresa institucionalmente, destacando as significativas mudanças, sua evolução e projetos sociais.
Os painéis focaram sobretudo nos seguros aplicados às mudanças climáticas, energias renováveis e na gestão dos riscos. Mas, assuntos como seguro garantia aplicado ao setor elétrico e à gestão de fornecedores, risco de crédito, seguros de riscos patrimoniais, seguro cyber, riscos de engenharia e D&O também foram bem conduzidos por experts do setor, com a interação da plateia.
A primeira
palestra versou sobre uma questão que afeta a todos os players: o Marco Legal
de Seguros e a PL 2597/2024 (antes o PLC 29/2017). Sob a mediação de Marcia
Ribeiro, assessora técnica do Conselho e Diretoria da ABGR, a advogada Bárbara
Bassani (Tozzini Freire), e Frederico Knapp (Fenaber), avaliaram o atual
projeto de lei, aprovado pelo Senado, mas que ainda vai passar pela Câmara
Federal.
“De forma geral, o PL é extremamente relevante para o segurado comprador de grandes riscos e não o diferencia ao colocá-lo na mesma condição do consumidor de massificados”, alerta Bárbara. E reforça: “Saímos de um momento de liberdade de negociação do setor de grandes riscos e voltamos aos modelos padronizados anteriores”. Knapp também alertou: se a matéria for convertida em lei, “poderá modificar muito o cenário pela falta de capacidade dos resseguradores de assumir determinados riscos”. “Acena uma velada insegurança jurídica”, advertiu.
Em seguida, vários
temas foram objeto de análise de especialistas. Property e seguros relacionados
a mudanças climáticas trouxeram à luz situações inquietantes em várias partes
do país. Contudo, há um aliado nesse processo: “Hoje temos condições de prever
o risco por meio da tecnologia”, garantiu Rogério Walmor Cervi, da REP Seguros
Corporativos. A risk manager da Comerc, Vanessa Mota, mediou esse painel.
Na análise de Cervi, a ocorrência regular de fenômenos como o El Niño, secas severas e chuvas torrenciais exige um trabalho conjunto de gestores de risco, consultores, seguradoras e resseguradoras. “Há uma grande gama de atividades que ainda não possui seguros e coberturas adequadas”, afirmou. Cervi recomendou o acesso à grande base de dados para prevenção de sinistros, como o portal Rindat.
Projetos
greenfield e resseguro
O tema “Gestão de
Riscos e Seguros – Contribuições para Projetos Greenfield” foi conduzida por
Marcus Macedo (Vertical de Recursos Naturais da Aon) e mediado por Gil Doreto,
risk manager da Echoenergia. Segundo Macedo, “em 2023, as empresas investiram
R$ 50 bilhões em Capex (investimentos em bens de capital). Há também financiamentos
(project finance) ancorados em grandes projetos”. Para o executivo, projetos de
infraestrutura ligados ao setor de energias renováveis avançam de forma célere.
Contudo, adverte: “Há um tênue equilíbrio o risco e o retorno dos
investimentos”.
Macedo aponta três aspectos do projeto, que passa pela análise da viabilidade técnico-econômica até o financiamento: os “macroriscos”, a tecnologia embarcada e a modelagem financeira. Em todas as fases de projetos greenfield, ele prega o envolvimento de toda a equipe de seguros e riscos. “É preciso entender cenários e fatores que permitem antecipar movimentos e explorar oportunidades de forma consistente e lucrativa”, recomenda o executivo da Aon.
Já a broker e
especialista Marina Jordão, da Gallagher Re, abordou a “Importância do
Resseguro na Transferência de Risco”. Em sua visão, o resseguro assume uma
tarefa muito importante nessa cadeia, sobretudo em riscos de geração de
energia, “por trazer solidez, inovação e expertise às contas, além da garantia
de que nossos segurados estarão amparados no momento em que mais precisam”. Na
palestra, Marina comentou a respeito dos atuais mercados nacional e
internacional de resseguros e o papel do broker no setor. Filipe Ribas da
Rocha, risk manager da Elera, foi o mediador.
A especialista entende que o mercado nacional, entre outros aspectos, é robusto, com grande capacidade para a geração de energias convencional e renovável. É menos volátil com tendência a responder em menor intensidade a eventos internacionais. “Os resseguradores trazem grande conhecimento em função da sequência de desequilíbrios climáticos fora do país, atuando como mercados locais”, ressaltou. Já o mercado internacional é “volátil, cíclico e globalizado”. Estima-se uma capacidade total entre US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões. “Existe baixo conhecimento sobre os riscos brasileiros e o setor elétrico como um todo”, afirmou Marina.
IA e gestão de
riscos
A segunda parte do
evento trouxe mais temas inquietantes. “Inteligência Artificial para Risco
Climático em Escalas Estratégicas para o Setor Energético” trouxe dois jovens
experts do assunto: Drs. Gabriel Perez e Thomas Martin, cofundadores da
MeteoIA. Trata-se de uma startup de ciência de dados especializada no
desenvolvimento de modelos preditivos que relacionam a variabilidade climática
a cada negócio. “Desenvolvemos soluções completas para gestão de riscos
climáticos no setor elétrico”, pontuou Perez.
Graças à IA, segundo os palestrantes, é possível antecipar localizações e períodos de severidade e como as linhas de transmissão e usinas estarão mais expostas a eventos como enchentes, alagamentos e rajadas de ventos. “As informações climáticas tradicionais não representam a escala local na região metropolitana de São Paulo, por exemplo”, informou Martin. O sistema desenvolvido estuda previsões de chuva, ventos e radiação solar e seus impactos na geração de renováveis. A apresentação teve como mediador Leonardo Beto, risk manager da Energisa.
Os seguros e
gestão de riscos para energias renováveis inclusive estiveram na análise do
diretor Sidney Cezarino de Oliveira Souza (Tokio Marine). “Temos de
descarbonizar a sociedade e ofertar produtos para a indústria”, adverte o
executivo. As soluções em seguro, na sua ótica, devem mitigar o risco em
setores como garantia, transporte, riscos de engenharia e RC. O diretor
ressaltou o papel fundamental do risk manager neste processo. E citou a sua
atuação no acompanhamento de obras em matéria de riscos operacionais ou
nomeados.
“No gerenciamento de risco, deve-se identificar ameaças potenciais e mitigá-las em casos de alagamentos, erosões, deslizamentos, incêndios em subestações, queimadas, etc”, acrescentou Cezarino. O executivo defende a saída do GR tradicional e aplicar um sistema mais evolutivo, a partir do qual é possível ajudar o cliente a mitigar melhor os riscos. O painel foi moderado por Alexandre Leitão, risk manager da Neoenergia.
Atividades do
comitê
Ao final dos painéis, aconteceram algumas atividades importantes. A primeira delas foi a apresentação dos integrantes do Setor Elétrico da ABGR a todos os participantes do evento, sob a coordenação dos risk managers Lívia Ferreira e Thiago Fonseca. Na ocasião, lideranças do setor fizeram uma rápida apresentação das atividades das empresas participantes CEMIG, CPFL, COMERC, COPEL, ELETROBRAS, ENERGIMP, ENERGISA, ENGIE, ELERA, EVOLTZ, ECHOENERGIA, ELETRONUCLEAR, ITAIPU, JIRAU, LIGHT, NEOENERGIA, SERENA e TAESA. Também foram apresentadas as empresas do recente Comitê de Gás CIGÁS, ENERGISA e GASMIG. “Foi muito gratificante organizar as interações e conexões entre os risk managers do setor elétrico”, ressaltou Thiago Fonseca.
Logo após as
apresentações foram realizadas atividades internas do Comitê. O próximo
encontro será realizado de forma online, previsto para até junho de 2025, até
porque em agosto do próximo acontecerá o XVI Seminário de Gestão de Riscos e
Seguros - Expo ABGR. “Agradeço a todos que tornaram este evento um sucesso – patrocinadores
Aon, Avita, Avla, Fator, Gallagher, Horiens, Junto, Latin Re, Lockton, REP,
S4A, Swiss Re, Tokio Marine e Wiz e apoio da Congresse.me, associados,
painelistas, mediadores e organização da ABGR através da Marcia Ribeiro e Suely
Ramos, Eva Mendes Eventos e Oficina do Texto. Passamos
momentos fantásticos de aprendizado, troca de experiências e networking”,
avaliou, ao final, o diretor-presidente da ABGR, Luiz Otavio Artilheiro.
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