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Mercado de Seguro & Agronegócio

18, Out. 2021

A Importância do seguro para o agronegócio

Fonte: Dinheiro Rural

O agronegócio sempre se destaca: apesar dos efeitos da Covid-19, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor fechou 2020 com expansão recorde de 24,31%, em relação ao ano anterior. De acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o segmento pôde ampliar para 26,6% sua participação no PIB total do País neste ano.

As contribuições do agronegócio transcendem as atividades diretamente ligadas à produção. Ao analisarmos a capacidade que temos de aumentar a área de cultivo, notamos um impacto direto na geração de empregos. De acordo com a CNA, no primeiro semestre de 2021, a produção de alimentos gerou 151,3 mil empregos com carteira assinada no primeiro semestre de 2021 contra 62,6 mil novos postos de trabalho com carteira assinada.

Outro aspecto positivo está nos avanços tecnológicos nos campos que viabilizam a aplicação de cálculos técnicos para a otimização de colheita com base nas condições climáticas, drones que fazem a pulverização de pesticidas e softwares que cruzam informações sobre a qualidade do solo com as previsões meteorológicas. Ou seja, o setor tem forte potencial e pode ajudar o Brasil a ter protagonismo no mercado internacional.

Somadas ao crescimento, existem também estratégias para impulsionar os negócios e o custeio dos agricultores com políticas públicas que auxiliam na contratação de seguros especializados. Sabe-se, por exemplo, que a lavoura é uma indústria a céu aberto e que depende da tecnologia para fazer o manejo da plantação e para antever riscos climáticos.

A cultura do seguro para a agricultura mudou nos últimos dez anos e, atualmente, os empresários rurais enxergam os serviços e os programas de gestão de risco como importantes ferramentas para mitigar impactos nos negócios. Hoje, o produtor entende que precisa proteger o seu capital. Por isso, o seguro é sinônimo de estabilidade financeira e a lavoura já é percebida como uma empresa.

A mudança de visão abre oportunidades para o setor de seguro, que customiza consultorias e apólices de acordo com a necessidade de cada empresa. Sendo assim, qualquer contrato entre o produtor e a seguradora exige cuidadosa análise de risco, de particularidades de cada região, além das adversidades que podem surgir para garantir uma cobertura ampla e eficaz. A ascensão dessa conscientização tem aberto as portas a seguros como Propriedade, Penhor Rural, Máquinas e Equipamentos, Florestal, Animais, Vida do Produtor, Safra e Plantio e muito mais.

Diante de um cenário favorável, com potencial de crescimento de 27% nos próximos dez anos, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), é preciso fomentar uma integração ainda mais intensa entre poder público e privado para que todas as potencialidades sejam identificadas e para que os investimentos sigam crescendo neste setor extremamente estratégico para o Brasil.

Ao atuarmos de forma assertiva, aumentamos as oportunidades dos empresários do ramo e veremos o setor registrar um altíssimo índice de produção, exportação e expansão dos negócios globalmente.

Mercado Pago estreia seguro contra crimes por Pix

Desde o lançamento, quase 90 milhões de pessoas já fizeram transações pelo sistema, segundo o BC

Fonte: Reuters

O Mercado Pago, braço de finanças do Mercado Livre, anunciou nesta quinta-feira o lançamento de um seguro contra perdas em transações feitas por Pix mediante coação.

O seguro, criado em parceria com a BNP Paribas Cardif, faz parte de um pacote que será ofertado aos cerca de 11 milhões de clientes de cartões do Mercado Pago e também inclui indenizações contra perda, roubo morte ou invalidez em decorrência de crime.

O Pix, sistema instantâneo e gratuito de transferências bancárias lançado em novembro pelo Banco Central, ganhou rápida aceitação no país. Desde então, quase 90 milhões de pessoas já fizeram transações pelo sistema, segundo o BC.

Em resposta a crescentes alertas de ações criminosas envolvendo o sistema, o BC a partir de semana passada limitou a mil reais o valor de operações feitas pelo Pix entre 20h e 6h.

O seguro do Mercado Pago promete indenizar clientes obrigados a transferir recursos sob ameaça de danos físicos. O seguro vale também para saques sob coação em caixas eletrônicos e situações como o roubo de bolsa contendo o cartão, desde que os crimes sejam notificados no prazo estipulado.

A fintech criou dois tipos de plano de conta protegida. Uma custa 3,50 reais por mês e inclui cobertura de até 5 mil reais. A outra de 5 reais mensais, indeniza até 10 mil reais em perdas.

Segundo o vice-presidente do Mercado Pago, Tulio Oliveira, a fintech foi consultada por alguns clientes sobre esse tipo de seguro, após o isolamento social provocado pelo pandemia ter acelerado a digitalização das transações financeiras no Brasil.

Pessoas com vários aplicativos no celular que podem envolver pagamentos online reportaram temor de que, ao serem alvos de crime, pudessem ser obrigadas a fazer várias transações de uma vez, contou Oliveira. Para evitar esse risco, algumas estariam espalhando aplicativos em diferentes smartphones.

A gente tem bem mapeado o comportamento dos nossos clientes e entendemos que esse seguro pode ajudar, disse o executivo.

O produto mostra como o Mercado Pago, lançado anos atrás para ser uma carteira digital do Mercado Livre, vem ampliando a prateleira de ofertas financeiras. A fintech desde ano passado já vende seguros de garantia estendida para produtos como eletroeletrônicos e para perda ou roubo de celular.

É hora de priorizar a saúde financeira dos funcionários

Fonte: Revista Cobertura / Autor: Felinto Sernache, líder da área de consultoria e soluções em previdência para a América Latina na ‎Willis Towers Watson

A crise global trouxe uma preocupação generalizada com o futuro, sobretudo financeiro. Se as empresas tiveram que rever seus gastos e segurar custos, não foi diferente para os funcionários. O endividamento, ou mesmo, a insegurança de conseguir arcar com as despesas mensais de uma família, é um dos principais motivos de stress para homens e mulheres. Por isso, é cada vez mais importante que as organizações aprendam a identificar meios de impulsionar e melhorar a vida do colaborador como um todo.

Atualmente, os programas de bem-estar mostram que é possível fazer muito mais do que depositar o salário na data certa para contribuir com a diminuição da vulnerabilidade financeira dos colaboradores. E não estou falando de benefícios que já são velhos conhecidos como a cesta básica de final de ano ou participação nos lucros.

Para começar, de forma resumida, o conceito de bem-estar financeiro se refere à capacidade do trabalhador de administrar adequadamente sua renda. Mas olhando um pouco mais além é preciso entender que isso envolve: o seu rendimento, a sua poupança, as suas dívidas, a sua expectativa de aposentadoria, o seu conhecimento sobre produtos e serviços financeiros, bem como a sua satisfação financeira, a comparação que faz com outros colegas e a cultura financeira da empresa.

Tendo isso como base, as companhias estão buscando soluções para melhorar como os funcionários lidam com o dinheiro. De acordo com uma pesquisa da Willis Towers Watson (WTW) realizada em abril deste ano, 42% das empresas afirmam oferecer aconselhamento financeiro individual sobre aspectos de curto prazo, 39% realizam webinars que instruam sobre diversas questões relacionadas a finanças que os empregados enfrentam e 30% promovem apoio personalizado à decisão financeira para despesas, empréstimos e poupança.

É preciso lembrar muitas empresas de que para melhorar a saúde financeira do trabalhador, é preciso proporcionar uma boa educação nesta área. Oferecer seminários e treinamentos em gestão de dinheiro e cursos de novas tecnologias relacionadas a finanças, é uma boa opção para quem está iniciando um programa com foco em bem-estar corporativo.

Outro ponto é que para conseguir ajudar, as organizações precisam se empenhar para entender a realidade de cada funcionário e o contexto familiar. Há funcionários que vivem uma situação prolongada de desconforto devido a dívidas de longo prazo, mas também existem aqueles que demonstram inquietação por um problema financeiro momentâneo causado por uma situação inesperada, aqueles que expressam preocupação com sua capacidade de lidar com a aposentadoria, e por fim os que estão despreocupados, mas deveriam olhar com mais atenção para o futuro financeiro.

Por isso, algumas empresas possuem algumas ações mais estratégicas. De acordo com a pesquisa, 12% das empresas planejam ainda em 2021 usar dados de RH para monitorar sinais de estresse financeiro por segmento de força de trabalho e pontos centrais de decisão financeira. O percentual ainda é baixo, mas mostra que de fato há um movimento em direção de programas muito mais direcionados estrategicamente. Além disso 18% querem até 2023 oferecer suporte para a tomada de decisão financeira da família e para melhorar a capacidade de resiliência diante dos problemas financeiros.

Por fim, o envolvimento da empresa na melhoria da saúde financeira de seus colaboradores é fundamental para que ambos obtenham benefícios de longo prazo. A sensação de ser valorizado pela organização por qual se trabalha aumenta a possibilidade de crescimento profissional, além de ampliar o valor do capital humano da companhia.

Conjuntura CNseg avalia retomada das economias mundiais

Publicação destaca desempenho positivo dos seguros em diversos segmentos e traz novas projeções para o setor

Fonte: CNseg

Projeções menos otimistas para a retomada da economia mundial, além dos efeitos das políticas econômicas adotadas no ápice da pandemia, são os destaques da edição da Conjuntura CNseg nº 54, publicação da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).

Na parte dedicada à conjuntura econômica, a avaliação é que, no primeiro semestre deste ano, a retomada das duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, influenciou projeções otimistas para o crescimento da economia global, com reflexos nos preços de ativos financeiros e das commodities negociadas internacionalmente. Porém, um dos primeiros sinais de que o otimismo inicial poderia ter sido um pouco exagerado foi a retomada de medidas restritivas à circulação e às atividades econômicas em diversas regiões do mundo, por conta da variante Delta do novo coronavírus. Ao mesmo tempo, continuam as discussões sobre os efeitos de longo prazo dos estímulos monetário e fiscal realizados durante o pior momento econômico da pandemia, se poderia alimentar aumentos de preços acima de níveis considerados razoáveis.

Em agosto, a divulgação de índices de preços acima do esperado em diversas economias tem contribuído para a crença de que a aceleração da inflação não terá caráter transitório. Caminhoneiros na Grã-Bretanha, portos dos EUA e semicondutores chineses que são base para produção de bens industrializados no mundo inteiro, afetando até a compra de carros novos no Brasil, são alguns exemplos de gargalos associados à pandemia que têm perdurado mais que o esperado, mantendo a inflação ao consumidor alta.

Apesar da visão menos otimista na economia global, o setor segurador brasileiro continua apresentando bom desempenho, encerrando o sétimo mês do ano com crescimento acumulado de 16,8% (sem Saúde e DPVAT), comparado ao mesmo período do ano anterior. O setor movimentou mais de R$ 172 bilhões em prêmios de seguros, contribuições de planos de previdência e faturamento de capitalização. Em julho, o montante de R$ 27,4 bilhões (sem Saúde e DPVAT) foi 3,2% maior do que o mesmo mês em 2020. Após o movimento de forte recuperação a partir de março/2021, os diversos segmentos do setor de seguros mostram uma trajetória de estabilidade.

Projeções para 2021

O bom desempenho no primeiro semestre elevou os percentuais de projeção do setor de seguros, que deve encerrar o ano com crescimento entre 8,5% e 16,3%, de acordo com a publicação. Para o segmento de Danos e Responsabilidades (sem DPVAT) a perspectiva é de que a evolução gire em torno de 11,1% a 18,2%. Em Cobertura de Pessoas, cujos grupos e ramos de seguros responderam de forma heterogênea à crise em 2020, a previsão é de que o segmento apresente crescimento de 9,4% no cenário pessimista e de 13,7% no cenário otimista. Na Saúde Suplementar, a expectativa é fechar entre 7,4% e 10,6%. Por último, a projeção para os Títulos de Capitalização também apresentou significativa melhora em relação à divulgação anterior em razão do bom desempenho no primeiro trimestre. Assim, a perspectiva é de que o segmento cresça de 4,7% a 10,8% no ano.

O Brasil não acordou para o potencial da bioeconomia

Fonte: Dinheiro Rural

Com 70 milhões de hectares cultivados e um Valor Bruto de Produção projetado de US$ 1 trilhão em 2021, o brasileiro tem que lutar diuturnamente com a pecha de vilão do meio ambiente. Isso, afirma o presidente a Embrapa, Celso Moretti, a despeito de adotar práticas sustentáveis únicas no mundo. Entre elas o plantio direto e o modelo Integração Lavoura-Pasto-Floresta (ILPF). Ainda assim, para o executivo, há falhas como a miopia sobre a economia de baixo carbono e a falta de comunicação do setor com o mundo externo. Durante muitos anos, falávamos só para o rural. Só que é fácil pregar para convertido. Temos que falar com o público urbano nacional e internacional, disse à RURAL.

RURAL / Durante visita ao Brasil, o presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), Alok Sharma, esteve na sede da Embrapa. Como foi o encontro?

Celso Moretti / Mais positivo, impossível. Foi uma fantástica oportunidade de mostrar ao presidente Alok Sharma e ao embaixador do Reino Unido no Brasil, Peter Wilson, o mundo real do agronegócio, um setor que alimenta 800 milhões de pessoas, exporta para 180 países e ainda preserva quase dois terços do território.

Que assuntos nortearam a conversa?

Comecei explicando sobre os seis biomas brasileiros com ênfase à informação de que a Amazônia não é um vazio demográfico como imaginam. Falamos também da história da agropecuária brasileira nas últimas cinco décadas, entrando em temas como tecnologia, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio. Eles não conhecem o Brasil.

Falta ao País educar o mundo sobre o agro nacional?

O mundo e o brasileiro. Essa é uma mudança estratégica que estamos fazendo na comunicação da Embrapa. Durante muitos anos, falávamos só para o rural. Só que é fácil pregar para o convertido. Temos que falar com o público urbano nacional e internacional. Temos que mostrar que a ciência está no café-da-manhã, no almoço e no jantar das pessoas. Do pãozinho que tem o trigo desenvolvido com tecnologia da Embrapa até a alface que foi adaptada aos trópicos.

O uso do digital esbarra no fato de que hoje somente 30% das propriedades têm internet.

Mesmo com todas as tecnologias sustentáveis desenvolvidas pela Embrapa, o uso da terra continua sendo a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa do Brasil. O que é preciso fazer para o agro passar a sequestrar carbono?

O Brasil já avançou bastante nos últimos anos. Hoje, dos 70 milhões de hectares cultivados, 50% já adotam o sistema de plantio direto, o que mantém o carbono no solo. Já ao se calcular o impacto da fixação biológica do nitrogênio, considerando apenas o cultivo da soja, chegamos a uma economia de mais de 100 milhões de CO2 equivalente (quantidade de GEE em termos equivalentes da quantidade de carbono) no ano passado. Ainda temos a Integração Lavoura-Pasto- Floresta (ILPF), a carne carbono neutro e outras. O que falta é aumentar a capacidade de levar a tecnologia de forma mais rápida aos pequenos produtores e incluí-los neste novo modelo produtivo. A inclusão produtiva é uma das frentes estratégicas da Embrapa.

Qual a situação da exclusão no campo?

Em 1991, o Brasil deixou o agro manco da perna da assistência técnica e extensão rural quando acabou com o Sistema Embrater. Se imaginarmos que 85% das propriedades são de pequenos produtores, fica fácil inferir que existe uma parcela grande que está fora do processo tecnológico.

Como o setor e a própria sociedade podem se articular para acelerar essa inclusão produtiva?

De fato só conseguiremos avançar na inclusão com a participação dos diversos atores. Desde as secretarias de agricultura municipais, passando pelas estaduais, pela Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), universidades, o Sistema S, a Embrapa e o setor privado. Lá fora, impressiona ver o quanto o setor privado participa do financiamento da indústria. Eles têm um sentimento de orgulho atrelado ao campo. Infelizmente, a gente não vê isso acontecer no Brasil.

Financiamento é um problema no Brasil?

De certa forma. Nos Estados Unidos, por exemplo, os próprios produtores criam fundos para financiar desenvolvimento de tecnologias em entidades e universidades. Eles trabalham juntos nos problemas.

Qual seria o maior desafio da inclusão? Falta de informação, de recursos ou de estrutura?

Realmente precisamos de investimento robusto e de uma organização dos atores, mas tem outro ponto: o uso do digital esbarra no fato de que hoje somente 30% das propriedades têm internet. Se não melhorarmos a conectividade no campo, não vamos chegar às 6 milhões de propriedades rurais que temos no Brasil.

No desafio imposto pelo ESG (ambiental, social e de governança), a agropecuária está sob escrutínio por estar associada à expansão de áreas de biomas nativos. É possível construirmos um modelo de desenvolvimento sustentável?

Apesar de algumas iniciativas, o Brasil não acordou para o potencial da bioeconomia. Temos 25% das espécies de fauna e flora do mundo. Só na Amazônia temos um estoque de microrganismos que ainda nem conhecemos e que podem ser a solução para vários problemas, inclusive do agro.

Temos exemplos na Embrapa?

Vários. Um deles é o biofertilizante chamado BiomaPhos. Na busca da solução para corrigir a carência de fósforo no solo brasileiro (hoje importamos mais de 80% da demanda), nossos pesquisadores encontraram duas bactérias do gênero Bacillus que atuam em dobradinha, uma no solo e a outra na planta, liberando o fósforo que está preso no solo para a planta absorver. Na safra 2019/20, esse biofertilizante foi utilizado em 300 mil hectares de milho e soja. Na safra 2020/21, em 1,5 milhão de hectares e na 21/22 a perspectiva é que chegue a 4 milhões de hectares. Nós avaliamos 238 áreas de produção de soja e o ganho líquido foi de 4 sacas/ha.

A Embrapa é uma ilha de excelência em um país que despreza a ciência em termos de financiamento e retenção de pesquisadores. Como a iniciativa privada pode suprir esse vazio?

O primeiro ponto é avaliar os resultados. Ao longo dos 48 anos da Embrapa mostramos que dá certo. Quando a gente mostra a economia associada ao uso de fertilizantes à base de nitrogênio, ou o quanto o zoneamento de risco climático pode evitar em desperdício de recursos para o Brasil, damos uma prova inequívoca de que vale investir no agronegócio nacional. E aí retomo o ponto que não temos essa visão no País. Já ouvi de empresários que eles já pagam muitos impostos, então se negam a financiar pesquisa porque acreditam que cabe somente ao governo este papel. O governo já faz um investimento de mais de R$ 3 bilhões na Embrapa para oferecer uma organização pronta para que a iniciativa privada use e ajude a financiar. Grandes marcas já estão conosco nessa jornada, mas tem espaço para mais.

Quando falamos em economia verde, o Brasil está sendo tachado de vilão. Os Estados Unidos estão na lista dos que mais atacam, mas há um documento produzido pelo agronegócio americano (Farms Here, Forest There) que alerta o governo sobre os impactos negativos da expansão brasileira. Como conciliar interesses?

Isso é do jogo. Os produtores americanos vão defender que os Estados Unidos sejam os grandes provedores de alimentos do mundo. Do nosso lado, temos que mostrar que nós produzimos mais e melhor do que qualquer outro país. E fazemos isso com sustentabilidade e com tecnologia. Hoje alimentamos 800 milhões de pessoas, com uma produção de mais de 260 milhões de toneladas de grãos (safra passada). Em cinco anos, a produção brasileira de grãos vai passar para 300 milhões, sem a necessidade de derrubar a floresta Amazônica ou a Mata Atlântica. Vamos fazer isso incorporando passagens degradadas e melhorando a produtividade nas propriedades rurais com agricultura de baixo carbono.

A população mundial passará de 7 milhões para 10 milhões de pessoas em 30 anos. Como garantir o Brasil como o principal provedor de alimentos?

Temos que atuar em duas frentes. Aumentar a produtividade e a eficiência, são juntas uma delas, e já estamos fazendo isso. Há 15 anos, a soja colhia cerca de 2 milhões de toneladas por hectare. Hoje, chega a 6 milhões. Devemos ter também um salto de produtividade com um trigo tropical desenvolvido pela Embrapa. De nossa demanda de 12 milhões de toneladas, produzimos somente metade em 2,3 milhões de hectares. A média de produtividade no Sul é de 2,9 toneladas. Já no Cerrado está chegando a 8 toneladas/ha graças à tecnologia. Não tem outro lugar do mundo com produção deste cereal em área tropical. Em cinco anos a produção brasileira de grãos vai passar para 300 milhões.

E a outra?

Aumento de produção. Vamos produzir mais. Temos no Brasil 90 milhões de hectares de pastagens com algum grau de degradação. Isso é 11% do território brasileiro. A nossa contribuição para alimentação global passará de 12% para 20% usando áreas já abertas, ou seja, sem avançar nas florestas.

Qual será o papel da agricultura nacional na economia de baixo carbono?

No Brasil estamos no segundo ciclo do Programa de Agricultura de Baixo Carbono e temos sete programas nessa linha. Entre eles estão o sistema ILPF, plantio direto, florestas plantadas, tratamento de dejetos de animais, entre outros. Se há um setor econômico de um país que pode afirmar de forma assertiva que está fazendo a descarbonização é o agro brasileiro.

Mas há um problema que foge a este cenário que são os ilegais que se beneficiam de um mercado interno que não consegue pagar pelo prêmio dos produtos sustentáveis.

A questão do problema social em que vivemos e da nossa incapacidade de fiscalizar são problemas postos. A solução é gerar renda e, em alguns casos, distribuir renda. Do ponto de vista de uma empresa de tecnologia e ciência, o que estamos fazendo é buscar soluções que sirvam aos pequenos, médios e grandes produtores.

O 1º choque de energia da era verde

Fonte: Estadão

No próximo mês, líderes de todo o mundo vão se reunir na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-26), dizendo o que pretendem fazer para zerar as emissões globais líquidas de carbono até 2050. À medida que se preparam para se comprometer com suas partes nesse esforço de 30 anos, a primeira grande ameaça da energia da era verde se revela diante dos olhos deles. Desde maio, o preço de uma cesta de petróleo, carvão e gás aumentou 95%. A Grã-Bretanha, anfitriã da cúpula, reativou suas usinas a carvão, os preços da gasolina americana chegaram a US$ 3 o galão, apagões atingiram a China e a Índia e Vladimir Putin acaba de lembrar à Europa que seu abastecimento de combustível depende da boa vontade russa.

O pânico é um lembrete de que a vida moderna precisa de energia abundante: sem ela, as contas se tornam caras demais, as casas congelam e os negócios ficam estagnados. O pânico também expôs problemas mais profundos conforme o mundo muda para um sistema de energia menos poluente, incluindo investimento inadequado em energias renováveis e combustíveis fósseis de transição, riscos geopolíticos crescentes e amortecedores de segurança frágeis nos mercados de energia. Sem mudanças rápidas, haverá mais crises de energia e, talvez, uma revolta contra as políticas climáticas.

A ideia de tal escassez parecia ridícula em 2020, quando a demanda global caiu 5%, a maior redução desde a Segunda Guerra, provocando cortes de custos no setor de energia. Mas, com a recuperação da economia, a demanda aumentou, mesmo com os estoques ficando perigosamente baixos. Reservas de petróleo estão em apenas 94% de seu nível habitual, os de gás europeu estão em 86% e os de carvão indiano e chinês estão abaixo de 50%.

O mundo talvez ainda escape de uma grave recessão de energia: os pequenos problemas podem ser resolvidos, e a Rússia e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) talvez aumentem a contragosto a produção de petróleo e gás. No mínimo, porém, o custo será inflação mais alta e crescimento mais lento.

Três problemas são motivos de preocupação. Em primeiro lugar, o investimento em energia está funcionando na metade do necessário para alcançar a ambição de atingir o valor líquido de zero até 2050.

Os gastos com energias renováveis precisam aumentar. E a oferta e a demanda de combustíveis fósseis poluentes precisam ser reduzidas em conjunto. Os combustíveis fósseis atendem a 83% da demanda primária. A combinação deve passar do carvão e do petróleo para o gás, que tem menos da metade das emissões do carvão. As ameaças legais, a pressão dos investidores e o medo das regulamentações levaram o investimento em combustíveis fósseis a cair 40% desde 2015.

O gás pode causar problemas. Muitos países, principalmente na Ásia, precisam de um combustível para usar na transição. Além de usar gasodutos, a maioria importa gás natural liquefeito (GNL). Pouquíssimos projetos estão entrando em operação. Segundo a Bernstein, empresa de pesquisa, o déficit global de GNL em relação à demanda pode subir dos atuais 2% para 14% em 2030.

O segundo problema é a geopolítica: as democracias ricas abriram mão da produção de combustíveis fósseis e o abastecimento mudou para autocracias com menos escrúpulos e custos mais baixos, incluindo a administrada por Putin.

A cota da produção de petróleo da Opep mais a Rússia talvez aumente dos atuais 46% para 50%, ou mais, até 2030. A Rússia é a fonte de 41% do gás importado pela Europa e sua influência crescerá quando inaugurar o gasoduto Nord Stream 2 e conquistar mercados na Ásia.

O último problema é o projeto falho dos mercados de energia. A desregulamentação desde os anos 1990 fez com que muitos países passassem de estatais decrépitas para sistemas privados nos quais os preços da eletricidade e do gás são definidos pelos mercados, oferecidos por fornecedores concorrentes que aumentam a oferta se os preços disparam. Mas eles estão tendo dificuldade de lidar com a nova realidade de queda na produção de combustíveis fósseis, fornecedores autocráticos e uma parcela crescente de energia solar e eólica intermitente. Assim como o Lehman Brothers dependeu de empréstimos de um dia para o outro, algumas empresas de energia garantem fornecimentos para famílias e empresas que compram em um mercado à vista não confiável.

O perigo é de que o abalo diminua o ritmo da mudança. Esta semana, Li Keqiang, o primeiro-ministro da China, disse que a transição energética deve ser segura e com um bom ritmo, um código para usar o carvão por mais tempo. A opinião pública no Ocidente, inclusive nos Estados Unidos, apoia a energia limpa, mas pode mudar conforme os preços altos surjam.

Os governos precisam responder reformulando os mercados de energia. Amortecedores de segurança maiores devem absorver a escassez e lidar com a intermitência da energia renovável. Os fornecedores de energia deveriam manter mais reservas, assim como os bancos estocam capital. Os governos podem convidar as empresas para licitar contratos apoiados em fornecimento de energia.

A maioria das reservas será de gás, mas, em algum momento, tecnologias de bateria e de hidrogênio podem assumir o controle. Mais usinas nucleares, a captura e o armazenamento de dióxido de carbono, ou ambos, são vitais para fornecer energia limpa e confiável.

Uma oferta mais diversificada pode enfraquecer o domínio de países autocráticos ricos em petróleo, como a Rússia. Hoje, isso significa intensificar os negócios de GNL. Com o tempo, isso exigirá mais comércio global de eletricidade. Hoje, apenas 4% da eletricidade nos países ricos é comercializada internacionalmente, em comparação com 24% do gás global e 46% do petróleo. Construir redes submarinas é parte da resposta, e converter energia limpa em hidrogênio e transportá-lo em navios também pode ajudar.

Tudo isso exigirá que os gastos de capital em energia mais do que dobrem para US$ 4 trilhões a US$ 5 trilhões por ano. Da perspectiva dos investidores, a política é difícil de entender. Muitos países têm metas de zerar as emissões líquidas, mas nenhum plano de como conseguir isso e ainda não combinaram com o público que as contas e os impostos precisam aumentar. Um banquete móvel de subsídios para energias renováveis e obstáculos regulatórios e legais tornam o investimento em projetos de combustíveis fósseis arriscado.

A resposta ideal é um preço global do carbono que reduza implacavelmente as emissões, ajude as empresas a julgar quais projetos gerariam dinheiro e aumente as receitas fiscais para apoiar os perdedores da transição energética. No entanto, os esquemas de preços cobrem apenas um quinto de todas as emissões. Os líderes na COP-26 devem ir além das promessas e lidar com as letras miúdas de como a transição funcionará. Ainda mais se eles se reunirem sob lâmpadas movidas a carvão.

Entidades de caminhoneiros propõem greve em 1º de novembro

Fonte: Forbes

Três entidades nacionais de trabalhadores vinculados ao setor de transporte de cargas anunciaram que decidiram decretar estado de greve e que vão iniciar greve nacional a partir de 1º de novembro se o governo federal não atender reivindicações que remontam à paralisação dos caminhoneiros em 2018.

A decisão foi tomada durante encontro no Rio de Janeiro que reuniu as entidades CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), vinculada à CUT (Central Única dos Trabalhadores); CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas) e Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), segundo comunicado enviado à imprensa na noite de ontem (16).

As três entidades já fizeram outras convocações de greve nacional dos caminhoneiros, incluindo em fevereiro e julho deste ano, mas com a categoria dividida entre grupos que apoiam e são contra o governo de Jair Bolsonaro os protestos não chegaram ao nível de mobilização de 2018 em que o país parou por mais de 10 dias.

A situação é que nenhuma das reinvindicações acordadas na ocasião da paralisação de 2018 foram atendidas, afirmou no comunicado o presidente da Frente Parlamentar Mista dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, deputado Nereu Crispim (PSL-RS).

Entre as reivindicações da categoria estava a aplicação efetiva da chamada tabela de fretes mínimos. O assunto está parado no STF (Supremo Tribunal Federal) desde que o governo de Michel Temer cedeu à pressão dos caminhoneiros em 2018, aceitando a criação de um piso mínimo obrigatório de fretes para os caminhoneiros autônomos, algo que levou entidades transportadoras do setor privado a questionar a legalidade do mecanismo na Justiça.

O governo federal tem afirmado que está aberto ao diálogo com os caminhoneiros e tem feito uma série de concessões paliativas aos motoristas, como incluí-los como grupo prioritário de vacinação contra a Covid-19.

Mas uma das principais queixas dos motoristas é justamente o custo do combustível, reajustado para cima seguidas vezes nos últimos meses pela Petrobras. O preço médio do diesel no país acumula alta de mais de 50% neste ano.

No final de setembro, a Petrobras anunciou aumento de 9% no preço médio do diesel vendido em suas refinarias, após 85 dias de estabilidade. A Ticket Log calculou na semana passada que o preço médio do diesel comum nos postos do Brasil subiu 5,55% na primeira quinzena de outubro ante o fechamento de setembro, para R$ 5,203 por litro. O valor representa avanço de 41% sobre a média registrada em outubro de 2020, segundo a empresa.

A Câmara dos Deputados aprovou na semana passada projeto que torna fixo o ICMS incidente sobre os combustíveis, uma proposta defendida por Bolsonaro, mas que não conta com apoio de boa parte dos governadores, que calculam que perderão R$ 24 bilhões em arrecadação. O texto vai ser analisado pelo Senado.

Preocupação dos jovens brasileiros: inflação alta e desemprego

Fonte: Estadão

Apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022 está fora de cogitação para 45% dos eleitores entre 16 e 34 anos, segundo pesquisa do Ipec. Eles afirmaram preferir votar em qualquer outro candidato, independentemente de suas convicções partidárias. E os motivos não são apenas ideológicos, mas também econômicos. Aliadas aos efeitos da pandemia do mortal coronavírus, a inflação alta e a dificuldade em conseguir um emprego explicam a rejeição entre os jovens medida pela pesquisa.

Antes do governo Bolsonaro, nunca precisei deixar de comer alguma coisa pelo preço. Nunca vi os alimentos tão caros, disse a analista de transportes Gisele Caires, de 31 anos, ao explicar por que se arrependeu do voto em 2018. Assim como ela, 28% dos jovens que escolheram Bolsonaro se disseram arrependidos. E a inflação é o motivo para quase um terço deles.

Obtida pelo Estadão, pesquisa encomendada pela Fundação Tide Setubal e pela Avaaz confirma o que outros levantamentos já apontavam sobre a percepção dos jovens. Segundo o Ipec, a fração de eleitores de Bolsonaro na faixa etária pesquisada não passa de 24%, porcentual inferior ao obtido na eleição passada, quando 31% disseram ter votado no atual presidente.

O locutor Felipe Tellis, de 29 anos, sente as mesmas dificuldades de Gisele. A percepção de menor poder de compra, refeições que não têm mais carne e o espanto de ver famílias inteiras morando nas ruas. É impossível que haja um candidato que me represente menos, afirmou.

Tellis também citou declarações consideradas machistas, racistas e homofóbicas de Bolsonaro, além de sua postura na pandemia, como fatores para optar por qualquer outro nome em eventual segundo turno em 2022. Ele me fez achar o (João) Doria um bom gestor.

As respostas obtidas pela pesquisa exemplificam, segundo o cientista político Marcio Black, as preocupações dos jovens em relação ao futuro. Eles têm a vida toda pela frente e estão vendo uma série de barreiras à sua trajetória em função das decisões do governo. A inflação e o desemprego são problemas que interrompem um ciclo de desenvolvimento. No caso dos jovens mais carentes, a pandemia ainda os tirou da escola e os deixou mais atrasados, ressaltou o coordenador do Programa de Democracia e Cidadania Ativa da Fundação Tide Setubal.

A má gestão da economia é uma das grandes inabilidades do governo e está entre as que mais afetam a opinião da juventude, segundo a coordenadora de campanhas sênior da Avaaz, Nana Queiroz. Imagine entrar no mercado de trabalho num momento de recordes de desemprego e inflação como este? Quando vemos o perfil das pessoas que estão morando nas ruas e em situação de miséria, vemos famílias, crianças e jovens.

Desinteresse

A desesperança ajuda a explicar ainda a falta de interesse dos jovens no processo eleitoral. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o número de eleitores com idade entre 16 e 17 anos diminuiu de 2,3 milhões, em 2016, para pouco mais de 1 milhão nas eleições municipais de 2020.

O momento também faz com que uma parcela dos jovens já cogite voto em branco ou nulo. O estudante João Pedro Branquinho, de 19 anos, está nesse grupo. Para ele, anular o voto é uma forma de simbolizar sua frustração com o sistema político. Não acredito mais que votar em um candidato, mesmo que tenha um viés com o qual me identifique, vá proporcionar as mudanças que defendo, afirmou.

Na China, headhunters vão retomar técnicas do passado

Fonte: Folha SP

A desativação do LinkedIn na China, anunciada pela Microsoft na semana passada, vai ter reflexos no trabalho das empresas de recrutamento brasileiras que usam a rede social como ferramenta.

A plataforma era acessada para mapear mercados em regiões de alto interesse corporativo como Xangai e Pequim, segundo Isis Borges, diretora do Talenses Group.

Via LinkedIn, descobrimos como as empresas de lá são organizadas, onde estão e o porte delas, afirma.

Além de ajudar os headhunters a compreender o perfil das companhias locais, a rede também facilitava o contato direto com profissionais estrangeiros e chineses no país. Vamos voltar para a velha técnica de fazer ligações e pedidos de indicações, diz Borges.

Por outro lado, ela prevê que a mudança ajude a valorizar o trabalho dos recrutadores, uma vez que, sem o LinkedIn, os profissionais têm o networking construído longo da carreira.

Por que o preço do petróleo dispara no mundo todo?

Fonte: BBCNews

O preço do barril de petróleo do tipo WTI ultrapassou US$80 (R$ 436) na última segunda-feira (11/10), foi a primeira vez em quase oito anos.

A cotação do West Texas Intermediate (WTI), tipo de petróleo cru que serve como referência de preço nos EUA, fechou a US$ 80,52, confirmando a trajetória de alta que vem registrando há meses.

A pandemia covid-19 e as medidas de restrição à circulação adotadas em diversos países para fazer frente ao novo coronavírus derrubaram os preços. Há apenas um ano, o WTI custava apenas US$ 40.

Com o fim da pandemia se aproximando, contudo, os preços dispararam. O que está por trás desse aumento significativo?

A resposta a essa pergunta, segundo os especialistas, inclui não apenas fatores tradicionais, como o desempenho dos países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), ou conjunturais, como a pandemia, mas também uma nova estratégia das empresas produtoras de petróleo nos Estados Unidos.

Demanda reativada, fornecimento controlado

Há uma grande correlação entre a situação de pandemia e o aumento dos preços do petróleo, diz Mark Finley, pesquisador especializado em energia e petróleo da Rice University, nos EUA.

O especialista explica que, assim como em 2020 houve uma forte ligação entre a pandemia e a queda do preço do petróleo, neste ano a recuperação influenciou tanto a demanda quanto a oferta de petróleo.

Esse é o principal fator. Do lado da demanda, estamos vendo uma reativação da economia e da mobilidade após o impacto da covid-19, então após termos experimentado a maior queda registrada no ano passado na demanda por petróleo, este ano nós provavelmente registraremos o maior aumento, afirma.

Do lado da oferta, há uma combinação de cortes de produção pela Opep e por outros produtores, como a Rússia (que faz parte do que hoje é conhecido como Opep+), e uma queda na produção nos Estados Unidos e em outros lugares devido aos baixos preços que registraram o barril no ano passado, acrescenta Finley.

A Opep, a Rússia e outros produtores mantêm um acordo para aumentar progressivamente a oferta com o objetivo de eliminar os cortes de produção que aplicaram para fazer frente à queda da demanda devido à pandemia.

Esses aumentos, no entanto, não são automáticos, uma vez que os países reúnem mensalmente para avaliar o mercado e decidir sobre sua aplicação.

A estratégia inusitada dos produtores americanos

Um elemento novo que tem contribuído para o aumento do preço do petróleo bruto é a restrição também por produtores de petróleo nos Estados Unidos.

Esta é uma estratégia incomum para essas empresas, que costumavam aumentar a produção sempre que os preços do petróleo eram favoráveis.

Uma das histórias surpreendentes no mercado de petróleo este ano é que os produtores nos Estados Unidos foram muito disciplinados e não responderam ao aumento dos preços com um aumento drástico na extração de petróleo, diz Finley.

Houve um aumento, mas não está nem remotamente perto de onde estava antes da pandemia, quando, aliás, os preços estavam mais baixos do que agora. Foi uma grande mudança, acrescenta.

De acordo com dados da Baker Hughes, que presta serviços para o setor de óleo e gás, houve cerca de 533 perfurações operacionais nos Estados Unidos na semana passada, o que representa um aumento de 233 em relação a um ano atrás, mas muito menos do que os 1.580 que estavam ativos da última vez que o petróleo atingiu esses preços em outubro de 2014.

Os Estados Unidos têm grande capacidade de aumentar sua produção rapidamente por meio da exploração do petróleo de xisto, cujos poços podem entrar em operação em um curto espaço de tempo e que não requerem grandes investimentos de longo prazo.

Atualmente, cerca de 65% da produção dos EUA é de petróleo de xisto, de acordo com dados do governo americano.

Normalmente, sempre que os preços do petróleo aumentem substancialmente, os produtores de xisto aumentam a extração. Mas desta vez isso não aconteceu. Por quê?

É principalmente por causa dos investidores, diz Mark Finley. Há 10 anos essas empresas crescem rapidamente, mas sem dar muito dinheiro aos seus investidores, que agora estão mais cautelosos e exigem que, em vez de reinvestir os lucros na abertura de mais poços e aumento da produção, as empresas utilizem os recursos de uma forma mais astuta para que possam ter lucro, explica.

A desaceleração econômica causada pela pandemia de covid-19 atingiu duramente muitas empresas de petróleo nos Estados Unidos, onde o petróleo WTI chegou a ser negociado a preços negativos. Em outras palavras, as empresas tiveram que contratar terceiros para cuidar do petróleo e não precisar armazená-lo.

Isso nunca aconteceu antes e é em parte responsável pela cautela [no mercado]. Acho que isso teve um impacto. Pode ser um dos motivos pelos quais os investidores mudaram sua atitude dessa forma, diz Finley.

Com essa estratégia, a indústria de petróleo de xisto dos Estados Unidos provavelmente alcançará os melhores resultados financeiros de sua história neste ano, acrescenta.

Assim, a contenção da produção beneficia não só os países da Opep e seus aliados, mas também as empresas americanas.

Pressões inflacionárias

A rápida recuperação da demanda após a paralisação da atividade causada pela pandemia levou a uma situação econômica complexa.

Os problemas na cadeia de abastecimento e o aumento dos preços das matérias-primas estão levando a uma relativa escassez de certos tipos de produtos, o que alimenta as pressões inflacionárias O aumento do preço do petróleo bruto se soma a tudo isso.

O aumento do preço do petróleo contribui para o aumento da inflação porque o petróleo é matéria-prima de muitos produtos, principalmente da gasolina e do diesel, que é um combustível para transporte, mas também é usado em muitos casos como combustível para geração de eletricidade diz José Valera, advogado e especialista em petróleo do escritório de advocacia Mayor Brown, em Houston (Texas), nos EUA.

Além disso, o petróleo também é um insumo da indústria petroquímica, onde é utilizado na fabricação de plásticos e outros produtos, acrescenta.

Nos Estados Unidos, os motoristas já estão sentindo o impacto do aumento do preço da gasolina, pois estão pagando cerca de 40% a mais por litro do que há um ano. No Brasil, os preços estão ainda mais altos devido à desvalorização do real ante ao dólar.

Valera explica que, à medida que o preço do petróleo sobe, aumenta o custo de produção da gasolina e do diesel, o que se traduz em custos mais elevados para os produtores e transportadores. Esses custos acabam sendo repassados ao consumidor, com aumento de preços.

Os produtores e transportadores precisam recuperar esses custos mais elevados para continuar mantendo suas margens de lucro e, assim, poder sustentar a perenidade do seu próprio negócio, afirma.

Valera vê perspectivas de que o valor do barril de petróleo continue subindo ou, pelo menos, não caia substancialmente em relação aos níveis atuais.

A recuperação da economia após o impacto da pandemia está se manifestando com um crescimento bastante sustentado na maioria dos países do mundo, que, como vemos agora, se traduz em aumento do consumo de energia e combustíveis, o que significa maior demanda por petróleo. Mas a produção não vai necessariamente aumentar na mesma proporção, alerta.

O desafio da mudança climática

José Valera afirma que, além da estratégia da Opep e de outros países de limitar a produção de petróleo, há outro fator que limita a produção: o fato de muitas petroleiras investirem menos em petróleo para investir mais em energia e combustíveis renováveis.

Longe de ser resultado de boas intenções, a mudança acontece porque as sociedades ao redor do mundo estão pressionando as empresas a fazer essa transição, especialmente na Europa, diz Mark Finley.

Empresas como a Shell, Total ou BP estão tentando colocar mais recursos em novas formas de energia. Algumas empresas americanas como a Chevron e a ExxonMobil também disseram que estão procurando maneiras de reduzir as emissões de dióxido de carbono de suas operações, disse ele.

Finley destaca que o aumento do preço do petróleo bruto ocorre em um contexto de aumento do custo do carvão e da eletricidade em muitos lugares.

Parte do que acontece é que houve uma adaptação do panorama energético tradicional e é importante lembrar que, embora todos queiram caminhar em direção a um futuro de baixo consumo de combustíveis fósseis, eles ainda fornecem 85% da demanda mundial de energia, afirma.

O principal desafio para nós como sociedade, para a política e para as empresas é como continuar a fornecer energia confiável e acessível para manter a economia funcionando hoje, enquanto, ao mesmo tempo, investe e planeja a transição para um futuro com baixo consumo de combustível fóssil, afirma Finley.

Há uma coisa que ficou clara com pandemia de covid-19. No ano passado, vimos a maior queda nas emissões de CO² da história, mas ninguém quer repetir essa experiência porque foi impulsionada pela maior queda na economia mundial desde a Segunda Guerra. Essa não é a melhor maneira de reduzir o CO², conclui.

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