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Hora e Vez do Open Insurance

11, Out. 2021

Executivos abordam Open Insurance e desafios do setor de seguros com as novas regulamentações

Diante da vocação de todos em disseminar uma cultura sobre o mercado de seguros, compartilho com todos um resumo das respostas:

Fonte: Sonho Seguro

Em recentes entrevistas realizadas pela jornalista Denise Bueno nos últimos 30 dias, ela perguntou a alguns dos principais porta-vozes do setor: Como vê o Open Insurance e quais os desafios e ações para se adaptar as novas regulamentações?

Diante da vocação de todos em disseminar uma cultura sobre o mercado de seguros, compartilho com todos um resumo das respostas:

Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros

A questão do Open Insurance deve ser vista sob a ótica de dois pilares. O primeiro pilar refere-se à governança, ou seja, como assegurar a proteção e o bom uso dos dados e informações dos nossos clientes para efeitos comerciais. Esse é um ponto de atenção fundamental para que se possa operar na plenitude no novo modelo. O segundo pilar diz respeito às oportunidades que o Open Insurance certamente trará, como uma experiência facilitada para o cliente, maior acesso a dados e informações e possibilidade de seguradoras e corretores criarem produtos mais adequados para atender as necessidades dos segurados. Por enquanto, ainda não se consegue visualizar o verdadeiro alcance dessas normas, que ainda não foram totalmente concluídas. Somente quando elas estiverem em vigência é que haverá um pouco mais de clareza para os parceiros de negócios sobre como o processo ocorrerá. Há uma preocupação de que talvez o legislador não tenha contemplado integralmente na norma a figura do corretor, na proporção da sua relevância. Em resumo, portanto, nós, do Grupo Bradesco Seguros, entendemos que se deva reforçar a questão da governança e, ao mesmo tempo, absorver as oportunidades que esse novo mundo nos apresenta.

Roberto Santos, CEO da Porto Seguros

A Porto Seguro sempre teve a inovação em seu DNA e hoje realiza uma série de inciativas que apontam para o uso cada vez mais intenso da tecnologia. A empresa vê com bons olhos as novas regulamentações lançadas pela Susep com o objetivo de aumentar a inclusão securitária, tema essencial para o setor. Em relação ao open insurance, no entanto, acreditamos que ainda são necessários ajustes estruturais na proposta.

Rodrigo Caramez, quando ainda era presidente da Brasilseg

Vemos o Open Insurance como uma grande oportunidade proporcionada por nosso regulador, a Susep. Tudo que venha para trazer mais simplicidade e transparência, aumentando o controle e visibilidade aos clientes finais, contribui para a disseminação da cultura de seguros que tanto buscamos. Estamos fazendo nossa lição de casa, e os investimentos realizados pela Brasilseg na digitalização e conectividade das estruturas da companhia, em complemento aos da BB Seguridade e Banco do Brasil, nos colocam em linha com o que vem por aí. Agora, com as etapas de implementação claramente estabelecidas, podemos acelerar ainda mais o passo. Estamos, por exemplo, focados em oferecer uma experiência e serviços diferenciados ao produtor rural, que conta com nossa plataforma digital Broto, onde encontra, em um só lugar, tudo o que ele precisa para cuidar do seu negócio, em todas as etapas da cadeia produtiva, mitigando riscos e aumentando a produtividade.

Edson Franco, CEO da Zurich Brasil

Considero que é preciso um debate mais amplo e profundo sobre a implementação do Open Insurance. Há uma comparação com o que é feito no setor bancário, mas vale a pena lembrar que o segmento bancário não é intermediário, mas o seguro sim. Nós já promovemos o Open Insurance, principalmente no Varejo. Essa concorrência que tanto se fala já existe entre as seguradoras. Queremos criar um novo ambiente, do ponto de vista mais tecnológico, mas não precisamos criar novos agentes de intermediação nesse processo.

O princípio é nobre. Somos defensores da livre concorrência. Recebemos de braços abertos as transformações que estimulam a concorrência. Mas temos de ser prudentes. Sandbox é um modelo interessante. Não inibe novas ideias. Deixa que as insurtechs germinem em um ambiente controlado e conforme crescem terão de aderir ao modelo do setor, com solvência. As regras existem para proteger o consumidor. Faz reservas e tem provisões para que os direitos do cliente sejam garantidos. Esses princípios não podem ser abandonados. Não pode contemporizar, ser complacente com modelos que não tenham o mesmo nível de proteção ao consumidor.

Sou 100% favorável a concorrência com regras simétricas, como estabeleceu a Susep ao criar os diferentes níveis de seguradoras, conhecido pelos 5 S, S1 S2 ….S5. Outra coisa é prudência com segurança de informação. A livre concorrência e acesso a informação com princípios de proteção de dados do consumidor vão além das questões legais.

Também me preocupa a atenção ao risco cibernético. Temos de ter um modelo robusto de proteção, com a autorização do cliente, uma vez que as regras dão a capacidade de qualquer ente que esteja autorizado a acessar os dados. Sem isso, podemos ter um problema grande. Temos visto centenas de milhões de dados de contribuintes e cidadãos sendo roubados por hackers. Empresas grandes, com bom nível de proteção cibernética, sendo atacadas. Se não tiver modelo operacional robusto, pode criar um modelo frágil e favorecer a ação deste tipo de crime. E por fim, acredito que os prazos de implementação não parecem compatíveis para a construção de um modelo robusto para endereçar todas essas questões.

Patricia Chacon, CEO da Liberty Seguros Brasil

Open Insurance ainda está em fase embrionária, estamos ativamente discutindo junto ao mercado os impactos e as possibilidades que ele trará para o setor de seguros, além das regulamentações que estão em processo de construção a partir da experiência do open banking. A Liberty Seguros está, entretanto, aberta às mudanças e possibilidades que o Open Insurance e atenta às implicações do modelo na vida dos nossos clientes e parceiros, que fazem uma parte integral da estratégia de sucesso da companhia.

José Adalberto Ferrara, CEO da Tokio Marine

Acredito que a intenção da Susep ao propor o Open Insurance é muito digna porque proporciona ao Cliente mais clareza e transparência quanto aos produtos e serviços oferecidos pelas Seguradoras. O consumidor passa a ter mais poder em mãos para optar pela compra do que julgue ser a melhor solução para suas demandas. Isso deve provocar mais competitividade no mercado e, consequentemente, a evolução da nossa indústria no País, o que é muito positivo. Ao mesmo tempo, ainda há muitas incógnitas e uma, em especial, nos causa bastante preocupação: qual será o papel do Corretor nesse processo? A Tokio Marine, por exemplo, é uma seguradora cujo principal canal de distribuição é o Corretor de Seguros e nós não vislumbramos a exclusão desse profissional em nenhuma das nossas iniciativas, ao contrário. Queremos, cada vez mais, contar com a consultoria dos nossos Corretores, que estão na linha de frente com os Clientes, para desenvolver soluções customizadas e adequadas às novas solicitações da sociedade. Além disso, questões como respeito ao modelo de negócios e estratégias de precificação das Companhias de seguros são fatores desafiadores e que devem ser pontos fundamentais de discussão sobre que modelo de Open Insurance será adotado no Brasil. Estamos participando ativamente das discussões com a Susep e tenho certeza de que chegaremos a um modelo que satisfaça todos os players da cadeia.

Murilo Riedel, presidente da HDI Seguros

Como já é de conhecimento do mercado, no Brasil, o open insurance é uma iniciativa da própria indústria. Assim, temos orgulho em estar entre as marcas que aderiram a esse movimento, que é liderado pela organização internacional Open Insurance Initiative (Opin). Dessa forma, entendemos ser uma iniciativa muito importante para o mercado global de seguros, uma vez que vai criar padrões para que seguradoras, resseguradoras, corretoras e insurtechs conectem-se e partilhem dados entre si. Como disse acima, trabalhamos intensamente, nos últimos anos, em digitalização de processos e desenvolvimento de novos produtos, esse viés digital e inovador nos permite uma flexibilidade para implementar eventuais novos sistemas e nos adequarmos e estarmos em conformidade com as novas regulamentações.

Eduardo Domeque, diretor de Seguros do Itaú Unibanco

Nossa expectativa para o Open Insurance é termos um mercado mais integrado, competitivo e eficiente pelo uso de tecnologia e dados compartilhado, que fará o setor de seguros ofertar produtos cada vez mais customizados e assertivos aos clientes. Além disso, teremos um cenário com maior competição, algo que também beneficiará o cliente final. Acreditamos em uma grande evolução do sistema, permitindo maior acesso da população aos serviços financeiros e de seguros. Uma nova dinâmica se iniciará com os clientes tendo maior consciência e gestão de seus dados, além de um maior número de ofertas e possibilidade de comparativos. A implantação do Open Insurance está sendo discutida pelas seguradoras do mercado e um dos principais objetivos é padronizar os dados que serão fornecidos aos consumidores, permitindo assim a comparação. O principal desafio será adaptar alguns sistemas antigos aos modelos compartilhamento de dados e serviços.

Igor Di Beo, vice-presidente de Subscrição, Comercial e Marketing da AXA no Brasil

O mercado tem um grande desafio pela frente e, para nós, não é diferente. Neste momento estamos revisitando nossas estratégias de integração tecnológica (APIs) e temos um comitê de discussão em relação ao Open Insurance. Dentro da agenda prioritária de TI, trouxemos uma executiva de tecnologia do mercado de Telecom, muito avançado na visão cliente, ela chegou com a missão de trazer um novo olhar para a experiência do usuário, o que está intimamente ligado às tendências de mercado.

Marcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg)

Cito dois aspectos. As seguradoras estão preocupadas. As novas regulamentações e o Open Insurance demandam um envolvimento muito grande de várias pessoas de porte relevante dentro das companhias, como produtos, compliance, segurança da informação, jurídica. Temos 7 grupos de trabalhos na CNseg para discutir os diversos impactos do Open Insurance. No meio de tudo isso que estamos vivendo, tentando sair de uma pandemia, de um ciclo de taxa de juros baixa, competição danada, grande necessidade de baixar custo. Principal preocupação. Se envolver num momento que elas procuram resultado para sair do período difícil.

A segunda questão que nos traz preocupação é que a Susep ainda não definiu quais as informações de produtos que as seguradoras terão de colocar no ar. Até agora, apenas garantia está no SRO. E isso demanda tempo e recursos, ambos escassos com tantas mudanças. Temos de treinar muitos líderes para garantir que tudo vai sair como previsto, principalmente no que diz respeito a segurança de dados dos nossos clientes.

Antonio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg)

O setor passa por grandes transformações. 2021 tem sido um ano intenso, principalmente no ambiente regulatório. Muitas mudanças. Todas positivas, em via de regra. Seguradoras estão menos amarradas para criar produtos. Mas é preciso levar em consideração tanto os prazos com os recursos financeiros necessários para viabilizar tantas mudanças. A ideia de ampliar a oferta e baratear os produtos é válida, mas não sei quando ela vai maturar, pondera, vislumbrando um mercado segurador intenso nos próximos anos em todos os segmentos.

Marcelo Farinha, presidente da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap)

O Sistema de Seguros Abertos (Open Insurance) está inserido no contexto mundial de inovação trazida pelo Open Finance e pelo Open Banking, dentro das premissas de que o digital conecta o mundo todo e de que o cliente é o legítimo proprietário de seus dados cadastrais. Este é um movimento que veio para ficar e (em tese) tende a beneficiar os atores do sistema: a indústria, pelo favorecimento da inovação, da ação colaborativa, pela perspectiva de ganho de eficiência e novos modelos de negócios; O ente supervisor, em função do acesso a dados de operações como preço, sinistros e características em tempo real, o que se traduz em eficiência e qualidade da ação supervisora; e principalmente o Consumidor, pela maior comparabilidade de produtos e serviços, acesso a produtos mais adequados às suas necessidades e preços mais competitivos.

O Open Insurance muda a dinâmica atual: o cliente passa a ter controle sobre seus dados e surge a sociedade iniciadora, entidade auxiliar (não supervisionada pela Susep) a quem cabe a gerir todo o processo no âmbito do sistema. Embora represente uma evolução natural, o Open desperta algumas preocupações na indústria: a exiguidade de prazo para implementação (primeira fase em 15/12), principalmente ao se considerar que a norma que rege o tema somente foi publicada em 21/07 e que essa transformação ocorre simultaneamente a outros movimentos regulatórios que também exigem atenção e energia e investimentos pelas Companhias reguladas pela Susep. Somente no primeiro semestre de 2021 foram colocadas em audiência 25 consultas públicas.

Outra preocupação diz respeito à segurança das informações trocadas no âmbito do Opin, lembrando que os dados pertencem ao cliente e que a LGPD impõe extremo rigor na proteção de dados. Enfim, evoluir de um sistema de APIs abertas para a mentalidade de seguradora aberta requer rígido controle regulatório, tempo, investimento e preparo, sobretudo para questões relacionadas à segurança das informações dos clientes. O sucesso da abertura do mercado vai exigir esforço coletivo de uma ampla gama de partes interessadas: empresas do setor, consumidores e desenvolvedores de tecnologia.

Cassio Gama Amaral Sócio do Mattos Filho Advogados

O Open Insurance, nesse contexto, a reboque do open banking e convergindo para o macro ambiente do open finance, nos parece o ecossistema ideal para equilibrar, amortecer e tirar o melhor da histórica tensão entre, de um lado, o liberalismo, a flexibilização e a autonomia contratuais e, de outro lado, a necessária intervenção estatal nos domínios econômicos e privados, tendo em vista a esperada redução da assimetria informacional que historicamente vem embaraçando o avanço dos seguros no Brasil.

Érika Ramos, sócia-líder do segmento de Seguros da KPMG no Brasil

Este cenário, conjuntamente, possibilita que os consumidores de produtos e serviços de seguros sejam os principais beneficiados de um ecossistema seguro, ágil, preciso e conveniente para o compartilhamento padronizado de dados, previsto na LGPD e demais legislações que tratam do sigilo de operações financeiras e serviços. Além de acelerar ainda mais os temas de competitividade, transparência e promoção da inclusão financeira.

Como benefícios/ oportunidades podemos citar:

• incentivo à inovação, a promoção da inclusão financeira/seguros, promoção da livre iniciativa, aumento de oferta e concorrência;

• Interoperabilidade com Open Banking, trazendo mais agilidade, conveniência e segurança. Além da integração com serviços financeiros, o que cria oportunidades para novos modelos de negócios.

• Iniciação de serviços relacionados à seguros e previdência de forma digital, iniciação de serviços como aviso de sinistros, portabilidade de previdência, etc., de maneira simplificada via uma plataforma digital única e centralizada.

• Definição de plano estratégico das seguradoras para ações de defesa e ataque quando Open insurance estiver pronto para ações transacionais, venda de produtos / Exploração dos novos potenciais de negócio alinhados ao perfil dos clientes;

• Comparadores, Marketplaces e agregadores de dados, soluções para comparação de produtos de diversas seguradoras em um só local de forma que os clientes consigam selecionar a melhor escolha. Além de agregação de dados de diferentes instituições, incluindo produtos de seguros, de previdência complementar e capitalização.

Entre os desafios tem-se:

• Integrar os sistemas legados (extração de informações) para conectar aos APP/API que é a forma de interatividade no Openinsurance;

• Integração de todas as informações que envolvem o segurado (cadastro, informação de apólice, sinistro, situação financeira do seguro) que muitas vezes estão em sistemas distintos para que sejam concatenadas para alimentar o Open insurance (desafio de concatenação bem como acerca da qualidade das informações);

• Definição dos parâmetros e gestão de dados (consentimento/UX-User Experience), privacidade e segurança da informação;

• Gestão do ambiente de governança e a configuração da intermediação, o papel consultivo do Corretor de Seguros neste processo e também dos parceiros de negócios.

Setor inicia segundo semestre com crescimento acumulado de 16,8%

Arrecadação global foi de R$ 172, 6 bilhões nos sete meses do ano. Cobertura de pessoas lidera arrecadação com R$ 109 bilhões

Fonte: CNseg / Sindseg

O setor de seguros apresentou evolução positiva de 16,8%, abrangendo todos os ramos de janeiro a julho do ano se comparado ao mesmo período de 2020. Demonstra consistência do crescimento setorial, afirma o Presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Marcio Coriolano, em seu editorial da nova edição da Conjuntura CNseg (nº 53). Um dos destaques é o segmento de Cobertura de Pessoas com crescimento de 19,3% e que apresenta vantagem na liderança comparativamente ao segmento de Danos e Responsabilidades, agora com mais do dobro da arrecadação acumulada no ano (R$ 109,0 bilhões versus R$ 49,9 bilhões).

De janeiro a julho 2021 em relação aos sete primeiros meses de 2020, os segmentos de Danos & Responsabilidades registraram aumento de 14,5% e Capitalização de 7,4%. Esse desempenho setorial no acumulado do ano até julho, comparado com o mesmo período de 2020 (16,8%), foi superior ao de outros setores de atividade econômica conforme as recentes Pesquisas Mensais do IBGE para julho. A indústria evoluiu 10,9%, o comércio 6,6% e os serviços, incluídos os seguros, avançaram 10,7%. O efeito precaucional contra riscos continua despertando maior interesse por ramos de seguros com coberturas diretamente correlacionadas à proteção de patrimônios e também de pecúlios e rendas para a família, avalia Marcio Coriolano.

Segundo Coriolano, os dados dos sete primeiros meses do ano repetiram a tendência já verificada no semestre. Há forte aumento das receitas, mesmo contra uma base crescentemente aumentada pela recuperação observada no ano passado a partir de junho. Da mesma forma, permanece grande a influência dos planos de acumulação VGBL, que cresceram 23,2%. A arrecadação global foi de R$ 172,6 bilhões, sem saúde e sem DPVAT, afirma.

O Presidente da CNseg avalia que, em termos agregados, o setor de seguros, atualmente, está R$ 5,9 bilhões acima, em termos absolutos, da arrecadação dos últimos sete meses de 2019 anteriores ao surgimento da pandemia no Brasil. Para ele, considerando os resultados dos próximos meses de 2021, agosto a dezembro, o desempenho dos agregados da economia brasileira não parece comprometer o ritmo de recuperação de ramos atingidos mais fortemente pela pandemia. Embora projeções firmes dependam do já progressivo retorno à vida em ambientes fora do domicílio, da estabilidade política e, agora, do comportamento futuro da inflação, destaca.

A taxa de crescimento anualizada, até julho 2021 / até julho 2020, evoluiu 11,9%. Na comparação entre julho contra o mesmo mês do ano anterior, que ameniza sazonalidades, a taxa de progresso dos negócios também vem reduzindo à medida que aumenta a recuperação observada no ano passado, desta vez tendo sido (junho contra junho) de 3,2%, após crescimentos de dois dígitos observados em meses anteriores. Os destaques devem ser conferidos a ramos de maior densidade setorial em volume de negócios. São eles: Planos de Vida Risco, representatividade de 25% e taxa de 6,3%; Automóvel, 43% e crescimento de 5,4%; Patrimonial, 20% e taxa de 11,6%; Rural, 12% e taxa de 45%; Habitacional, 5% e taxa de 10,4%; Transportes, 4% e taxa de 22,5% e Responsabilidade Civil, representatividade de 3% e taxa de 19,6%.

CYBER RISK

TransUnion identifica crescimento em fraudes digitais

Fonte: CQCS

As tentativas de fraude digital em empresas e consumidores continua aumentando, mas desta vez os fraudadores estão ampliando seu foco. De acordo com a última análise trimestral da TransUnion, os segmentos de viagens & lazer, jogos e comunidade virtual se tornaram os novos alvos.

A TransUnion monitora tentativas de fraude digital relatadas por empresas em diversas áreas, como serviços financeiros, games, saúde, seguros, varejo e telecomunicações, entre outros. As conclusões são baseadas na análise de bilhões de transações e mais de 40.000 sites e aplicativos contidos em seu principal pacote de soluções de prova de identidade, autenticação baseada em risco e análise de fraude, o TransUnion TruValidate™

No Brasil, enquanto a taxa de tentativas suspeitas de fraude digital em todos os setores caiu para 60,7% no mesmo período, o mercado de viagens & lazer registrou aumento de 255,1%; comunidades (sites de namoro e aplicativos, fóruns, entre outros), de 169,5%, e games, de 134,8%.

Um exemplo da mudança repentina no foco dos fraudadores pode ser visto nos serviços financeiros. Nos quatro primeiros meses de 2021 e nos quatro últimos de 2020, as taxas globais de tentativas de fraude on-line neste segmento aumentaram 149%. O mesmo cenário ocorreu no Brasil, que, no primeiro trimestre deste ano, registrou um aumento de 612% na taxa de tentativas de fraude digital em serviços financeiros. Mas, quando comparadas ao 2º trimestre de 2021 e 2º trimestre de 2020, a taxa de tentativas suspeitas de fraude de serviços financeiros on-line vindas do Brasil diminuiu 20,2%.

É comum que os fraudadores mudem seu foco de um período para o outro, tendendo a procurar indústrias que vivem em franca expansão de crescimento nas transações. No último trimestre, dois movimentos refletiram no aumento do número de suspeitas de fraudes na internet. O primeiro foi a retomada do turismo com o avanço da flexibilização do isolamento, atraindo a curiosidade dos fraudadores para o site de viagens. Já o segundo foi atrelado à ascensão do mercado de games durante a pandemia, diz Shai Cohen, vice-presidente sênior de soluções globais de fraude da TransUnion.

À medida que as tentativas de fraude online contra empresas aumentam, um em cada três consumidores disse que foi alvo de um esquema de fraude digital no segundo trimestre de 2021. O estudo Consumer Pulse, da TransUnion, constatou que 36% dos entrevistados globais relataram que já foram alvos de fraudadores em esquemas digitais relacionados à pandemia. No Brasil, esse número é de 18%.

Globalmente, o phishing é o principal tipo de fraude digital relacionada à COVID-19, que impacta os consumidores globais no 2º trimestre de 2021, representando 33%.

Apagão em redes sociais atingiu cerca de 70% dos pequenos negócios

Segundo Sebrae, sete em 10 MPEs usam Instagram, Facebook e Whatsapp para vendas; Loja Integrada fala em 75% de pequenos e médios lojistas virtuais.

Fonte: Monitor Mercantil

O pior apagão das plataformas pertencentes ao grupo Facebook (Instagram, Whatsapp e Facebook) desde 2008 não afetou apenas as interações em redes sociais, na última segunda-feira. Prejudicou também as vendas dos pequenos negócios, usam essas mídias como ferramenta de divulgação e vendas. De acordo com pesquisa feita pelo Sebrae, sete em cada 10 empreendedores brasileiros já trabalham com vendas online. Desses 84% via WhatsApp, 54% via Instagram e 51% pelo Facebook.

Já segundo levantamento do Sebrae, os negócios dos setores de varejo e serviços, que comercializam diretamente para o consumidor final, são mais impactados quando canais de relacionamento com o público saem do ar. Segundo o presidente do Sebrae, Carlos Melles, as micro e pequenas empresas dependem cada vez mais dessas redes sociais para divulgação, relacionamento com os clientes e para fechar negócio.

No início da pandemia (maio de 2020), o percentual de empreendedores que utilizavam as redes sociais era de 59%. Com as restrições de abertura e com o isolamento, os pequenos negócios tiveram que inovar e mudar a forma de vender e de divulgar seus produtos e serviços. Desse modo, em alguns segmentos, o número de empresas atuando no ambiente virtual teve um incremento superior a 20%, comenta Melles.

De acordo com levantamento da plataforma Loja Integrada, 75% dos pequenos e médios lojistas usam aplicativos como canal direto de vendas com seus clientes, além da loja virtual. Segundo o estudo, quase 68% dos lojistas da LI afirmam usar o Whatsapp como principal ferramenta de atendimento ao cliente, seguido pelo Instagram (15%) e pelo e-mail (5,6%). A pesquisa foi realizada com 3.060 lojistas virtuais de todo o país durante o mês de junho de 2021 por meio de questionário na internet. O Whatsapp é um dos aplicativos mais utilizados pelos brasileiros, com 120 milhões de usuários ativos no país e 1,5 bilhão no mundo.

Saúde da mulher será mercado trilionário e startups brasileiras já estão de olho nele

Fonte: InfoMoney

No Brasil, mulheres são 75% mais propensas a usar ferramentas digitais para cuidados de saúde. As femtechs aproveitam esse potencial pouco explorado

O mercado de saúde ganhou holofotes diante da pandemia do novo coronavírus. Dentre as startups, as chamadas healthtechs receberam US$ 14,2 bilhões em investimentos globalmente durante 2020. Mas, dentro desse mercado, existe um segmento com potencial trilionário e que permanece pouco explorado por grandes grupos: a saúde voltada especificamente para o público feminino.

Segundo o estudo Femtech Landscape Report 2021, o mercado mundial de saúde da mulher deve atingir US$ 1,186 trilhão em 2027. Para abocanhar parte desse volume, há alguns anos começaram a surgir as primeiras healthtechs voltadas para esse público e elas ganharam até mesmo um termo específico: femtechs.

As femtechs desenvolvem tecnologias para questões cardiológicas, ginecológicas, neurológicas, oncológicas, ósseas, reprodutivas e sexuais que afetam mais ou exclusivamente o sexo feminino, reduzindo disparidades de bem-estar e qualidade de vida.

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, traçou um panorama sobre o grande mercado de saúde da mulher, e sobre os ainda tímidos avanços nessa área. Também conversou com empreendedoras de algumas femtechs brasileiras sobre as dores antes, durante e depois do crescimento. Por fim, investidoras também falaram sobre o potencial financeiro das startups que olham para a saúde da mulher.

Femtech: um potencial a ser explorado

O Femtech Landscape Report 2021 indica que existem 97 condições de saúde que afetam mais ou exclusivamente o sexo feminino, e que, portanto, podem ser exploradas pelas femtechs e por seus investidores. Os maiores mercados dentro do US$ 1,186 trilhão são condições crônicas (US$ 218 bilhões em 2027), saúde reprodutiva (US$ 171 bilhões) e saúde das mamas (US$ 99 bilhões).

Mesmo assim, as femtechs ainda são vistas como uma pequena aposta tanto em negócios criados quanto em investimentos. No mundo, existem apenas 657 femtechs. Só 1,5% dos investimentos em healthtechs foram para femtechs nos Estados Unidos no primeiro semestre de 2020, segundo o fundo Rock Health. O país ganhou seu primeiro unicórnio do segmento, Maven Clinic, em agosto de 2021. Os Estados Unidos já têm 481 startups avaliadas em ao menos US$ 1 bilhão.

A situação é similar no Brasil, ainda que em proporções menores. O mercado é grande: além de serem 52,2% da população, as mulheres brasileiras são responsáveis por 90% das decisões sobre cuidados primários de saúde para a família e por 80% dos gastos familiares com saúde. Elas também são 75% mais propensas do que os homens a usar ferramentas digitais para cuidados de saúde. A consultoria Frost & Sullivan avaliou neste ano que o mercado para as femtechs no país seja de US$ 5,8 bilhões (R$ 32 bilhões).

Porém, existem apenas 23 femtechs brasileiras mapeadas pelo estudo Inside Healthtech Report. Em comparação, temos 542 healthtechs e 13,8 mil startups no país.

Experiências pessoais e pesquisas próprias

Ida Tin, fundadora do aplicativo de acompanhamento de ciclo Clue, cunhou o termo femtech em 2016. O objetivo era que as pessoas falassem mais sobre startups focadas na saúde da mulher, a empreendedora encontrou falta de pesquisas sobre o tema, e consequentemente falta de tecnologias que endereçassem um mercado com tanta oportunidade.

A percepção de Ida é apoiada por estudos. Apenas 4% da pesquisa e desenvolvimento em cuidados com a saúde é direcionada para mulheres nos Estados Unidos, ainda que elas representem boa parte das compras no setor, segundo o site americano TechCrunch.

Essa também é a percepção de empreendedoras brasileiras ouvidas pelo InfoMoney. Femtechs como Pantys, Oya Care, Theia e Feel tiveram de fazer as próprias pesquisas para desenvolverem produtos e serviços, uma prática essencial para as startups e facilitada por estudos anteriores.

Problemas das fundadoras costumam ser o primeiro pontapé para criar essas pesquisas. A Pantys foi criada por Emily Ewell e Maria Eduarda Camargo em 2017. Americana, Emily trabalhou durante 15 anos em empresas farmacêuticas, como Johnson & Johnson, Merck e Novartis. A empreendedora vive no Brasil há oito anos e aqui conheceu a atual sócia, Maria Eduarda, que tinha uma confecção de lingeries na família.

Minha sócia tem alergia a absorventes descartáveis, então começamos a pesquisar marcas de calcinhas absorventes. Também fizemos pesquisas de mercado sobre a fidelidade das mulheres às marcas atuais e a abertura a experimentarem novos produtos, diz Emily. A Pantys passou um ano e meio em pesquisas e desenvolvimento de tecnologia. Hoje, tem um método de absorção patenteado no Brasil, usado para a produção de calcinhas absorventes para o período menstrual.

Stephanie von Staa também criou a Oya Care por uma insatisfação crescente. Formada em administração, ela trabalhou no mercado financeiro, em uma startup de e-commerce, em uma consultoria e em um fundo de investimentos. Mas queria fazer algo que aproximasse a mulher de sua saúde. Ela vai ao ginecologista, mas não tem coragem de discutir algumas questões. Eu mesma não tive apoio na primeira menstruação, na primeira relação ou na primeira infecção urinária, diz Stephanie.

A Oya Care coletou feedbacks com 25 voluntárias. Em abril de 2020, lançou oficialmente sua clínica digital para a fertilidade da mulher. As usuárias agendam por aplicativo um exame de sangue feito em suas residências. Depois, fazem uma teleconsulta com um médico parceiro para discutir o resultado. A usuário recebe um relatório sobre sua fertilidade e pode ser indicada para clínicas parceiras da Oya Care em São Paulo e no Rio de Janeiro. Tradicionalmente, a mulher iria ao médico, levaria a receita de exame até o laboratório e então faria uma segunda consulta. É um gasto de dinheiro e tempo, diz Stephanie.

Outra clínica digital, a Theia, foi criada após as gravidezes das empreendedoras Flavia Gotfryd e Paula Crespi. Depois de se conhecerem em um MBA na Universidade de Stanford, elas foram para o mundo das startups: Flavia trabalhou na Acesso, enquanto Paula foi para o Guiabolso. Flavia tinha dois filhos, e Paula estava esperando seu primeiro.

Pedimos demissão e decidimos criar uma startup que acompanhasse a jornada de gestação por nossa experiência pessoal. Mesmo com uma rede de apoio, continuávamos nos sentindo sozinhas e sem ter com quem conversar sobre medo e solidão, diz Flavia.

A Theia validou essa percepção ao entrevistar mais de 500 mulheres. Constatamos que, especialmente na primeira gravidez, elas não se sentem confiantes em suas próprias informações. Sentem que o poder de decisão vai diminuindo até o parto, refletido em cesáreas sem justificativa, e frustração foi a palavra mais associada a esse momento, completa Flavia.

Na femtech, a usuária recebe alertas para agendar consultas digitais ou presenciais com doulas, enfermeiros, médicos, nutricionistas, psicólogos e terapeutas. Profissionais de 14 especialidades são treinados para ter um mesmo padrão de conduta e cuidado, e o prontuário da usuária é compartilhado entre eles. Uma especialista também acompanha cada mulher desde o desejo de engravidar até o bebê completar um ano de vida.

Colocar dinheiro em startups criadas por mulheres pode criar produtos que atendam demandas ainda não exploradas. O quadro de fundadores e dos conselhos ainda é muito masculino e fica difícil ter um viés mais assertivo para resolver questões que impactam a maioria da população brasileira, reflete Marina Ratton, fundadora da Feel.

Marina trabalhou com marketing e gestão de projetos e tentou emplacar um projeto na farmacêutica em que trabalhava, sem sucesso. Sabia que era um movimento sem volta. Pedi demissão no final de 2019. Comecei a empreender na virada para 2020.

A Feel usa fórmulas naturais para produzir itens de bem-estar íntimo da mulher, como um lubrificante e um óleo de coco pós-depilatório. 120 mulheres testaram um protótipo do lubrificante. Muitas não conheciam seu corpo, tendo dúvidas sobre masturbação e orgasmo. Elas também não estavam felizes com os produtos atuais e com a forma de comprá-los. Ficavam desconfortáveis em ir a um sex shop ou em comprar na gôndola de produtos masculinos. Vimos também que o prazer era muito afetado por questões emocionais, pioradas durante a pandemia.

Ouvir mais mulheres para crescer

Todas as femtechs ouvidas pelo Do Zero Ao Topo atuam como marcas verticalizadas e nativas digitais (DNVB): montam seus produtos e serviços em casa e os vendem conversando diretamente com consumidoras por canais virtuais.

Pesquisas próprias não acontecem apenas para fundar as femtechs. A conversa com consumidoras precisa ser constante para que as startups sigam com altas taxas de crescimento.

Além de calcinhas absorventes, a Pantys criou sutiãs absorventes para amamentação, boxers para homens transgênero e roupas para praia e para treino. Essas ideias foram sugestões de seus clientes. Das conversas também surgiu uma comunicação pautada não apenas no potencial de absorção dos produtos, mas em redução do lixo vindo dos absorventes descartáveis e economia de custo para as consumidoras.

As calcinhas absorventes custam a partir de R$ 59 e têm uma vida útil de 50 lavagens, ou um uso médio de dois anos. A startup estima que cada mulher economize cerca de 25% do seu custo menstrual. 29% das mulheres brasileiras entre 16 e 29 anos de idade já passaram pela situação de não ter dinheiro para comprar produtos de higiene para o período menstrual, segundo uma pesquisa encomendada pela marca de absorventes Always.

Na Feel, a primeira comunidade de consumidoras que testaram o lubrificante foi essencial para o crescimento. Elas depois indicariam o produto para amigas e familiares. Dos novos contatos surgiu o segundo produto da femtech: um óleo de coco para tratamento da região pélvica após a depilação. As conversas nos mostraram que elas pegavam o óleo de coco da cozinha com uma colher para trazer alívio na região. Somos um dos países que mais se depila, mas temos poucos produtos pós-depilatórios. Trouxemos uma fórmula com mais segurança na higiene, diz Marina.

A Feel também apostou em diferenciais como ingredientes veganos, design e usabilidade. Nossas conversas indicaram que as mulheres não gostavam do design dos produtos tradicionais, o que diz muito sobre quem banca esses produtos. Eles assumem que as mulheres não vão deixar o lubrificante à mostra na nossa cabeceira. É por isso que precisamos de femtechs.

O posicionamento dessas startups tem se refletido em resultados. No lançamento da Pantys, em agosto de 2017, a recepção foi além da esperada: o estoque para três meses se esgotou um três semanas. O ponto de equilíbrio entre receitas e despesas foi atingido em abril de 2018. 70% das consumidoras usam exclusivamente a Pantys para sua necessidade menstrual quando compram uma calcinha. Para quem tem duas ou mais calcinhas, o uso exclusivo sobre para 85%.

A primeira leva de produtos da Feel foi comercializada em outubro de 2020. A demanda superou a oferta, assim como na Pantys: o estoque de três meses foi vendido na primeira semana.

A Pantys está crescendo 14% ao mês. O próximo grande passo é aprofundar sua expansão internacional, concorrendo com empresas como Thinx, Modibodi, FLUX Undies e WUKA Wear. A Pantys começou a vender seus produtos no exterior em dezembro de 2020, e essa ampliação já promoveu um aumento de 210% no tíquete médio. Estados Unidos, França e Reino Unido são os alvos atuais. Nossa visão é ser a maior marca global e com muitas oportunidades, diz Emily.

Já a Feel está crescendo 30% ao mês. A femtech vai investir em aumentar a produção, lançar produtos novos e fazer marketing por influenciadoras e por mídia programática. A entrada nos anúncios digitais é uma evolução importante para todas as femtechs: tanto Feel quanto Pantys tiveram de lidar com propagandas barradas em buscadores e redes sociais por conterem conteúdo chocante ou explícito.

Por fim, a expansão também se viu nas femtechs de serviços: em setembro deste ano, a Theia teve uma receita cinco vezes maior do que a vista no começo de 2021. A clínica digital vai abrir sua primeira unidade física com marca própria ainda neste ano.

Mais empreendedoras, mais investidoras

Mais femtechs poderiam ser criadas se mais mulheres fundassem startups. Apenas 4,7% dos negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos brasileiros são fundados exclusivamente pelo sexo feminino. Essa porcentagem sobe para 46,2% quando consideramos empresas tradicionais, sem base tecnológica.

Aumentar a quantidade de fundadoras em tecnologia é o básico. Existe uma cultura mundial, mais exagerada aqui no país, de falta de incentivo em casa e na escola para que as mulheres sigam profissões como economia e engenharia. São profissões que dariam visibilidade para as mulheres como fundadoras de startups, diz Juliana Hadad, diretora de relações com investidores do escritório Norte Investe.

Juliana cofundou a DinDin, fintech vendida para o Bradesco em 2020. Depois, atuou como consultora de inovação e como investidora anjo. Na Norte Investe, ela está de olho tanto em startups fundadas por mulheres quanto nas femtechs.

Acesso a crédito é o segundo passo, depois de termos mais mulheres fundando startups. Estou numa posição de fazer o que não fizeram por mim. Na DinDin, não conseguimos captar da maneira tradicional e recorremos ao equity crowdfunding e a investidores internacionais.

As empreendedoras ouvidas pelo Do Zero Ao Topo concordam com a dificuldade das femtechs em captar recursos. Em um extremo está a Pantys, que nunca fez uma rodada externa de investimento. Nunca achamos um parceiro que se encaixou perfeitamente com nossa visão. Mas a percepção dos investidores sobre femtech está mudando e tenho esperança em captar para nossa expansão global. Vai ser bem mais fácil do que quando começamos, em 2017, diz Emily.

No outro extremo está a Theia, que captou um aporte de R$ 7 milhões em 2019. A rodada foi feita pelos fundos Maya Capital e Kaszek e acompanhada por um número igual de investidores anjos homens e mulheres. Nossa experiência pessoal foi bem diferente do mercado, porque estávamos dentro do ecossistema e não foi difícil levantar dinheiro. Mas sabemos que somos a exceção da regra e que muitos enxergam femtech como nicho. Existe uma miopia para oportunidades, diz Flavia. A empreendedora afirma que benchmarks internacionais, como o unicórnio Maven Clinic, poderão melhorar a visão de investidores brasileiros nos próximos anos.

As startups fundadas por mulheres, incluindo as femtechs, enfrentam ceticismo ao conversarem com investidores. Segundo o Crunchbase, 80% dos fundadores de femtech são do sexo feminino. Mas as mulheres receberam apenas 2,3% dos investimentos no mundo em 2020. Existe um viés inconsciente entre os investidores: nossa ideia de figura de sucesso tem como padrão homens como Elon Musk ou Jeff Bezos. É preciso ter um esforço consciente para mudar o viés e termos mais investimentos de e para mulheres, diz Juliana.

A maioria dos investidores são homens. A falta de homofilia, ou vínculo por semelhança biológica, gera uma falta de empatia. É um ponto crítico especialmente para femtechs, acrescenta Rafaela Bassetti, CEO da iniciativa de capital para empreendedoras Wishe. É difícil vender o pitch para quem não usa seu produto. A startup passa a fazer mais sentido quando as mulheres podem colocar dinheiro em negócios que queiram ajudar a construir.

A Wishe tem uma plataforma de equity crowdfunding para conectar fundadoras de startups buscando seu primeiro cheque com investidores, e investidoras. Decidimos que fazia sentido atrair um novo capital para as startups, indo além dos family offices. Foi uma forma de trazer mais mulher também para o mercado de investimentos alternativos, diz Rafaela. O site começou a operar em março deste ano e fez três captações públicas e duas privadas, com valor acumulado de R$ 2,5 milhões.

Feel, por exemplo, captou uma rodada de R$ 550 mil pela Wishe. 84% dos investidores foram mulheres. A femtech também passou pelo programa de aceleração da B2Mamy, chancelada pelo Google for Startups. Agora, a Feel está na aceleração GB Ventures, do Grupo Boticário. As empresas precisam de inovação e estão olhando cada vez mais para diversidade como um caminho, aderindo ao movimento ESG [preocupação com meio ambiente, governança corporativa e responsabilidade social]. Pesquisas também mostram que mulheres na liderança geram mais rentabilidade, diz Marina. Segundo um estudo de 2017 feito pela consultoria McKinsey, empresas com mais diversidade de gênero apresentaram 21% mais chance de ter lucratividade maior do que empresas com menos diversidade.

Com mais empreendedoras e investidoras, mais desenvolvimento entre femtechs deve ser natural. É um mercado pouco explorado com diversas dores não atendidas: as mulheres procuram produtos e serviços de saúde desde a menstruação até a menopausa, mas encontram poucas marcas. As femtechs promovem um novo padrão de elaboração de produtos e serviços. A presença de lideranças femininas gera mais conversa com a consumidora e soluções mais assertivas, diz Rafaela.

Qualquer pessoa que gosta de ganhar dinheiro sabe que um mercado grande, mas com escassez de oferta, é uma explosão prestes a acontecer, concorda Juliana.

O valor de um bom dia e do acolhimento para a sobrevivência mental

A triste realidade é que o suicídio é a segunda causa de morte entre os adultos jovens. A depressão, por sua vez, é uma das principais condições por trás da ideação suicida e hoje já é a causa número 1 de incapacidade no mundo. Mas o que estamos fazendo em nosso dia a dia para melhorar esse cenário?

Sim, assistimos a movimentos de conscientização sobre saúde mental, à articulação de políticas públicas para suas vítimas e ao trabalho dos meios de comunicação cobrindo cada vez mais o assunto. Mas e você, o que tem feito para mudar as coisas? Sim, você!

Quantas vezes ligou para uma pessoa que não tem encontrado e perguntou como ela está? Quantas vezes deu um simples bom dia àquele sujeito com quem você cruza na rua ou no elevador? Às vezes tornamos as pessoas invisíveis.

E, aí, deparamos com relatos como o de I, que segue minha página no Facebook: Eu ia envenenar a mim e a minha filha, mas li suas postagens e pensei que eu realmente estava a ponto de fazer uma grande besteira (...) Resolvi erguer minha cabeça e seguir. Hoje, nesse pouco tempo que envio mensagem a você e você responde, não me sinto uma pessoa sem valor. Obrigada por isso. Agora eu sei que ainda tem gente que se importa comigo.

Essa mensagem nos mostra como tantas vezes o destino de uma vida pode ser mudado por um bom dia, uma frase de atenção, um acolhimento. Como a comunicação, tão intensa nos dias de hoje, pode ser usada para o bem e para melhorar o rumo de nossas vidas.

Episódios assim infelizmente não são raros. E, com a pandemia, manter o bem-estar mental tem sido um grande desafio para as famílias e o Estado. Uma pesquisa recente do Instituto Ipsos aponta que 53% dos brasileiros relataram pioras em sua saúde mental no último ano. E nosso país já não ia bem nessas estatísticas: estudos nos colocam na liderança no ranking da ansiedade e da depressão.

O desfecho mais traumático de um transtorno mental é o suicídio, que levou, segundo cálculos do governo, 13 mil brasileiros no último ano. Não podemos deixar que o fardo da pandemia, que elevou os índices de sofrimento emocional e o consumo de álcool e drogas, piore a situação.

Desde a reforma psiquiátrica iniciada na década de 1970 e a consolidação da rede de atenção psicossocial, implementada através de uma portaria do governo federal em 2011, o Estado detém a missão de atender e resguardar pacientes com doenças psíquicas. Só que essas políticas públicas volta e meia sofrem golpes (inclusive no orçamento), que acabam por atrapalhar o esforço de tantos profissionais de saúde envolvidos nos cuidados com esse público.

Isso nos faz retomar às questões do início deste texto. Não podemos deixar só na mão do Estado e das instituições a solução do problema. Como indivíduos e como sociedade, precisamos desenvolver e demonstrar empatia pelo próximo, promover o respeito e a etiqueta social, dar mais valor a um bom dia. São atitudes que transbordam acolhimento, dão significado à vida alheia e atenuam a exposição de quem está sofrendo a riscos.

Pensemos nisso e tentemos fazer do nosso mundo um lugar melhor. Dê mais bom dia! Façamos pequenas coisas capazes de salvar vidas.

Fonte: Revista Veja / Autor: Márcio Renzo é fisioterapeuta e capitão do Corpo de Bombeiros de São Paulo

É preciso distinguir ineficácia pontual de inoperância planejada!

Interesses laterais confundem a população geral na interpretação, agora jurídica, de ações na condução pandêmica, especialmente no que tange aos cuidados médicos, notadamente acerca de protocolos terapêuticos utilizados por serviços de operadoras da área de saúde, os quais se estabeleciam por suposições balizadas pelo conhecimento científico sobre o mecanismo de funcionamento de várias drogas.

Então, sem qualquer certeza, alguns profissionais desenvolveram álgebras medicamentosas pretensamente salvadoras, suportando suas afirmações no que era conhecido sobre as habilidades do novo coronavírus e a possível, que entendiam como certa, competência de alguns fármacos no bloqueio de uma ou mais fases na sequência do desastroso caminho viral.

Não se discute o equívoco daqueles que propagaram e encamparam suas deduções, mas diante do apocalipse anunciado e a coerência dos argumentos que sugeriam a ação protetora de alguns medicamentos, bastou a velocidade de nossas democráticas, e sem filtros, redes sociais para tudo parecer salvador, tornando muitos erros perdoáveis na debutante pandemia.

O que devemos trazer à baila não é o uso empírico dos kits anticovid-19 ou o lamentável erro do aconselhamento público inicial na orientação de manter o doente em sua residência até o limite de sua resistência respiratória. Precisamos, agora, é compreender as ações que desdenharam a vida, mesmo à luz das decifrações científicas, e em qual proporção já são utilizadas regularmente para reduzir ou eliminar gastos em outras doenças graves.

Protagonizar esta discussão com vieses ideológicos, seja em CPIs ou debates públicos, apequena a dimensão da catástrofe e esconde a vulnerabilidade de clientes diante de boa parte dos planos de saúde, especialmente aqueles com rede própria de atendimentos, o que proporciona indagações legais para muito além da calamidade ainda em curso.

É quase certo que os tais kits não salvaram, mas também é muito provável que não tenham promovido extensa lista de óbitos (ainda que saibamos de casos pontuais). De outro lado, tem muita importância saber a quem foi negado e quem negou internação sob a hipotética égide protetiva destes kits e quantos agonizaram sem ar aguardando as qualidades inexistentes dos fármacos prescritos.

É injusta a culpabilização sumária daqueles que prescreveram, ou permitiram, estas divagações terapêuticas, enquanto não privaram seus pacientes das vanguardas que consensos científicos demonstravam ter maior efetividade, tais quais a oferta precoce de oxigênio, corticoides em fases específicas da evolução e o uso de anticoagulantes balizados em parâmetros laboratoriais.

É oportuna a citação do uso de nitrato sublingual nos atendimentos de enfartados nas emergências médicas, assim como no manejo ambulatorial de pacientes portadores de doença coronariana, tendo sido aceito por muitos anos como redentor se utilizado no início da dor precordial, no que se pensava (muitos ainda admitem) impedir ou minimizar a deflagração do processo de infarto.

Após décadas, vários estudos concluíram que o medicamento é ineficaz para aumentar as chances de sobrevivência do enfartado, com o seu uso sendo justificado pelo alívio gerado com o arrefecimento da dor, dado por sua atividade vasodilatadora. Efetivo no desfecho final ou não, o fato é que conforta e nenhum serviço exclui essa classe farmacológica de seus protocolos.

Então, a questão central a ser julgada é a omissão, o descuido planejado ou disfarçado em condutas ineficazes, atitudes elaboradas para mitigar prejuízos ou ampliar ganhos, e, mais ainda, em qual dimensão faz parte do modus operandi fisiológico de muitas empresas deste setor.

Vemos, agora, médicos de extenso currículo acadêmico sendo inquiridos em suas (provavelmente) equivocadas convicções, quando deveriam ser questionados acerca do quanto subtraíram de seus protocolos a assistência hospitalar precoce, com maquinários e investigações laboratoriais e radiológicas providenciais e frequentes.

Ainda em mesmo cenário, é deveras importante que saibamos em qual extensão foram rendidos às vontades de gestores, aqueles que, enxergando imensa redução de seus dividendos, desesperavam-se à procura de malabarismos para conter os gastos hospitalares.

Este movimento avançaria para questões urgentes e atuais, tais quais as exclusões contratuais em planos de saúde, entre elas a que dificulta (eventualmente impede) o tratamento cirúrgico da obesidade grave, que sob qualquer observação é conduta protetiva contra as derivações nefastas e perenes do acúmulo de peso, como diabetes, hipertensão arterial e tantas outras.

Quem sabe possamos sentenciar se as instituições deste setor pontuam (ou não) seus profissionais médicos na inversa proporção do número de exames solicitados ou se modulam (ou não) seus serviços de emergência para conter o uso de injetáveis e investigações diagnósticas para derreter seus custos e não honrar seus tratos.

É bem mais do que julgar ineficácia de condutas coadjuvantes pontuais e temporárias, é avaliar o descumprimento contratual rotineiro de contratado para o contratante!

Fonte: Estadão / Autor: Antonio Carlos do Nascimento é DOUTOR EM ENDOCRINOLOGIA PELA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

Bolsa do Brasil cai 12% no ano enquanto pregões de Nova York sobem dois dígitos

Fonte: Folha SP

Com avanços no combate à pandemia estimulando a retomada econômica mundial e injeções de incentivos financeiros governamentais, os mercados de ações globais entregaram ganhos consistentes ao longo de 2021. No Brasil, porém, os negócios andaram para trás devido a uma combinação de sucessivas crises internas com um contexto externo desafiador para economias emergentes.

De janeiro a setembro, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores brasileira, caiu 6,75%. Se considerada a variação do dólar no período, a queda é aprofundada para 11,67%. Nos Estados Unidos, os três principais indicadores acumulam ganhos. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 10,58%, 14,68% e 12,11%, respectivamente.

O desempenho brasileiro também destoa do crescimento de outras Bolsas relevantes no continente americano. Ao norte, os índices S&P/TSX, do Canadá, e S&P BMV IPC, do México, avançaram 15,86% e 12,93%, enquanto ao sul, o índice Merval, da Argentina, entregou lucro de 28,70%.

No mesmo período, o índice Euro Stoxx 50, que reúne 50 ações de empresas com maior volume de negociação da Europa, avançou 7,85%. Também cresceram os índices de referência das Bolsas de Londres (8,16%), de Paris (11,16%) e de Frankfurt (4,74%).

Entre as Bolsas de economias desenvolvidas que estão fora da América do Norte e da Europa, o índice S&P/ASX 200, da Austrália, subiu 4,35%, enquanto o Nikkei, do Japão, recuou 0,57%. Todas as comparações consideram as cotações em dólar americano, com base em dados da Bloomberg.

Parte importante desses ganhos pode ser atribuída a políticas monetárias expansionistas de países desenvolvidos, que empenharam capital nos mercados por meio da compra de ativos e reduziram taxas de juros, medidas adotadas para amenizar os prejuízos causados pelas restrições impostas pelo combate à pandemia.

O pacote de estímulos mais significativo é o adotado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), que ainda mantém compras mensais de ativos de US$ 120 bilhões (cerca de R$ 660 bilhões) enquanto segura uma taxa de juros básicos perto de zero. Com o dinheiro entrando nas Bolsas e a renda fixa pagando pouco, investidores formam tomados por um sentimento positivo em relação aos mercados de risco, mesmo em um mundo ainda em crise.

Os efeitos dessas políticas expansionistas sobre as economias em desenvolvimento, porém, não foram homogêneos. Entre os cinco grandes mercados emergentes quem formam o bloco denominado Brics, do qual o Brasil é parte, as Bolsas da Índia e da Rússia se valorizaram em 23,98% e 11,68%, respectivamente, enquanto a da África do Sul caiu 9,82%. A Bolsa de Xangai, a principal da China, recuou 5,42%, assim como houve retração de 10,12% no índice Hang Seng, referência para o mercado de Hong Kong, também na China.

A desaceleração da China é parte da explicação para que o Brasil não tenha conseguido aproveitar a janela mundial de crescimento. Destino da maior parte das commodities produzidas por algumas das principais empresas que compõem o Ibovespa, o gigante vermelho encontrou na pandemia obstáculos para continuar a sua planejada mudança para matrizes energéticas eólica e solar, reduzindo assim a sua dependência do carvão mineral na tentativa de reduzir suas emissões de aproximadamente 10 gigatoneladas de CO2 (dióxido de carbono) por ano.

Entre os efeitos das restrições geradas pela Covid, porém, a desorganização das cadeias de abastecimento afetou a produção de componentes para equipamentos necessários à expansão de turbinas eólicas e placas de células fotovoltaicas em um momento em que a China já havia fechado parte das suas minas de carvão.

Sem os recursos suficientes à sua demanda de energia, o país realiza racionamentos, afetando sua produção industrial e agravando ainda mais a escassez de produtos manufaturados no mundo, ao mesmo tempo em que também pressiona os preços de insumos para a produção energética, como o petróleo.

A China é o maior player de manufatura do planeta, a fábrica do mundo, e essas questões estão gerando um choque de oferta: o planeta precisa produzir mas não tem capacidade porque faltam insumos, diz Roberto Dumas, professor de economia chinesa do Insper.

Com isso, o Brasil não só é prejudicado pela redução da demanda chinesa por commodities, como o minério de ferro produzido pela Vale, mas também se torna menos atraente diante da expectativa da elevação dos juros básicos nos Estados Unidos e na Europa, cenário dado como certo devido à escalada da inflação global.

O descolamento da Bolsa brasileira em relação às demais em um período de expansão, porém, não pode ser inteiramente atribuído à virada no contexto internacional, segundo Dumas. As economias globais estão crescendo menos, mas não estão paradas. China e Estados Unidos vão acabar crescendo, diferente do que está acontecendo no Brasil, que não consegue avançar devido às suas peculiaridades e características estruturais, diz.

Primordialmente temos fatores domésticos afetando a Bolsa por aqui, como a PEC [Proposta de Emenda à Constituição] dos precatórios, o auxílio emergencial e a crise hídrica, tudo isso em um cenário em que as eleições de 2022 estão se aproximando, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.

A PEC dos precatórios e o auxílio emergencial resumem o quadro de ameaças fiscais do país para o próximo ano: enquanto a equipe econômica do governo não consegue avançar nas suas tentativas em fechar acordos no Congresso e no Judiciário para adiar parte do pagamento de R$ 89 bilhões de dívidas judiciais reconhecidas previstas para 2022, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pressiona por recursos para ampliar a distribuição de renda no ano eleitoral.

O risco leva mais investidores a buscar proteção no dólar e aumenta a pressão sobre o câmbio, enquanto a falta de chuvas amplia o custo de geração de energia, uma combinação que acelera ainda mais a inflação que já seria alta em um contexto de escassez global.

A resposta do Banco Central é a elevação dos juros básicos para frear a alta nos preços por meio da contração do crédito. O efeito colateral é a desaceleração da economia e um mercado ainda menos atraente aos investidores. Solução, entretanto, que pode não ser suficiente enquanto houver ameaça de desequilíbrio das contas públicas, segundo Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

Miraglia ainda destaca que, apesar do efeito da China sobre o Brasil, há poucos motivos comuns entre os recuos das Bolsas nos dois países.

No país asiático até mesmo a crise do setor imobiliário provocada pela quebra da incorporadora Evergrande está relacionada a decisões planejadas pelo Partido Comunista da China, que busca equilibrar sua economia majoritariamente voltada à produção de bens para dar mais espaço ao consumo interno, segundo o analista.

São situações muito diferentes, uma vez que na China o planejamento é para os próximos cem anos, enquanto no Brasil a disputa eleitoral influencia decisões a cada quatro anos, diz.

Investidor deve evitar pulverização de ações Apesar da visão turva do horizonte, o investidor deve evitar a pulverização de ações neste momento de baixa e, caso tenha estômago para suportar o balanço do mercado, pode até mesmo aumentar a exposição a ativos sólidos eventualmente baratos.

A ideia, nesse caso, é reforçar uma carteira de investimentos para o longo prazo desvinculados de objetivos pontuais, como a compra de um imóvel em um determinado prazo ou a aposentadoria, orienta Ivens Gasparotto, head de consultoria da Suno.

Você deve investir na Bolsa porque quer participar do lucro das empresas, da economia, receber dividendos, mas não deve fazer isso se espera lucrar o suficiente para comprar uma casa em cinco anos, afirma.

A aplicação deve ser pensada para dez ou vinte anos, no mínimo, porque é improvável que nesse intervalo o investimento resulte em prejuízo, diz Gasparotto.

Para quem aplicou enquanto a Bolsa ascendia aos 130 mil pontos na virada do primeiro para o segundo semestre deste ano e somente agora se descobriu avesso ao risco, Paloma Brum, analista de investimentos na Toro, indica a manutenção de ao menos parte dos ativos.

Ao longo dos anos, a Bolsa converge para o lucro", diz. "Se tomarmos como exemplo as ações da Vale, a empresa está em uma condição melhor do que os pares dela no mercado internacional, o que é uma boa medida para sabermos que as ações estão baratas.

A era da economia da escassez

Fonte: Estadão

Durante uma década, após a crise financeira, o problema da economia mundial foi a redução de gastos. Famílias preocupadas pagaram suas dívidas, governos impuseram austeridade e empresas restringiram os investimentos, enquanto contratavam funcionários de um aparente infinito conjunto de trabalhadores. Agora, os gastos voltaram com força, conforme os governos estimulavam a economia.

O aumento repentino na demanda é tão intenso que os estoques têm dificuldade em dar conta. Os motoristas de caminhão ganham bônus ao assinar contratos, uma frota de navios porta-contêineres ancorada ao longo da Califórnia espera os portos serem liberados, e os preços da energia sobem vertiginosamente. À medida que a inflação assombra os investidores, a abundância da década de 2010 dá lugar à economia da escassez.

A causa imediata é a covid-19. Cerca de US$ 10,4 trilhões em estímulo global à economia desencadearam uma forte recuperação, porém desigual, na qual os consumidores estão gastando mais do que o normal com bens, aquecendo cadeias de suprimentos globais famintas. A demanda por produtos eletrônicos disparou durante a pandemia, mas a escassez dos microchips necessários para a fabricação deles atingiu a produção industrial em algumas economias exportadoras, como Taiwan. A propagação da variante Delta fechou fábricas de roupas em partes da Ásia.

No mundo rico, a mudança de emprego está baixa, as ajudas financeiras rechearam as contas bancárias, e poucos trabalhadores têm vontade de deixar empregos menos populares, como vender sanduíches nas cidades, para outros com demanda, em armazéns, por exemplo. Do Brooklyn a Brisbane, os empregadores estão em uma disputa louca por mãos extras.

A economia da escassez também é resultado de duas forças mais profundas. Primeiro, a descarbonização. A mudança do carvão para a energia renovável deixou a Europa vulnerável ao pânico do fornecimento de gás natural que, em um momento desta semana, fez os preços à vista subirem em mais de 60%.

Um aumento no preço do carbono no esquema de comércio de emissões da União Europeia dificultou a mudança para outras formas mais poluentes de energia. Regiões da China enfrentaram cortes no fornecimento de energia enquanto algumas das províncias do país lutavam para cumprir rígidas metas ambientais. Os preços altos do transporte de mercadorias e de componentes de tecnologia estão elevando as despesas de capital para expandir a capacidade. Enquanto o mundo tenta se desabituar da energia suja, o incentivo para investimentos de longa duração na indústria de combustíveis fósseis é fraco.

A segunda força é o protecionismo. A política comercial não é mais elaborada com a eficiência econômica em mente.

Esta semana, o governo de Joe Biden confirmou que manteria as tarifas de Donald Trump sobre a China, em média em 19%, prometendo apenas que as empresas poderiam solicitar isenções (boa sorte na batalha com a burocracia federal). Em todo o mundo, o nacionalismo econômico está contribuindo para a economia da escassez. A falta de motoristas de caminhão na Grã-Bretanha foi exacerbada pelo Brexit. Após anos de tensões comerciais, o fluxo de investimentos entre países por empresas caiu para mais da metade em relação ao PIB mundial desde 2015.

Tudo isso pode parecer uma reminiscência dos anos 1970, quando muitos lugares enfrentavam filas nos postos de gasolina, aumentos de preços de dois dígitos e crescimento lento. Há cinquenta anos, os políticos cometeram um grave erro com a política econômica, lutando contra a inflação com medidas fúteis, como controle de preços e a campanha Whip Inflation Now (algo como Derrote a Inflação Já) de Gerald Ford, que incentivava as pessoas a plantar seus próprios vegetais. Hoje, o Federal Reserve (Fed) está debatendo como prever a inflação, mas é consenso que os bancos centrais têm o poder e o dever de mantê-la sob controle.

Por enquanto, uma inflação fora de controle parece improvável. Os preços da energia devem diminuir depois do inverno no hemisfério norte. No próximo ano, o avanço com vacinas e novos tratamento para a covid-19 devem reduzir os transtornos. Os estímulos fiscais serão encerrados em 2020: Biden está tendo dificuldades em passar sua proposta de orçamento gigante pelo Congresso, e a Grã-Bretanha planeja aumentar impostos. O risco de quebra no setor de habitação da China significa que a demanda poderia até cair, trazendo de volta as condições fracas da década de 2010. E um aumento nos investimentos em algumas indústrias acabará se traduzindo em mais capacidade e maior produtividade.

As forças mais profundas por trás da economia da escassez não vão desaparecer, e os políticos podem facilmente acabar adotando medidas arbitrárias. Um dia, tecnologias como o hidrogênio devem ajudar a tornar a energia verde mais confiável. À medida que os custos com combustível e eletricidade aumentam, poderia haver uma reação negativa. Se os governos não garantem alternativas verdes adequadas aos combustíveis fósseis, eles podem ter de suprir a escassez flexibilizando voltando a usar fontes mais poluentes. Os governos, portanto, terão de planejar como lidar com os custos mais altos de energia e o crescimento mais lento que resultarão da eliminação de emissões. Fingir que a descarbonização resultará em um milagroso boom econômico certamente levará à decepção.

A economia da escassez também pode reforçar o apelo do protecionismo e da intervenção estatal. Os transtornos muitas vezes levam as pessoas a questionar dogmas da economia. O trauma da década de 1970 causou uma rejeição bem-vinda do grande governo intervencionista e keynesianismo rudimentar. O risco agora é que certas tensões na economia provoquem a rejeição da descarbonização e da globalização, com consequências devastadoras a longo prazo. Essa é a real ameaça apresentada pela economia da escassez.

A crise financeira que ameaçou o capitalismo

Fonte: BBCNews

A primeira década do século 21 foi em grande medida escrita nos Estados Unidos. Começou com uma grave crise geopolítica, no coração de Nova York, o 11 de Setembro, e terminou com uma grave crise econômica, também ambientada em Nova York, no centro financeiro de Wall Street.

A crise financeira iniciada em 2007, causada pela perda de valor de ativos imobiliários, carregou a Europa, se alastrou pelo mundo e provocou uma recessão global no ano de 2009. Levou à nacionalização de bancos, derrubou governos, gerou taxas de desemprego altíssimas e causou várias ondas de protestos, muitos deles violentos.

Para muitos, a maior recessão desde a década de 1930 representava a falência do modelo de capitalismo financeiro predominante a partir dos anos 1980. O resultado da crise, no entanto, fez com que nações inteiras pagassem pelas perdas econômicas causadas pela má gestão do sistema. Diante da sensação de que sociedades arcaram com o custo das ações de uma elite econômica, muitos atribuem à crise o surgimento de movimentos populistas, de esquerda e de direita, anos mais tarde.

O fim do dinheiro fácil

Até 2007 a vida ia muito bem nas nações ocidentais desenvolvidas, cujas economias cresciam sem olhar para trás. A inflação estava sob controle, as taxas de juros eram inofensivas, o crédito era acessível, e o desemprego era baixo.

Na América do Norte e na Europa, nem o terrorismo internacional ou as guerras travadas no Oriente Médio foram suficientes para conter o otimismo geral sentido no cotidiano.

Uma ambição simbolizava essa época: a casa própria. Comprar um imóvel nunca havia sido tão fácil, fosse nos Estados Unidos, no Reino Unido, na Espanha ou na Irlanda, com crédito disponível mesmo para aqueles que não tinham renda ou segurança profissional suficientes.

Nos Estados Unidos, o nome dado para a dívida imobiliária, ou hipoteca, contraída por pessoas que normalmente não teriam capacidade de assumi-la era subprime. A oferta desse tipo de dívida cresceu nos anos 1990, e a partir de 2001 avançou em ritmo mais acelerado.

Com crédito fácil para aquisição de imóveis, aumentava a demanda por casa própria, o que elevava os preços. Com preços mais altos, instituições financeiras tinham de oferecer empréstimos em condições ainda mais favoráveis e atraentes para continuar conquistando novos compradores.

Entre essas ofertas, estavam juros mais baixos nos primeiros meses, o que aumentava o risco de o comprador não cumprir com os pagamentos quando viesse um aumento futuro. Naturalmente, a grande maioria desses empréstimos era garantida pela própria propriedade adquirida, a conhecida hipoteca.

Todos os sinais apontavam para uma bolha imobiliária nos Estados Unidos na primeira década dos anos 2000, com um aumento de preços que começara na década anterior.

O valor médio de um imóvel no país, segundo dados do Censo americano, era de US$ 120 mil no primeiro trimestre de 1991. Dez anos depois, era de US$ 165,3 mil, um aumento de 38%. Após apenas sete anos, no primeiro trimestre de 2007, chegou a US$ 257,4 mil, um salto de 56%.

Um estudo produzido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), no fim de agosto de 2017, explicou o que acontecia no setor imobiliário americano. Segundo o relatório, ferramentas como ARMs, sigla em inglês para taxas de hipoteca ajustáveis, que facilitavam a entrada de compradores de baixa renda num mercado de custo alto, não funcionavam mais.

Enquanto os preços das casas estavam subindo, o choque de novas taxas de juros, quando as primeiras taxas atraentes acabavam, podia ser evitado com um refinanciamento do imóvel com uma outra ARM ou taxa híbrida. Mas muitos credores e devedores sabiam, ou deveriam saber, que esses empréstimos não eram viáveis na taxa de juros completa.

Em resumo, o mercado vivera uma arriscada fantasia, emprestando dinheiro para quem, mais cedo ou mais tarde, não teria condições de pagar de volta.

Já em 2006, aumentou significativamente a frequência de calotes em pagamentos de parcelas de hipotecas, o que começou a afetar a saúde geral do mercado imobiliário. A partir do segundo trimestre de 2007, o preço médio dos imóveis nos Estados Unidos não subiu mais. Na verdade, desabaram. Cairiam seguidamente até chegar, no primeiro trimestre de 2009, à média de US$ 208,4 mil, numa consequência da falência do modelo das hipotecas subprime.

A crise provocou uma reação em cadeia, já que toda a economia estava ligada, de uma forma ou de outra, à valorização do setor nos anos anteriores. Com a perda de valor dos ativos imobiliários, devedores presos a hipotecas que não conseguiam pagar perderam suas casas que por sua vez não eram suficientes para quitar a dívida com os bancos credores.

A crise do subprime gerou a crise dos foreclosures, ou da retomada dos imóveis, cerca de 10 milhões de americanos perderiam suas residências entre 2007 e 2016. E isso foi só o começo.

A crise atinge a Europa

Para a economia global, o problema era que as hipotecas arriscadas dos Estados Unidos não eram uma realidade restrita aos americanos. Por meio da securitização, a transformação de créditos a receber no futuro em produtos financeiros negociados no mercado, os subprimes eram transacionados nos mercados internacionais.

Transformados em títulos, eram comprados e vendidos como commodities, numa ciranda usada para levantar recursos e gerar liquidez. A deterioração da situação americana, portanto, não passou despercebida no exterior.

Em 9 de agosto de 2007, o banco francês BNP Paribas fez um anúncio que caiu como uma bomba nos mercados. Assustado com o que via acontecer no outro lado do Atlântico, o banco congelou 1,6 bilhão de euros, US$ 2,2 bilhões, em fundos, dizendo que a situação americana tornava impossível determinar o valor de alguns bens de forma justa, independentemente de sua qualidade ou avaliação de crédito.

Sem saber o tamanho de sua exposição a créditos ruins e o tamanho de suas futuras perdas, outras instituições europeias também decidiram reter fundos e reduzir seus riscos. O mercado sofreu um choque de liquidez, e as bolsas de valores sentiram o golpe, no dia 10 de agosto, a de Londres caiu 3,7%, sua maior queda em quatro anos.

No Reino Unido, a situação foi fatal para o banco Northern Rock, um dos principais fornecedores de hipotecas do país, envolvido até o pescoço no mercado de títulos ligados ao setor imobiliário.

Na noite de 13 de setembro, o jornalista Robert Peston, da BBC News, revelou que a instituição havia pedido, e obtido, ajuda financeira ao Banco da Inglaterra, o banco central do Reino Unido.

Diante da notícia, na manhã seguinte correntistas fizeram filas nas agências para retirar seu dinheiro do banco, a primeira vez que isso aconteceu numa instituição britânica em 140 anos. Em apenas um dia, clientes retiraram 1 bilhão de libras da instituição, cujas ações despencaram 32%. Em fevereiro de 2008, o Northern Rock acabou nacionalizado pelo governo britânico.

O final de 2007 foi tenso nos mercados internacionais. Naquela fase, as dificuldades da economia global tinham um nome: credit crunch, ou esmagamento do crédito, porque o problema principal era a dramática redução do dinheiro disponível nos mercados internacionais.

Em março de 2008, o banco americano Bear Sterns, fortemente envolvido no mercado de securitização de hipotecas e enfrentando uma grave crise, chegou à beira da falência. Acabou sendo comprado por outro banco americano, JP Morgan, por apenas US$ 236 milhões, uma fração de menos de 10% do que o banco valia dias antes.

Reportagem do jornal USA Today disse que a quebra do Bear Sterns revelava o momento delicado da crise. No melhor cenário possível agora, o Fed [banco central americano] consegue fazer os mercados voltarem à atividade, levando a uma recuperação no mercado imobiliário e à recuperação da economia. O pior cenário: um colapso econômico em que a crise se espalha para outros bancos e além deles.

Não apenas ocorreu o pior cenário, como ele se mostrou ainda mais grave e duradouro do que muitos imaginavam.

Num domingo, 7 de setembro de 2008, o governo americano decidiu resgatar de uma falência certa as duas maiores financiadoras imobiliárias do país, Freddie Mac e Fannie Mae. A avaliação do governo era de que a falência de ambas paralisaria o setor completamente, talvez por anos.

Segundo o então presidente George W. Bush, o risco que elas enfrentavam era inaceitável, e por isso o governo injetaria até US$ 100 bilhões em cada uma delas, o maior resgate corporativo da história.

Os mercados reagiram bem, com altas nas bolsas, mas a alegria durou pouco. Uma semana depois, o Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos do país, quebrou. O governo americano recusou-se a socorrê-lo, e a instituição faliu.

Pânico e recessão globais

O Lehman Brothers entrou com pedido de recuperação judicial em 15 de setembro de 2008, uma segunda-feira e teve sua falência decretada. Com uma dívida de US$ 613 bilhões, o banco, fundado em 1847, empregava cerca de 25 mil pessoas no mundo todo. No mesmo dia, outro grande banco americano em dificuldades, Merrill Lynch, foi incorporado pelo Bank of America.

Os acontecimentos daquele dia derrubaram os mercados de ações. O índice Dow Jones da bolsa de Nova York caiu 4,42%, o Standard & Poor's 500, 4,69%, e o Nasdaq, 3,6%.

Horas antes, as bolsas europeias já haviam fechado com fortes quedas, 3,92% em Londres, 3,78% em Paris e 2,74% em Frankfurt. Estava decretado o início de uma nova fase na crise financeira, em que todos os aspectos da economia mundial foram afetados.

O sistema financeiro ocidental continuava em profundas dificuldades, e governos tentavam buscar soluções. Em 29 de setembro, a Câmara dos Representantes americana rejeitou uma proposta de ajuda de US$ 700 bilhões aos bancos do país.

A decisão provocou a maior queda do índice Dow Jones da história em pontos, de 777,68 pontos, um derretimento mais acentuado que o visto logo após os atentados de 11 de setembro de 2001. Foi uma queda de 7%, acompanhada por um recuo ainda maior do Standard & Poor's 500, de 8,8%, e pior ainda para o Nasdaq, de 9,1%.

Na Europa, o pânico também se espalhava. Tanto que em 8 de outubro de 2008 o governo britânico anunciou um pacote de ajuda e nacionalização parcial dos bancos do país, no valor de 500 bilhões de libras, cerca de US$ 700 bilhões.

O Banco da Inglaterra ainda reduziu sua taxa anual de juros em 0,5 ponto percentual naquele dia, de 5% para 4,5%, o que foi pouco diante do que faria mais adiante. Em novembro, o banco central britânico baixou os juros ainda mais, para 3%, e realizou novos cortes dos meses seguintes até março de 2009, quando introduziu a incrível taxa anual de 0,5%, a mais baixa desde a fundação da instituição, em 1694. Não foi o suficiente.

Com os juros praticamente a zero e a economia britânica em recessão desde 2008, o Banco da Inglaterra iniciou a chamada flexibilização quantitativa, uma estratégia de estímulo monetário, com o objetivo de injetar recursos na economia.

Na prática, o governo recomprava antecipadamente títulos de sua dívida junto aos bancos, injetando assim, em larga escala, o dinheiro de que as instituições tanto precisavam. Começou com 75 bilhões de libras em março, injetou mais 50 bilhões em maio, e no final de 2009 o total chegou a 200 bilhões.

O PIB (Produto Interno Bruto) do Reino Unido despencou 4,25% em 2009, após já ter caído 0,28% no ano anterior.

A Zona do Euro também sofreu um impacto histórico, apesar de um pacote de estímulo de 200 milhões de euros, anunciado em novembro de 2008. O PIB da região recuou 4,5% em 2009, após ter estagnado (0,4%) em 2008.

Um dos primeiros dramas nacionais foi o da Islândia, pequena ilha de menos de 400 mil habitantes, fora da União Europeia, que na década anterior havia surfado numa bonança financeira. Seus bancos, sem grande experiência internacional, mergulharam nos mercados de títulos imobiliários, gerando uma riqueza que fez a economia do país crescer a uma média anual de 7,25% entre 2004 e 2007.

Quando essa riqueza evaporou, o país pagou um preço alto. Em 2009, o PIB da Islândia sofreu um tombo de 6,78% e em 2010 de 3,44%, levando a protestos contra as autoridades e a elite financeira islandesa, que causaram a derrubada do governo de centro-direita.

Países europeus que viviam suas próprias bolhas imobiliárias, como Irlanda e Espanha, sofreram de forma aguda com a crise. As grandes economias da Alemanha, França e Itália também entraram em recessão, fenômeno que acabou tomando o mundo todo.

Isso apesar da resistência da China e das outras nações em desenvolvimento, como o Brasil, cuja economia recuou apenas 0,1% em 2009.

Segundo dados do Banco Mundial, naquele ano a economia global sofreu uma queda de 1,7%, e o PIB per capita baixou 2,9%, configurando uma recessão global, a primeira desde 1993. Os anos de 2008 e 2009 entrariam para a história como a Grande Recessão.

Austeridade e protestos

A partir de 2010, enquanto os mercados financeiros ainda tentavam se recuperar, a economia real nos Estados Unidos e na Europa sofria.

O custo social da crise econômica ficava cada vez mais claro com a disparada do desemprego. A taxa global de desemprego, medida pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), saltou de 5,4% da força de trabalho em 2008 para 6% em 2009, empurrada por algumas situações nacionais dramáticas.

Entre elas, a da Espanha. Após cerca de 15 anos reduzindo sua taxa de desempregados, o país viu esse percentual aumentar de forma assustadora a partir de 2009, quando saltou de 8,2% no ano anterior para 11,25%. A taxa de desemprego da Espanha continuou subindo até atingir 26% em 2013, entre os jovens, abaixo de 25 anos de idade, ela foi de incríveis 56%.

Parte do custo social da crise econômica estava ligada ao amargo remédio adotado para contê-la. A necessidade de o Estado assumir as perdas do sistema financeiro em 2008 e 2009, que levou a medidas como nacionalização de bancos, realçou inicialmente o importante papel do poder público para salvar a economia. Entretanto, logo depois veio a necessidade de pagar por esse socorro.

Políticas de austeridade foram adotadas por toda a Europa, com cortes de gastos públicos que afetaram tanto a vida das pessoas como a capacidade de cada nação acelerar a atividade econômica.

Alguns países, como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, tiveram de recorrer à União Europeia, que fez aportes bilionários para salvar essas economias. A contrapartida eram duras medidas de austeridade, para garantir o pagamento da dívida, que foram recebidas com uma onda de protestos.

Cidadãos europeus deixaram claro com suas manifestações, muitas pacíficas e outras violentas, que não concordavam em ter de pagar o preço de uma crise provocada por ações irresponsáveis de bancos. Entre os indignados estavam, especialmente, os gregos.

Nenhum país no mundo sofreu tanto quanto a Grécia os efeitos da crise financeira. Entre 2010 e 2015, o PIB grego desabou mais de 30%, destruindo todo o crescimento obtido desde 2003. A taxa de desemprego disparou de 7,8%, em 2008, para 27,5%, em 2013.

O país não apenas estava demasiadamente vulnerável à forte redução no crédito e na liquidez pelo mundo, porque já vinha extremamente endividado, como também foi vítima da corrupção presente na elite política da época. A crise revelou que dados das finanças públicas vinham sendo maquiados havia anos, escondendo a verdadeira situação econômica do país, fato que enfraqueceu ainda mais sua economia, por abalar a confiança internacional na Grécia.

A pouca credibilidade das autoridades gregas não era um problema novo. Em 15 de novembro de 2004, a BBC News noticiou: A Grécia admitiu ter adotado o euro em 2001 com base em números que mostravam que seu déficit orçamentário era muito mais baixo do que realmente era.

Segundo admitia seu ministro da Fazenda, o déficit grego que, segundo as regras da Zona do Euro não podia ficar acima de 3% do PIB, já ultrapassara esse limite em 1999, coisa que continuaria ocorrendo nos anos seguintes, no contexto da organização dos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

Naquele ano, a Grécia estava sob novo governo, do premiê Kostas Karamanlis, que substituíra o socialista Costas Simitis. A promessa era de que a partir de então o país reduziria seu déficit, e seus números seriam confiáveis. Não foram. O país continuou se endividando, mas após a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008, não conseguiu mais renegociar sua dívida pública, que já ultrapassava o valor total de sua economia. Em 2009, ela chegou a 127% do PIB, contra 109% no ano anterior.

Ao mesmo tempo, a comunidade internacional descobria que continuava sendo enganada pelas autoridades gregas. Como noticiou o jornal britânico Financial Times, em 12 de janeiro de 2010: A Grécia foi criticada pela Comissão Europeia por falsificar dados sobre suas finanças públicas e permitir que pressões políticas obstruíssem a coleta de estatísticas precisas.

A comissão colocava dúvidas até mesmo nos dados revisados pelo governo grego meses antes, quando Atenas mudou sua previsão de déficit orçamentário de 2009, de 3,7% para 12,5%. A cada notícia como essa, agências de avaliação de risco rebaixavam a dívida grega, enquanto subia a contrapartida que a Grécia precisava pagar para que o mercado adquirisse seus títulos. Como resultado, a dívida saltaria para 146% do PIB em 2010 e para 172% em 2011.

Nesse cenário, as ruas explodiram de raiva. Os choques com a polícia começaram em 2008, como parte de protestos espontâneos contra a morte do adolescente Alexis Grigoropoulos, de 15 anos, por um policial em Atenas.

Inicialmente desconectado da crise financeira, o incidente logo serviu de gatilho para protestos contra a situação econômica e a corrupção. Em setembro de 2009, o premiê Kostas Karamanlis convocou eleições antecipadas devido à crescente crise. Perdeu. O oposicionista George Papandreou tornou-se primeiro-ministro em outubro, marcando o retorno dos socialistas ao poder.

Em maio de 2010, o governo de Papandreou anunciou medidas de austeridade, como cortes de gastos públicos e congelamento de salários e de aposentadorias, e com isso obteve do bloco europeu seu primeiro pacote de ajuda, de 110 bilhões de euros. As medidas levaram a uma nova onda de protestos violentos em Atenas.

Cenas de confrontos com a polícia grega tornaram-se comuns no noticiário internacional, enquanto jornais e TVs abusavam do termo tragédia grega. Um segundo pacote de ajuda europeu veio em 2011, seguido de um terceiro em 2015, elevando o total emprestado ao país a 289 bilhões de euros.

Papandreou não durou muito, sendo forçado a renunciar em novembro de 2011, após um acordo político para a aprovação da ajuda europeia. Com a economia ainda em depressão, as ruas tomadas por manifestantes e a política tumultuada, a Grécia teria cinco diferentes primeiros-ministros até o fim de 2015.

Não foi, porém, apenas na Grécia que a Grande Recessão levou a mudanças na política. Em quase todos as nações da Europa ocidental houve um preço político pela crise, com várias trocas de governos.

No Reino Unido, a esquerda trabalhista foi castigada nas urnas, com a derrota do premiê Gordon Brown e sua substituição pelo conservador David Cameron, em 2010.

Na Espanha, em 2011, o Partido Socialista perdeu o poder para a oposição conservadora. Já na França, em 2012, foi o presidente conservador Nicolas Sarkozy quem perdeu, em sua tentativa de reeleição, para o socialista François Hollande. Na Itália, o conservador Silvio Berlusconi foi levado a renunciar em 2011, diante da crise e de sua perda de credibilidade pessoal.

A única líder europeia de destaque que continuou firme em seu posto foi a chanceler alemã, Angela Merkel. Em 2013, ela liderou seu partido, o conservador CDU, União Democrática Cristã, à expressiva vitória nas urnas, o que foi visto por analistas políticos como um reconhecimento dos eleitores alemães à liderança firme e decisiva da chanceler no combate à crise econômica.

Longe dali, onde a crise toda começou, os americanos também responsabilizaram o partido do governo pela crise e colocaram o futuro do país nas mãos da oposição.

Mudança e protesto nos EUA

O governo do republicano George W. Bush chegou ao fim em janeiro de 2009, apenas quatro meses depois da quebra do banco Lehman Brothers.

Nas eleições presidenciais de novembro de 2008, seu nome não estava na cédula, mas o candidato de seu partido, o senador John McCain, tinha uma tarefa difícil. A popularidade de Bush variava entre apenas 25% e 30%, segundo o instituto Gallup, basicamente devido à guerra no Iraque e à crise econômica.

Além disso, contra ele estava a estrela ascendente do senador democrata Barack Obama, que prometia esperança numa época de imensas dificuldades. Os eleitores decidiram apostar na oposição, e em janeiro Bush entregou a Presidência a Obama, que tinha como tarefa principal lidar com a Grande Recessão.

Os Estados Unidos terminaram 2008 com uma queda de 0,14% do PIB. O Fed reduziu no fim daquele ano a taxa de juros no país para 0,25%, a menor na história, mas o novo governo precisaria tomar medidas de muito mais impacto para estimular a economia.

Em fevereiro, Obama assinou um pacote de ajuda de US$ 787 bilhões. Ainda no início de 2009, o governo americano também injetou dinheiro diretamente nas três principais fabricantes de veículos, General Motors, Chrysler e Ford, num pacote de ajuda ao setor automotivo de US$ 86 bilhões.

Apesar dos esforços, o PIB dos Estados Unidos encolheu 2,54% em 2009, mas voltou a crescer a partir de 2010. Como na Europa, no entanto, o custo mais grave da crise veio na forma do aumento do desemprego.

Segundo a OIT, em 2008 o desemprego americano subiu a 5,8% da população economicamente ativa, contra 4,6% no ano anterior. Em 2009, porém, o salto foi bem maior, para 9,3%. Em 2010, a taxa continuou a subir, para 9,6%, e manteve-se alta em 2011, em 9%.

Esse quadro estimulou a sensação em grande parte da população de que os cidadãos, assim como os indignados europeus, estavam pagando o preço de uma crise criada por uma elite financeira. Esses americanos diziam-se os 99% da população que arcava com os custos dos privilégios do 1% restante.

Essa foi a bandeira do movimento Occupy Wall Street, ou Ocupe Wall Street. Em setembro de 2011, centenas de pessoas se organizaram e tomaram a área do Parque Zucotti, no sul da Ilha de Manhattan, em Nova York, coração do sistema financeiro americano.

O protesto logo se transformou em um grande acampamento, com cerca de 200 pessoas dormindo no local. Usando o slogan We are the 99%, Nós somos os 99%, os manifestantes, jovens em sua maioria, atacavam a desigualdade e condenavam a forte influência de corporações no comando da política.

Apesar de motivados pela realidade americana, os envolvidos inspiravam-se também nas manifestações de países na Europa, como Grécia, Islândia e Espanha, e na Primavera Árabe, a onda de protestos no Oriente Médio iniciada naquele ano.

As diferentes iniciativas, em várias partes do mundo, levaram à definição de uma data específica para uma manifestação global conjunta: sábado, 15 de outubro de 2011. Protestos de rua foram organizados em grandes cidades, num dia conhecido como a jornada dos indignados, nome emprestado do movimento lançado na Espanha cinco meses antes.

A iniciativa Occupy cresceu e tornou-se muito maior que a tomada do parque em Nova York, com outras ocupações mundo afora e o estabelecimento de um movimento permanente e global por mudanças progressistas.

Legado político

A Grande Recessão foi acabando aos poucos, dependendo do país, ao longo da segunda década do século 21.

No Reino Unido, os preços dos imóveis só retomaram uma trajetória consistente de crescimento em 2013. Portugal começou a pagar sua dívida ao FMI, após ter recebido ajuda, em março de 2015. A taxa de desemprego da Espanha começou a cair em 2014, mas em 2020 continuava em 13%, maior que os 11% de 2008.

A crise das endividadas nações da Europa, que ameaçou a própria existência do euro, a moeda única europeia, começou a ser aliviada em 2013. O PIB da Grécia voltou a crescer em 2017, e em 2018 o país deixou de depender do programa de ajuda europeu, o pagamento da dívida, porém, continuaria por muitos anos.

Medidas para prevenir uma crise semelhante foram introduzidas em vários países, como um aumento do controle e monitoramento do sistema financeiro. No Reino Unido, por exemplo, novas regras foram implementadas para aliviar o impacto da possível falência de uma instituição financeira.

Segundo o Bank of England, nesta nova era, se um banco for à falência, as perdas cairão sobre os investidores do banco, não sobre contribuintes.

Controlar o futuro econômico, no entanto, talvez tenha sido mais fácil que lidar com o político. As reverberações da Grande Recessão para a política foram muitas, imensas e duradouras. Movimentos mais extremos, tanto à direita como à esquerda, surgiram e cresceram como reação à crise.

Na Espanha, o movimento dos indignados, também conhecido como Movimento 15-M por ter começado em 15 de maio de 2011, levou à criação do partido político de esquerda Podemos, lançado em 2014.

Na Grécia, a coalizão de esquerda Syriza ganhou força com os protestos contra as medidas de austeridade e chegou ao poder nas eleições de 2015. Seu líder, Alexis Tsipras, assumiu então o cargo de primeiro-ministro, que ocupou até 2019.

Em outros países europeus, a reação foi conservadora. A crise econômica, combinada com uma onda de imigração vinda da África e do Oriente Médio, fortaleceu partidos de direita em nações como o Reino Unido e a Itália.

Em 2016, os britânicos aprovaram num referendo o chamado Brexit, a saída do país da União Europeia, movimento que acabaria dando ao populista conservador Boris Johnson o cargo de primeiro-ministro, em 2019. No pleito de 2018, os italianos levaram ao poder o partido de extrema-direita A Liga e o movimento Cinco Estrelas, de caráter antissistema.

Na França, a crise econômica fortaleceu a Frente Nacional, partido nacionalista de extrema-direita de Marine Le Pen, que chegou ao segundo turno nas eleições presidenciais de 2017. A vitória de Le Pen acabou evitada pelo surgimento de Emmanuel Macron como líder de um novo movimento centrista, o Em Marcha.

Já nos Estados Unidos, grande parte da população continuou descontente com a situação econômica. Mas, apesar dos protestos de 2011 de caráter progressista, o país fez uma guinada conservadora. Em 2016, os americanos deram a Presidência ao magnata populista conservador Donald Trump, que tomara o comando do Partido Republicano.

Com o avanço de movimentos políticos com posições mais extremas, tanto à direita como à esquerda, o mundo tornou-se mais polarizado. A crise financeira, que poupou em grande medida os países em desenvolvimento, penalizou principalmente os assalariados das nações desenvolvidas, espalhando frustração e ressentimento. Seus efeitos continuariam a ser sentidos, por muitos anos, na economia, na política e na sociedade. O mundo nunca conseguiu voltar a ser o que era antes da Grande Recessão.

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